Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Cartografias do cuidado no Território Líquido da Amazônia
Fabiana Mânica Martins, katia Helena Scwheickardth, Júlio César Scwheickardth

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


O objetivo foi cartografar modelagens tecnoassistenciais de cuidado na Unidade Básica de Saúde Fluvial - UBSF do município de Tefé/AM. Para alcançá-lo, percorremos três caminhos: primeiro, o compartilhamento da aprendizagem com a pesquisa, fruto da vivência dos pesquisadores acerca do acesso à rede de cuidado à saúde na Amazônia. Nele, constituiu-se uma produção coletiva acerca da categoria “território líquido”; em segundo lugar, um exercício de cartografia da presença de corpos vibráteis na produção desse território, como ensaio de produção do pensamento compartilhado com os ribeirinhos trabalhadores e usuários da saúde, em um exercício de afirmação de sua potência; e, por fim, uma análise das relações entre os caminhos percorridos pela UBSF e suas práticas, saberes, linhas de fuga, e atravessamentos na produção do cuidado. Trabalhou-se a identificação, do ponto de vista da potência, das vivências e produções tecnoassistenciais micropolíticas que os trabalhadores usam para dar conta de tantas realidades específicas, na busca por adaptar os protocolos de assistência à realidade desse território e suas necessidades. Sendo o cenário da pesquisa a Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF), com suas conexões a partir do município de Tefé/Amazonas, optou-se pelo formato de um ensaio empírico, em conexão com conceitos e teorias que permitiram a formulação para seu compartilhamento, constituindo um diálogo epistemológico sobre os fazeres e saberes da pesquisa. A imagem construída aqui é de que o campo empírico da pesquisa tem a potência do banzeiro, que é o movimento ondular das águas, que visto da superfície pode ser representado como um movimento ondular harmônico e tranquilo, mas tal imagem não traduz a potência e energia que movimenta desde o leito do rio, com todo o volume de águas que desloca suas margens e desfaz o percurso dos barcos conduzidos por marinheiros inexperientes. Desse modo, vivencia-se a cartografia do “território líquido” que flui, potente, encontrando o outro e produzindo diferenciação no acontecimento, em devir com as gentes da Amazônia e suas formas de existir no território. Essa cartografia nos faz pensar numa episteme urgente e insurgente, tendo a ver com a superação do nosso corpo estratificado na pesquisa e no trabalho, pois pesquisadores e profissionais ainda são um corpo que insiste em organizar, fragmentar, produzir estratos e ter uma vida separada da sua potência. O “território líquido” com suas gentes nos ensina a existir num plano de imanência, onde o tempo-espaço é o tempo oportuno, onde a vida é o critério e é preciso criar memória de futuro e imaginação para a criação de pensamento, para permitir-se à dobra, às experimentações, aos acontecimentos, ao puro devir, mas não de qualquer maneira, pois o critério sempre será aquele que potencializa a vida.