Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Formação em saúde em tempos de devastação: sustentar o direito ao sonho para tecer outros mundos possíveis
Simone Aparecida Ramalho, Tatiana Alves Cordaro Bichara

Última alteração: 2022-02-09

Resumo


Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a experiência de uma Oficina de Sonhos, realizada no módulo Desigualdades Sociais e Políticas de Saúde no Brasil, do Eixo Comum Trabalho em Saúde, da Unifesp - Baixada Santista, oferecido a estudantes dos primeiros anos de graduação dos cursos da área da saúde. Com uma sindemia (Breilh, 2021) em curso, com devastações e destruições em todos os campos da vida, com narrativas produtoras de medo, terror, desesperança e passividade, em um contexto de educação mediada pelas tecnologias virtuais, uma estudante perguntou: o que fazer com isso? Há saídas? Assim nasceu a Oficina dos Sonhos, em que duplas compartilharam os seus sonhos com o grupo, com o objetivo de cuidar da formação, da sustentação do direito ao sonho e de sonhar outros mundos possíveis, pois “mesmo que não possamos adivinhar o tempo que virá, temos ao menos o direito de imaginar o que queremos que seja” (Galeano, 2021). Um lugar de composição de modos de pensar foi sendo construído, entrelaçando um pensar racional “com a cabeça clara” e um pensar que “não reside na cabeça”, situado nas entranhas superiores (coração, pulmão e fígado), “o pensar da caminhada, o pensar do ritual, o pensar da canção e da dança”, que se liga às memórias (Rivera Cushicanqui, 2018, p.121). Guiados pela inquietação da pergunta: e se? imaginamos futuros em que não haveria cansaço, em que as pessoas poderiam viver e fazer o que gostam, em que existiria a alegria e a convivência efetiva e compartilhada com a diferença, entre humanos e nāo humanos, em que as dores e os cuidados poderiam ser compartilhados e em que não cairíamos no automatismo do cotidiano de esquecer de sonhar. Criamos um lugar de criação e de ação política para rememorar sonhos esquecidos, apagados e silenciados, ao mesmo tempo em que nos encontramos também com aquilo que não pode ser sonhado, com o sequestro, a redução ou o achatamento dos sonhos, com os dispositivos que capturam a nossa capacidade de sonhar, como: o trabalho, o padrão, as obrigações, as lógicas hegemônicas dos tempos e dos espaços, dos corpos, do sobreviver e não do viver, do que nos consome, do racismo cotidiano e do sonho reduzido ao sonho de consumo.  Seguimos com o problema (Haraway, 2019, p. 208), “escrevendo histórias e vivendo vidas para a abundância e florescimento”, imaginando o futuro com histórias que cultivam relações prósperas, prestando contas aos que foram e aos que virāo, para semear mundos e tecer novas narrativas e sentidos também na formação em saúde.