Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-11
Resumo
Apresentação: Nossa proposta visa apresentar e discutir a experiência de estudantes, docentes e preceptores corresponsáveis pela produção do componente curricular Saúde Coletiva I do 1º período do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O Sistema Único de Saúde é o tema central das discussões e, geralmente, a articulação de seus princípios aos elementos que integram o cuidado em saúde se daria a partir da Atenção Básica. No entanto, o encontro entre os sujeitos envolvidos se deu ainda em contexto da Pandemia do COVID-19. Com a restrição dos cenários de aprendizagem e a necessidade de operacionalizar as medidas sanitárias de modo a cumprir os Protocolos vigentes e garantir condições adequadas para as aulas presenciais, a parte prática do componente foi apresentada após o conteúdo teórico e a partir do espaço hospitalar. Todo esse processo de mudança impactava não somente o/a docente responsáveis pela condução do processo, mas também as pessoas que estavam responsáveis pela prática cotidiana do cuidado (ainda na linha de frente do enfrentamento à Pandemia) e os/as estudantes que iniciavam o curso e teriam o primeiro contato com os espaços físicos da instituição e também a primeira experiência de contato presencial com colegas, professores/as e os/as trabalhadores/as do HC. Nosso objetivo é relatar a experiência da equipe que foi nomeada como Acolhimento e ficou responsável por acompanhar as atividades do setor de Humanização do referido hospital.
Experiência: A humanização é um conjunto de valores, técnicas, comportamentos e ações que, construídas dentro de seus princípios, promove a qualidade das relações entre as pessoas nos serviços de saúde, sendo, portanto, uma política essencial no funcionamento de todo contexto hospitalar. No nosso cenário de prática, acompanhamos o desenvolvimento dos seguintes projetos: “Posso ajudar?” ação desenvolvida pela humanização que promove o acolhimento no pronto-socorro e ambulatórios mediante uma escuta qualificada, destacamos a importância que esse projeto recebeu durante a pandemia por ter se tornado um dos veículos de comunicação entre os/as usuários/as e suas famílias. O projeto “Coração nutrido” estimula a alimentação saudável para prevenção de agravos em usuários/as com patologias relacionadas ao sistema circulatório;” o Projeto “Meu dentinho, meu coração” é desenvolvido na unidade pediátrica e relacionado à saúde bucal para prevenção de infecções e comorbidades; também no setor destinado ao atendimento das crianças, o projeto “Mamãe faz arte”- oficina de artesanato para amenizar a ansiedade e promover a integração entre as cuidadoras e as crianças internadas e ainda mantém a “Rede de brinquedoteca e ambiência” que promove o atendimento integral a criança com desenvolvimento de atividades lúdicas respeitando os períodos de desenvolvimento, proporcionando maior interação com a equipe e contribuindo com maior adesão ao tratamento. Outrossim, os/as discentes puderam observar também a realização de atividades recreativas no setor de humanização em datas comemorativas, como no Natal, em que houve a distribuição de presentes para as crianças internadas, além da criação de um cenário o qual incentivasse o imaginário infantil, a exemplo da presença de uma pessoa fantasiada incumbida por interagir com os menores, acarretando, assim, a construção de um espaço hospitalar mais acolhedor, o que como foi destacado durante este estudo é um fator de extrema importância para o tratamento dos pacientes. A equipe pôde participar ativamente de todas as atividades, no entanto, um dos projetos recebeu destaque, durante o período da atividade: o projeto da capelania que oferta apoio lúdico e espiritual aos/às usuários/as. A preceptora relatou a história de criação do projeto e o impacto exercido por ele para alguns/algumas usuários/as atendidos no HC.
Resultados: Essas experiências apontaram para a importância de, como futuros/as médicos/as, compreendermos como os determinantes sociais atuam na relação de cuidado-adoecimento, mesmo em situação de internação (momentos de crise), e considerar que elementos como a religião/fé dos/as usuários/as são parte integrante de sua existência, bem como as relações familiares continuam a impactar a vida das pessoas. Compreendemos que a integralidade do cuidado é um conceito em movimento e que a escuta qualificada e o acolhimento são atributos da Atenção Básica, que devem ser ferramentas em todos os níveis de atenção em saúde.
A partir da vivência hospitalar, foi possível identificar e compreender na prática os princípios e diretrizes do SUS, sobretudo a integralidade validada nos diversos serviços disponíveis que ultrapassam o modelo biomédico e valorizam o âmbito biopsicossocial. Essa experiência destaca os princípios de integralidade, universalidade e equidade a que o SUS se propõe. Para isso, foi possível perceber que é indispensável o conhecimento e reconhecimento, por parte da equipe médica, do papel e importância das diversas equipes profissionais, no trabalho conjunto e respeitoso buscando atender com resolutividade todas as demandas trazidas pela população. Além disso, o trabalho conjunto nos desafios e limitações à validação de todos os objetivos do sistema público de saúde se torna indispensável.
A identificação desses obstáculos, sobretudo no contexto sanitário da pandemia, que abrange todos os indivíduos envolvidos no processo de saúde-doença (profissionais de saúde, pacientes e suas famílias), tornou mais real e palpável as experiências de contato com o SUS, e pensar em maneiras de colocá-lo em prática. Nesse sentido, pode-se destacar mais uma vez a importância da Humanização e os projetos de extensão desenvolvidos por ela para o cenário vivido, a partir das suas ações de intervenção para conscientização ao uso de máscaras pelos pacientes e acompanhantes e a manutenção do vínculo entre a família e os pacientes a partir da realização de videochamadas e orientação para visitas, por exemplo.
Por fim, os diálogos entre os estudantes e os profissionais da Humanização acerca das suas histórias e dos pacientes dentro do HCU-UFU ilustram com proximidade o percurso da Política Nacional de Humanização, os desafios já enfrentados para a sua consolidação, os benefícios conseguidos com os projetos de extensão (ao associar a entrega do cuidado à população com a participação no ensino dos discentes em saúde), seu reconhecimento pela equipe hospitalar e os obstáculos a serem superados para melhoria contínua da entrega de um sistema de saúde efetivo.
Considerações Finais: Para nossa equipe, a Humanização deixou de ser um conceito orientador de uma Política visando a melhoria do atendimento no ambiente hospitalar, ou mesmo a obrigatoriedade de cumprir um ato normativo para um ato de cuidado essencial no processo de reabilitação dos/as usuários/as. Ademais, nossas observações mudaram a perspectiva sobre o funcionamento de um hospital e também o que pode ser a prática médica. Para nós deslocou a ideia do médico como personagem principal de um tratamento, para colocar o/a usuário/a no centro do cuidado, que deve ser considerado seu bem-estar em todas as esferas.