Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Análise Bibliométrica acerca de publicações relacionadas à saúde de profissionais da saúde no cenário pandêmico
Felipe Pereira Lobato Mendes, Michelle Plubins Bulkool, Larissa Santiago de Freitas, Henrique de Araújo Martins, Alessandra Aniceto Ferreira de Figueirêdo, Aline Vilhena Lisboa, Breno de Oliveira Ferreira, Thiago Gomes de Lima

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Em dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde recebeu um alerta a respeito  de um vírus nunca antes visto em seres humanos, observado na cidade de Wuhan, na China. Uma quantidade elevada de casos de pneumonia na mesma região chamou atenção das  autoridades. Apenas uma semana depois, em janeiro de 2020, a doença denominada COVID-19 já era a segunda principal causa de resfriado em todo o mundo e, ainda naquele mês, a OMS declarou que o surto de COVID-19 se tratava de uma Emergência de Saúde Pública, adquirindo o nível máximo de alerta de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional. Cinco meses após, o  número de infectados atingiu patamares nunca verificados na história contemporânea, com milhares de vidas perdidas. Em junho de 2020, o Brasil já somava mais de 1,1 milhão de casos  da doença, com mais de 50 mil mortes. Já em dezembro de 2021, aproximadamente 22 milhões de pessoas  foram infectadas no país, com mais de 600 mil mortes. Imerso nesse cenário desafiador encontra-se o profissional de saúde, na linha de frente, diante do risco de contrair a doença para cuidar do outro. O bem-estar dessas pessoas foi afetado muito além da condição física, atingindo também questões sociais, intelectuais, emocionais e espirituais, com consequências repercutindo em todos esses aspectos. Em contrapartida, deve-se levar em conta que a força de trabalho em saúde não é homogênea, apresentando diversas variáveis, como: o curso de formação profissional, gênero, raça, classe social, questões trabalhistas e de vínculo, carga horária em serviço, entre outros. Dada a importância deste tema e a relevância do assunto, principalmente no cenário atual,  muitos pesquisadores têm direcionado seus estudos para problemáticas relacionadas às condições de trabalho de profissionais de saúde durante a pandemia. Portanto, a pesquisa em questão tem como objetivo realizar uma análise bibliométrica acerca de publicações relacionadas à pandemia de COVID-19, em especial, às condições de saúde de profissionais que estão trabalhando na linha de frente no combate ao novo coronavírus, entre os anos de 2019 e 2021. O objetivo principal dessa abordagem é entender quais são os direcionamentos dessas publicações. Por se tratar de um novo vírus, é de se esperar que a maioria dos esforços de cuidado estivesse voltada ao desenvolvimento de  medidas preventivas à proliferação do estado de calamidade pública. Por outro lado, o SARS CoV-2, vírus causador da COVID-19, não trouxe apenas a doença, combatida por medidas farmacológicas e vacinas, mas proliferou diversos outros problemas de saúde, como a depressão e a ansiedade. Portanto, é essencial entender quais aspectos de saúde foram abordados nas publicações, além de entender qual é a relevância do Brasil frente ao resto do mundo nessas publicações. Para tal, foram utilizadas as bases de pesquisa Web Of Science (WoS), Scopus e Periódico Capes. No  primeiro momento, pesquisou-se trabalhos, utilizando os descritores  “pandemia” e “COVID-19”, totalizando 59.690 documentos na base Scopus, 107.546 na base WoS e 87.607 na base Periódicos Capes, demonstrando um grande volume de  estudos em apenas dois anos de pandemia. Quando se adicionou ao filtro o termo “Profissionais  de Saúde”, o volume reduziu drasticamente, demonstrando que essa não era a maior preocupação dos estudos realizados, totalizando 1.447 documentos na base Scopus, 1.002 na base WoS e 1.780 na base Periódicos Capes. Vale ressaltar que