Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Posso Ajudar! A Política Nacional de Humanização como possibilidade de compreender os princípios do SUS
Diogo Henrique Cruvinel, João Paulo Bastos Teixeira, José Afonso Nobre da Silva, Katiane Brito Ramos, Milene Carrara Carmo Garcia, Flávia Teixeira, Tiago Rocha Pinto

Última alteração: 2022-02-11

Resumo


Apresentação: Nossa proposta visa apresentar e discutir a experiência de estudantes, docentes e preceptores corresponsáveis pela produção do componente curricular Saúde Coletiva I do 1º período do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O Sistema Único de Saúde é o tema central das discussões e, geralmente, a articulação de seus princípios aos elementos que integram o cuidado em saúde se daria a partir da Atenção Básica. No entanto, o encontro entre os sujeitos envolvidos se deu ainda em contexto da Pandemia do COVID-19. Com a restrição dos cenários de aprendizagem e a necessidade de operacionalizar as medidas sanitárias de modo a cumprir os Protocolos vigentes e garantir condições adequadas para as aulas presenciais, a parte prática do componente foi apresentada após o conteúdo teórico e a partir do espaço hospitalar. Todo esse processo de mudança impactava não somente o/a docente responsáveis pela condução do processo, mas também as pessoas que estavam responsáveis pela prática cotidiana do cuidado (ainda na linha de frente do enfrentamento à Pandemia) e os/as estudantes que iniciavam o curso e teriam o primeiro contato com os espaços físicos da instituição e também a primeira experiência de contato presencial com colegas, professores/as e os/as trabalhadores/as do HC. Nosso objetivo é relatar a experiência da equipe que foi nomeada como Acolhimento e ficou responsável por acompanhar as atividades do setor de Humanização do referido hospital.

Experiência: A humanização é um conjunto de valores, técnicas, comportamentos e ações que, construídas dentro de seus princípios, promove a qualidade das relações entre as pessoas nos serviços de saúde, sendo, portanto, uma política essencial no funcionamento de todo contexto hospitalar. No nosso cenário de prática, acompanhamos o desenvolvimento dos seguintes projetos: “Posso ajudar?” ação desenvolvida pela humanização que promove o acolhimento no pronto-socorro e ambulatórios mediante uma escuta qualificada, destacamos a importância que esse projeto recebeu durante a pandemia por ter se tornado um dos veículos de comunicação entre os/as usuários/as e suas famílias. O projeto “Coração nutrido” estimula a alimentação saudável para prevenção de agravos em usuários/as com patologias relacionadas ao sistema circulatório;” o Projeto “Meu dentinho, meu coração” é desenvolvido na unidade pediátrica e relacionado à saúde bucal para prevenção de infecções e comorbidades; também no setor destinado ao atendimento das crianças, o projeto “Mamãe faz arte”- oficina de artesanato para amenizar a ansiedade e promover a integração entre as cuidadoras e as crianças internadas e ainda mantém a “Rede de brinquedoteca e ambiência” que promove o atendimento integral a criança com desenvolvimento de atividades lúdicas respeitando os períodos de desenvolvimento, proporcionando maior interação com a equipe e contribuindo com maior adesão ao tratamento. Outrossim, os/as discentes puderam observar também a realização de atividades recreativas no setor de humanização em datas comemorativas, como no Natal, em que houve a distribuição de presentes para as crianças internadas, além da criação de um cenário o qual incentivasse o imaginário infantil, a exemplo da presença de uma pessoa fantasiada incumbida por interagir com os menores, acarretando, assim, a construção de um espaço hospitalar mais acolhedor, o que como foi destacado durante este estudo é um fator de extrema importância para o tratamento dos pacientes. A equipe pôde participar ativamente de todas as atividades, no entanto, um dos projetos recebeu destaque, durante o período da atividade: o projeto da capelania que oferta apoio lúdico e espiritual aos/às usuários/as. A preceptora relatou a história de criação do projeto e o impacto exercido por ele para alguns/algumas usuários/as atendidos no HC.

Resultados: Essas experiências apontaram para a importância de, como futuros/as médicos/as, compreendermos como os determinantes sociais atuam na relação de cuidado-adoecimento, mesmo em situação de internação (momentos de crise), e considerar que elementos como a religião/fé dos/as usuários/as são parte  integrante de sua existência, bem como as relações familiares continuam a impactar a vida das pessoas. Compreendemos que a integralidade do cuidado é um conceito em movimento e que a escuta qualificada e o acolhimento são atributos da Atenção Básica, que devem ser ferramentas em todos os níveis de atenção em saúde.

A partir da vivência hospitalar, foi possível identificar e compreender na prática os princípios e diretrizes do SUS, sobretudo a integralidade validada nos diversos serviços disponíveis que ultrapassam o modelo biomédico e valorizam o âmbito biopsicossocial. Essa experiência destaca os princípios de integralidade, universalidade e equidade a que o SUS se propõe. Para isso, foi possível perceber que é indispensável o conhecimento e reconhecimento, por parte da equipe médica, do papel e importância das diversas equipes profissionais, no trabalho conjunto e respeitoso buscando atender com resolutividade todas as demandas trazidas pela população. Além disso, o trabalho conjunto nos desafios e limitações à validação de todos os objetivos do sistema público de saúde se torna indispensável.

A identificação desses obstáculos, sobretudo no contexto sanitário da pandemia, que abrange todos os indivíduos envolvidos no processo de saúde-doença (profissionais de saúde, pacientes e suas famílias), tornou mais real e palpável as experiências de contato com o SUS, e pensar em maneiras de colocá-lo em prática. Nesse sentido, pode-se destacar mais uma vez a importância da Humanização e os projetos de extensão desenvolvidos por ela para o cenário vivido, a partir das suas ações de intervenção para conscientização ao uso de máscaras pelos pacientes e acompanhantes e a manutenção do vínculo entre a família e os pacientes a partir da realização de videochamadas e orientação para visitas, por exemplo.

Por fim, os diálogos entre os estudantes e os profissionais da Humanização acerca das suas histórias e dos pacientes dentro do HCU-UFU ilustram com proximidade o percurso da Política Nacional de Humanização, os desafios já enfrentados para a sua consolidação, os benefícios conseguidos com os projetos de extensão (ao associar a entrega do cuidado à população com a participação no ensino dos discentes em saúde), seu reconhecimento pela equipe hospitalar e os obstáculos a serem superados para melhoria contínua da entrega de um sistema de saúde efetivo.

Considerações Finais: Para nossa equipe, a Humanização deixou de ser um conceito orientador de uma Política visando a melhoria do atendimento no ambiente hospitalar, ou mesmo a obrigatoriedade de cumprir um ato normativo para um ato de cuidado essencial no processo de reabilitação dos/as usuários/as. Ademais, nossas observações mudaram a perspectiva sobre o funcionamento de um hospital e também o que pode ser a prática médica. Para nós deslocou a ideia do médico como personagem principal de um tratamento, para colocar o/a usuário/a no centro do cuidado, que deve ser considerado seu bem-estar em todas as esferas.