Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DESAFIOS E POTENCIALIDADES DO ENSINAR POR METODOLOGIA ATIVA EM ENFERMAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Sheylla Nayara Sales Vieira, Edite Lago da Silva Sena, Rita Narriman Silva de Oliveira Boery, Alba Benemérita Alves Vilela

Última alteração: 2022-02-05

Resumo


Na área da saúde, a formação profissional é uma temática em constante debate, envolvendo diferentes perspectivas. Por um lado, defende-se a necessidade de estar em consonância com os princípios do sistema de saúde, cujas ações são demasiadamente complexas e exigem uma intensa inter-relação entre profissionais e habilidades téorico-práticas que precisam ser desenvolvidas e aperfeiçoadas na academia. Por outro lado, evidencia-se que, embora seja uma atividade de cunho pedagógico, a formação em saúde tem sido exercida por bacharéis, que, na maioria das vezes, não possuem qualificação docente, mas desempenham a função por grande afinidade com a profissão.

Neste contexto, as metodologias ativas são defendidas como um potencial para a consolidação do modelo de educação que contemple as novas exigências para a formação em saúde, pois se caracterizam pela prática da problematização como estratégia de ensino-aprendizagem. Este trabalho objetiva: refletir sobre os desafios e potencialidades das metodologias ativas no ensino em Enfermagem, segundo experiências vivenciadas por docentes.

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, que descreve a implementação de Metodologias Ativas em um curso de graduação em Enfermagem de uma instituição de ensino superior privada no estado da Bahia-Ba.

A incorporação de novas metodologias de ensino e aprendizagem nos cursos de graduação faz parte de um projeto institucional de qualificação do ensino iniciado pelos cursos de graduação em saúde no primeiro semestre do ano de 2015, quando os coordenadores dos cursos de saúde e alguns professores (potenciais multiplicadores) realizaram um curso de aperfeiçoamento oferecido pela rede de ensino, com o objetivo de refletir sobre as práticas de ensino e formação docente.

Posteriormente, a proposta de aperfeiçoamento educacional aconteceu em maiores proporções, abrangendo mudanças no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e o início da implantação do currículo por competência. A produção de conhecimento por competências enseja a necessidade de se buscar métodos de ensino que produzam um conhecimento reflexivo em detrimento ao repetitivo, com incorporação de técnicas de ensino que tornem o discente parte ativa do processo. Nesta perspectiva, as metodologias ativas foram apresentadas como integrantes da política institucional para a melhoria da qualidade do ensino dessa Instituição de Ensino Superior - IES.

As experiências vivenciadas por docentes no processo de implantação das metodologias ativas de ensino e aprendizagem do curso de graduação em enfermagem permitiram perceber que este processo é complexo, que possui inúmeros desafios e significativas potencialidades para a melhoria no processo de construção do conhecimento. Envolve ressignificações e adaptações para docentes, discentes e instituições de ensino. Nessa perspectiva, apresentam-se os desafios e as potencialidades experimentados na caminhada ainda em curso, conforme listados a seguir.

Desafios do processo de implantação das metodologias ativas

  1. Mudança curricular, com reestruturação das disciplinas.
  2. Reavaliação do processo de trabalho e quantitativo de alunos matriculados por turma.
  3. Capacitação docente e preparo dos discentes para compreenderem o processo.
  4. Compreensão da transferência de papéis, a mudança na relação de poder.
  5. Estruturação do processo de avaliação.

As experiências vivenciadas permitiram entender que a utilização de métodos ativos de ensino não deve se configurar como uma ação isolada do professor em sala de aula, mas este processo precisa ser acompanhado por um currículo integrado e flexível, com restruturação do Plano Pedagógico do Curso (PPC), mudança curricular e desfragmentação de disciplinas, proporcionando um ambiente favorável à apropriação crítica do conhecimento.

