Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Implementação e adesão dos protocolos de cirurgia segura: revisão integrativa da literatura
Gabriela Oliveira Parentes da Costa, Ricardo Clayton Silva Jansen, Michelle Kerin Lopes, Antonia Almeida Araújo, Aclênia Maria Nascimento Ribeiro, Rosane da Silva Santana

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


Introdução

 

A estimativa mundial mostra um total de 234 milhões de procedimentos cirúrgicos realizados anualmente, o equivalente a uma intervenção para cada 25 pessoas, sendo que a taxa de complicação entre esses procedimentos chega a 17%, deste total, 2 milhões de pessoas chegam a óbitos. Em relação aos procedimentos realizados anualmente, estima-se que 50% das complicações cirúrgicas eram evitáveis.

As mortes ocorridas por Eventos Adversos (EA) no Centro Cirúrgico ocupam o segundo lugar das causas por óbitos no país. Os EA causam grande impacto, uma vez que, decorrem de falhas que podem levar a incapacidades e chamam a atenção devido ao fato de que metade das ocorrências não deveriam ocorrer, sendo denominado como never events.

Por esses e outros motivos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica (Surgical Safety Checklist)-LVSC que auxiliam na sistematização da assistência no CC e possuem itens de checagem desde a indução anestésica até a saída do paciente da sala de operação.

A implementação da cirurgia segura surge como uma estratégia para reduzir os riscos, evitar os eventos adversos, e consequentemente, a mortalidade em decorrência dos procedimentos cirúrgicos. Sua adesão pode impedir episódios inesperados e contribuir com a segurança da equipe e do paciente. Apesar das barreiras enfrentadas para a sua implementação, ela pode ser aplicada em qualquer hospital, independentemente de sua complexidade, podendo ser adaptada para a realidade de cada instituição.

Pelo exposto, o objetivo desta pesquisa é analisar as ações da equipe cirúrgica na implementação e adesão de protocolos de cirurgia segura segundo a literatura.

 

Método do estudo

 

Trata-se de um estudo de Revisão Integrativa da Literatura.

A questão que impulsionou esse trabalho foi: Quais as evidências cientificas encontradas na literatura sobre a implementação e adesão dos protocolos de segurança do paciente no centro cirúrgico? A pergunta norteadora foi elaborada utilizando-se a estratégia de PICO, acrônimo para População alvo (pacientes), Intervenção (exposição), Comparação ou controle e Resultados ou desfecho, componentes fundamentais para a construção da pergunta para busca da bibliografia.

A partir do tema da pesquisa e da questão norteadora, foi possível pesquisar no DeCS-Descritores em Ciências da Saúde palavras-chaves como: Lista de Checagem/Segurança/Centros Cirúrgicos. Para levantamento das bases de dados e dos artigos da amostra desta pesquisa, os descritores foram aplicados na ferramenta de busca do portal da BVS- Biblioteca Virtual em Saúde, utilizando-se o operador boleano AND, optando-se por artigos da LILACS, MEDLINE e BDENF.

A coleta dos dados ocorreu em janeiro de 2021. Para filtrar os artigos selecionados na amostra inicial, foram utilizados os critérios de inclusão: artigos disponíveis na íntegra, com recorte temporal de 2016 a 2020, artigos com acesso gratuito, encontrados na literatura nacional e internacional. Os critérios de exclusão: artigos duplicados, os que não responderam à pergunta norteadora do estudo, artigos de revisão, livros e manuais. Os artigos pré-selecionados tiveram seus títulos e resumos avaliados e, somente os que que estavam em conformidade com os critérios de inclusão foram lidos e analisados na íntegra.

Com os descritores supracitados, foram encontrados 68 artigos e após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão restaram 50, os quais foram avaliados na íntegra e apenas 10 artigos fizeram parte da amostra final. Os resultados foram analisados por meio da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin.

