Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SABE AQUELA ANOTAÇÃO DO PRONTUÁRIO? COMPREENDENDO A IMPORTÂNCIA DO REGISTRO PARA A PRODUÇÃO DE RECURSOS PARA O HOSPITAL
Rafael Moreira Sousa, Tuanny Santana de Souza, Camily Christine Da Silva Souza, Maria Clara De Araújo Miranda, Murilo Roberto Araújo Alves

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Apresentação: Nossa proposta visa apresentar e discutir a experiência de estudantes, docentes e preceptores corresponsáveis pela produção do componente curricular Saúde Coletiva I do 1º período do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O Sistema Único de Saúde é o tema central das discussões e, geralmente, a articulação de seus princípios aos elementos que integram o cuidado em saúde se daria a partir da Atenção Básica. No entanto, o encontro entre os sujeitos envolvidos se deu ainda em contexto da Pandemia do COVID-19. Com a restrição dos cenários de aprendizagem e a necessidade de operacionalizar as medidas sanitárias de modo a cumprir os Protocolos vigentes e garantir condições adequadas para as aulas presenciais, a parte prática do componente foi apresentada após o conteúdo teórico e a partir do espaço hospitalar. Um dos cenários definidos para a prática foi o arquivo e faturamento, setores administrativos que integram o serviço de gestão hospitalar. A Carta de Direitos dos Usuários do SUS é explicita em relação ao direito dos usuários aos seus registros e à necessidade de que o profissional de saúde faça um registro adequado e legível do atendimento. No entanto, a escolha desse cenário deveu-se ao objetivo de apresentar para os estudantes a relação entre atendimento-registro-faturamento. Durante a graduação, muitos deles terão acesso aos prontuários como fonte primária para pesquisas, mas pouco se discute as consequências do não registro ou do registro inadequado para a manutenção do próprio hospital. É comum que os egressos dos cursos de medicina ocupem cargos de gestão tão logo finalizem a residência ou até mesmo a graduação, nesse sentido, entendemos que é fundamental que habilidades e competências relacionadas à política, planejamento e gestão sejam apresentados desde o primeiro período do curso.

Experiência: Para as atividades práticas, a equipe foi dividida em duplas e cada dupla de estudantes realizava visitas duas vezes por semana, de forma presencial, nos setores de faturamento, arquivo e administração, assim como participavam de entrevistas com os trabalhadores e gestores. Uma das atividades foi a apresentação do Hospital de Clínicas desde sua criação até o momento atual em que mudança na administração com a transição da Fundação de Assistência, Estudo e Pesquisa de Uberlândia (FAEPU) para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Conhecer sobre os instrumentos Autorização de Internação Hospitalar (AIH) e Autorização de Procedimento de Alta Complexidade (APAC’s) e suas especificidades. Acompanhar, por exemplo, no setor de oncologia (Hospital do Câncer) o faturamento de procedimentos tanto de média como de alta complexidade, compreender o significado das metas, qual procedimento tem cobertura total ou parcial, o que tem um valor fixo mensal de repasse. Todos os instrumentos são dependentes de um CID e devem ser preenchidos pelo médico assistente. O preenchimento equivocado, faltando dados ou mesmo a ausência de preenchimento são dificuldades relatadas pelos profissionais que atuam no serviço. A descrição detalhada feita pelo médico no prontuário será interpretada pelos funcionários do setor de faturamento e essas informações serão fundamentais para a classificação dos procedimentos entre média e alta complexidade e consequentemente a cobrança dos valores que devem ser repassados ao HC-UFU. Se, conforme identificamos nas críticas de todos os funcionários os valores repassados pelo SUS  estão defasados e a Tabela de Procedimentos (SIGTAP) do Sistema de Gerenciamento está desatualizada, os erros e omissões nos prontuários agravam o quadro do subfinanciamento. Ao setor de Arquivo compete guardar e organizar prontuários dos usuários durante certo período, sendo assim após 5 anos sem atualizações, ou após a morte do usuário toda a papelada é inativada e transferida para o arquivo que fica em outro prédio. No caso de retorno do paciente ao HC-UFU é necessário que o prontuário seja retirado do setor de arquivo inativo e disponibilizado para o setor de atendimentos onde terá um uso importante no processo de assistência, ensino e pesquisa. Após um momento de alta o prontuário será arquivado e reinicia o limite de 5 anos de sua permanência no arquivo.  O setor de Pesquisa que está localizado no interior do setor de arquivo se destina a organizar o acesso aos dados em conformidade ao previsto na legislação. No setor, cada pesquisador terá acesso apenas a 15 prontuários por dia para maior controle e evitar que dados do usuário sejam utilizados de modo inadequado. Durante nossas observações, estavam sendo implementadas mudanças nos sistemas utilizados pelos arquivos. O antigo Sistema de Informações Hospitalares (SIH) estava sendo trocado para o Aplicativo de Gestão de Hospitais Universitários (AGHU) adotado e padronizado pela Ebserh.  No entanto, a mudança de sistema não é a única que está ocorrendo uma vez que a administração superior estava sendo substituída. A substituição de trabalhadores da FAEPU pelos convocados pela EBSERH causava os conflitos também observados em outros setores, mas que pareciam mais sensíveis no setor observado porque muitos servidores não possuíam habilidades e competências para as funções que demandavam o setor e os servidores anteriores não tiveram tempo hábil para realizar o treinamento dos ingressantes, desse modo, identificamos servidores de outros locais sendo requisitados para treinar os novos servidores. Estamos dizendo de um hospital com cerca 500 leitos e 2.000 atendimentos das variadas complexidades ao longo do mês, ou seja, tivemos a oportunidade de vivenciar um momento de crise e ainda assim, os servidores se organizaram para nos receber e compartilhar espaços, tristezas e esperanças.

Resultados: A atividade favoreceu o reconhecimento das idiossincrasias dos setores de faturamento, arquivo e da própria gestão do Hospital. Foi possível identificar e a importância e o papel de diferentes espaços dentro do ambiente hospitalar que não estão diretamente vinculados apenas com a dimensão assistencial, mas com a organização e o funcionamento do cenário hospitalar como um todo. Além disso, pudemos obter uma maior compreensão sobre os diferentes mecanismos envolvidos na realização e cobrança de procedimentos hospitalares, a necessidade de registro e arquivamento adequado das informações, bem como os impactos no cotidiano assistencial a partir da mudança de gestão da FAEPU para a rede EBSERH.

Considerações finais: Tais experiências permitiram agregar conhecimentos acerca da manutenção do espaço hospitalar público do Sistema Único de Saúde, bem como da sua função como instituição escola atuando nas áreas de ensino, pesquisa e extensão.  Pudemos vivenciar uma experiência que se coaduna as recomendações das Diretrizes Curriculares Nacionais, ao nos ser favorecido o contato e conhecimento da área de gestão desde os primórdios da formação, fomentando uma formação atenta e concatenada aos princípios do SUS e com a realidade das instituições de saúde do país.