existe possibilidade de duplicidade de materiais em diferentes bases, então o total de publicações no período não pode ser definido como a simples soma dos resultados em cada uma das bases de conhecimento. Em um terceiro momento, utilizou-se os filtros avançados das bases WoS e Scopus, uma vez que não existe essa opção no Periódico Capes, para verificar a relevância quantitativa das produções brasileiras frente ao resto do mundo, totalizando 2.080 documentos na base Scopus e 3.990 na base WoS, para os filtros “pandemia” e “COVID-19”. Mais uma vez,  adicionou-se os termos “profissionais de saúde” como terceiro filtro, totalizando para as bases Scopus e WoS respectivamente 51 e 124 resultados. Comparando o volume de estudos desenvolvidos no Brasil com relação ao resto do mundo, na base Scopus, os  conteúdos nacionais representam 4% do volume mundial. Já para a base WoS,  representam 5% da totalidade. O momento seguinte da pesquisa teve como foco analisar os aspectos da saúde mais abordados em ambas as bases de conhecimento. É importante ressaltar que em uma  mesma publicação pode-se encontrar mais de um aspecto abordado e, por isso, o total ultrapassa o número de publicações. O ranking de frequência de abordagem de cada um dos aspectos seguiu a mesma ordem para ambas as bases de pesquisa, com o aspecto social em primeiro  lugar (Scopus: 60% mundo e 57% Brasil; WoS: 31% mundo e 31% Brasil), aspecto físico em  segundo (Scopus: 28% mundo e 32% Brasil; WoS: 14% mundo e 12% Brasil), aspecto emocional em terceiro (Scopus: 17% mundo e 11% Brasil; WoS: 8% mundo e 8% Brasil), aspecto espiritual  em quarto (Scopus: 4% mundo e 3% Brasil; WoS: 1% mundo e 1% Brasil) e aspecto intelectual em quinto lugar (Scopus: 3% mundo e 1% Brasil; WoS: nenhuma aparição no mundo). O aspecto social se destaca como principal tema abordado em uma realidade na qual foi necessário desenvolver medidas de restrição de circulação e redução do contato físico entre as pessoas, inclusive membros de uma mesma família, principalmente se tratando de profissionais de saúde, para prevenir o contágio da doença e reduzir perdas e mortes. O aspecto físico também se apresenta nos materiais analisados, havendo mais ênfase deste nos estudos nacionais do que nas produções internacionais. Esses materiais têm como foco a infecção pelo novo coronavírus em profissionais de saúde, mas também discussões sobre alterações alimentares, prática ou ausência de exercícios físicos, busca por exames e serviços de saúde e desenvolvimento de outras patologias associadas. As pesquisas trouxeram, ainda, temas relacionados ao aspecto emocional, destacando estado emocional/psíquico desses profissionais, estresse, sintomas ansiosos, depressivos e alterações do sono, além do aspecto espiritual em menor frequência, que diz respeito à relação da pessoa com algo transcendente, buscando significados e propósitos de vida, que podem ou não envolver religião. A baixa relevância do aspecto intelectual nos materiais analisados chamou atenção, visto que se relaciona a mudanças no trabalho, acesso a EPIs, desenvolvimento de estudos e formação continuada que auxiliassem esses profissionais durante a pandemia, principalmente em um cenário no qual a sociedade vivenciou uma alta frequência de fake news, disseminadas nas mídias e redes sociais sobre a doença, suas formas de contágio, prevenção e formas de tratamento. Considera-se que os resultados encontrados em cada uma das etapas da análise trouxeram informações relevantes para a literatura. A participação do Brasil em publicações com a temática pandemia e COVID-19 é baixa comparada ao resto do mundo. Essa frequência diminui ainda mais quando se foca em produções sobre profissionais de saúde. Quanto à saúde desses profissionais, percebe-se um padrão nas publicações a nível nacional e mundial, especialmente, no que se refere aos aspectos social, emocional e físico observados no material analisado.