Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-06
Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre o diálogo intercultural envolvendo as parteiras tradicionais e a atenção básica do município de Parintins, estado do Amazonas. O diálogo ocorreu no contexto da Oficina de Troca de Saberes das Parteiras Tradicionais de Parintins em novembro de 2021 no âmbito do projeto “A inserção das Parteiras Tradicionais na Atenção à Saúde da Mulher Gestante na Atenção Básica em Áreas Ribeirinhas do estado do Amazonas” coordenado pelo Laboratório de História, Políticas públicas e Saúde na Amazônia- LAHPSA Fiocruz- Amazônia. Uma das atividades realizadas durante esta oficina foi a re-elaboração das “cenas do parto” pelas parteiras tradicionais participantes. Usando uma massa preparada com farinha de trigo, as parteiras foram convidadas a modelar as cenas do parto a partir da vasta experiência e das práticas das parteiras no seu trabalho de atendimento das gestantes em seus territórios, principalmente em comunidades rurais. Com esta metodologia prevalecem dois instrumentos potentes que são as mãos e a oralidade. Essa é uma das metodologias que promove interação e diálogo e vem sendo usada nos “cursos de capacitação” no âmbito do Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais do Ministério da Saúde. Com a massa de trigo em mãos as parteiras reconstituem com detalhes as cenas do parto apresentando com sua visão holística, o corpo das gestantes, a anatomia do sistema reprodutor feminino, mas mostram também os lugares, as pessoas envolvidas, os instrumentos usados, as condições do parto e toda sorte de situações e adversidades vivenciadas. Apesar da intenção primordial desta dinâmica consistir na troca de conhecimentos sobre o corpo, anatomia e fisiologia do sistema reprodutor feminino e masculino, observamos que além de potencializar as falas e os conhecimentos das parteiras sobre o partejar, as parteiras abordam aspectos da realidade do seu trabalho, elegendo assim a partir de sua percepção outros aspectos considerados importantes e que carecem de receber mais apoio da gestão municipal. Neste sentido, as narrativas das parteiras mediadas pelas cenas do parto, provocam um exercício de auto-reflexividade e um diálogo simétrico com a gestão em como descrevem as diversas estratégias que as parteiras utilizam para realizar seu trabalho em condições desfavoráveis. Esse também é um momento de indagações, de questionamentos, de denúncias, de indicação de soluções, de proposições de melhorias e também de reivindicações. É uma oportunidade ímpar de estabelecer um diálogo menos hierarquizado com a gestão, acionando responsabilidades e reforçando que as parteiras têm o domínio de um saber desenvolvido na prática que garante um serviço de atendimento à saúde das mulheres. São saberes que devem ser levados a sério pela gestão para fortalecer o trabalho das parteiras e garantir a sua inclusão no sistema de saúde e fazer o alinhamento de todo fluxo de atendimento no município.