 

Resultados

 

A implementação dos protocolos de cirurgias segura é imprescindível para a concretização de uma cultura de segurança no bloco cirúrgico. A realização da checagem pela equipe multiprofissional, com a participação do paciente, é ideal para a obtenção de êxito nos procedimentos. Para que esse processo ocorra, é necessário que os gestores disponibilizem treinamento da equipe, otimização do tempo e organização do setor.

Vale ressaltar que a implementação dos protocolos de cirurgia segura está relacionada ao trabalho interprofissional, devendo ser de responsabilidade de toda equipe, não somente de uma categoria profissional. Contudo, foi evidenciado que os profissionais de enfermagem (enfermeiros e técnicos) têm maior participação na implementação de protocolos de segura cirúrgica.

Porém, muitos centros cirúrgicos não realizam a checagem em sua totalidade. Autores evidenciam que a implementação do checklist ainda está distante da realidade, visto a resistência encontrada por alguns membros da equipe.

Percebeu-se que em alguns casos o preenchimento do checklist foi realizado por completo antes mesmo de se iniciar a cirurgia ou após seu término, não obedecendo os momentos preconizados para sua aplicação, Fazendo-se necessária a discussão entre os profissionais da equipe cirúrgica sobre as etapas da Lista de Verificação, sendo importante investir em treinamentos, no tocante ao impacto de suas ações individuais e coletivas, na segurança do paciente em bloco cirúrgico, o que contribui para uma boa aceitação do checklist entre a equipe.

Percebeu-se ainda dificuldades por parte dos cirurgiões em aderir a lista de verificação, antes a após sua implementação, havendo relato de pouco engajamento da equipe médica na aplicação da LVSC. Vários autores verificaram que os checklists utilizados durante as cirurgias não estavam preenchidos por completo, indicando que a política de cirurgia segura não foi bem aceita pela categoria.

Outros estudos concordaram que a falta de adesão dos médicos, cirurgiões e anestesistas atrapalhou a equipe, que não conseguiu preencher o checklist em tempo hábil e de forma completa. Para outro autor, a falta de adesão da LVSC, por parte do profissional médico, bem como a impossibilidade de o paciente responder as perguntas do checklist, dificultam sua utilização. O uso do checklist é indispensável para uma cirurgia segura, mas enfatizaram que a lista nem sempre é aceita por toda equipe, o que impossibilita o seu preenchimento.

Contudo, percebeu-se uma diminuição do tempo de internação, redução nas taxas de mortalidade e complicações pós-operatórias após a implementação do protocolo cirurgia segura.

Sabe-se que a implementação desse processo pode causar resistência entre a equipe, contudo, sua utilização é embasada em evidências científicas que demonstram resultados positivos na qualidade da assistência prestada, repercutindo na segurança do paciente e dos profissionais que atuam no bloco cirúrgico.

Considerações finais

 

De acordo com os achados desta pesquisa, evidenciou-se dificuldades na implementação dos protocolos de cirurgia segura. Alguns autores relataram que mesmo após vários anos de implementação da Lista de Verificação de Cirurgia Segura (LVSC) nos hospitais pesquisados, sua utilização ainda é desrespeitada.

Em relação aos fatores limitantes para o processo de implementação e adesão ao protocolo de cirurgia segura, constatou-se os profissionais preenchem a LVSC antes do tempo de cada etapa e realizam o preenchimento de forma incompleta. Além disso, a LVSC foi preenchida, na maioria das vezes, por um profissional, sendo este o único responsável durante todo o processo. Todavia, sabe-se que essa responsabilidade é de toda a equipe participante do ato cirúrgico.

Os resultados alcançados ratificam os achados em outros estudos que mostram as dificuldades para a implementação e adesão das políticas de cirurgia segura por parte da equipe atuante no centro cirúrgico. Neste sentido, ressalta-se a importância do processo educativo sobre a implementação dos protocolos de cirurgia segura, que proporcione o entendimento sobre a adesão por parte dos profissionais, além de pesquisas que enfatizem a relevância dessas políticas para a segurança do paciente.