A capacitação docente e o preparo dos discentes, para que estes compreendam o ensinar e aprender neste contexto, representam fatores imprescindíveis para o êxito das atividades, pois, se não estiverem integrados com o processo, não perceberão mudança de paradigma em relação aos métodos tradicionais de ensino; assim, mesmo com a utilização das técnicas, o conhecimento reflexivo, participativo e dinâmico almejado não será possível.

Desse modo, as metodologias pautadas na facilitação da aprendizagem, que estimulam a interação e autonomia dos discentes, ainda possuem fragilidades que perpassam desde a maturidade dos discentes até a falta de suporte do docente como facilitador do ensino; neste sentido, pode-se inferir, após a experiência vivenciada, que a estrutura disponibilizada pelas instituições de ensino precisa ser modificada, sendo necessária a disponibilização de material de apoio, desde materiais simples como papel kraft até equipamentos e aquisição de softwares disponíveis no mercado.

Além disso, torna-se relevante repensar o processo de trabalho, na perspectiva de disponibilizar maior carga horária para o planejamento dos professores e reduzir o número de alunos matriculados por turma, visto que muitos alunos por turma dificulta/impossibilita a construção do conhecimento por metodologias ativas.

No entanto, apesar dos desafios experimentados, o processo permitiu visualizar potencialidades das metodologias ativas para o processo de construção de conhecimento, reafirmando estudos que apontam para um melhor desempenho dos discentes quando formados em cursos que estruturam seus currículos por metodologias problematizadoras.

Potencialidades das metodologias ativas

  1. Discentes mais envolvidos no processo de ensino, motivados.
  2. Educação mais reflexiva, baseada na problematização, a construção do conhecimento é uma parceria entre as partes.
  3. A interdisciplinaridade se torna mais presente no contexto das metodologias ativas.
  4. O processo de avaliação, quando bem estruturado, é mais fidedigno.
  5. Sensibilização dos alunos sobre o seu papel no processo de ensino.

Observa-se, até o momento, que a utilização das metodologias ativas, quando bem conduzidas, instiga a motivação pela busca do conhecimento, pelo rompimento com o lugar comum da sala de aula, onde o professor expõe o assunto e cobra em uma avaliação escrita – a motivação é presença constante. Dessa forma, os discentes se colocam no papel de protagonistas, constroem um conhecimento próprio, apoderam-se de informações que não foram previamente apresentadas pelo professor, e, assim, se percebem como atores ativos, participativos e colaboradores no processo de ensino(5).

Portanto, foi possível identificar a construção de um conhecimento sólido, baseado na problematização e aproximação com a prática. A percepção que se tem do aprendizado é que, por ser participativo, o discente se sente melhor preparado para o desempenho da profissão, uma vez que o conhecimento adquirido foi realizado através de uma busca pessoal, partilhada com/por colegas e apoiado pelo professor. Estas observações corroboram o pensamento Freiriano, ou seja, de que o conhecimento se realiza na interação entre sujeitos históricos por meio de suas palavras, ações e reflexões.

Diante das experiências relatadas, reafirma-se a importância das discussões direcionadas ao ensino em Enfermagem, a fim de construir conhecimento de forma reflexiva, contextualizada e responsável, mediante a participação dos discentes, como protagonistas do aprendizado.

As metodologias ativas apresentam resultados positivos e possuem potencial para modificar o processo de construção do conhecimento. No entanto, destaca-se que a utilização desses métodos precisa ser realizada de forma planejada, em que os professores conheçam profundamente todas as etapas do processo, que inclui desde a escolha correta da metodologia a ser aplicada até o processo de avaliação, além do correto direcionamento dos discentes.

Por fim, ressalta-se que as instituições de ensino que optem por adotar tal metodologia devem promover a estruturação/restruturação dos cursos, oferecendo as condições para um ambiente educacional diferenciado, onde sejam disponibilizados materiais e equipamentos, além de cursos de capacitação e aperfeiçoamento para os professores.