Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Análise da Testagem Rápida para detecção das Infecções Sexualmente Transmissíveis em Porto Alegre, de 2019-2020. Reflexão sobre a Pandemia de COVID-19.
daila alena alena raenck silva, Cristina Bettin Waechter, Pauline Soares Ferrugem, Sabrina Terezinha de Souza Gilli Brundo, Viviane de Lima Cezar

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


A epidemia de HIV na região Sul do país é conhecida pelas suas altas taxas de detecção de Aids, mortalidade por Aids e gestante infectadas com HIV. A cidade de Porto Alegre destaca-se ocupando o topo das capitais com os indicadores mais elevados entre municípios do país. Apresentando respectivamente 41,9 casos/100 mil hab., 24,1 óbitos/100 mil hab.,17,1 casos/mil nascidos vivos. Esses dados foram emitidos em dezembro de 2021, no  boletim epidemiológico do  Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Existem esforços internacionais, conduzidos pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS, que apresentam a meta de eliminar a AIDS até 2030. Desta forma, define ações ambiciosas que incluem o chamado 95-95-95. Este coloca que 95% das pessoas estimadas como infectadas pelo HIV precisam ser testadas, 95% destas devem estar vinculadas e em tratamento e 95% destas apresentando carga viral indetectável. O último item define a infecção como intransmissível. Desta forma, torna-se importante que as capitais que aderiram a proposta da UNAIDS ampliem seus esforços no alcance destes percentuais no trabalho conjunto na eliminação da Aids no mundo. Observando o cenário mundial e nacional para este agravo, compreende-se a importância da testagem rápida sendo ela o primeiro elemento para disparar as ações subsequentes da meta exposta. A sífilis apresenta-se, também, em Porto Alegre com um agravo de grande magnitude e muitas estratégias são pensadas e aplicadas na tentativa de controle da doença. Atualmente, a incidência de sífilis adquirida e em gestantes no município encontram-se acima da média nacional, apresentando taxas de 120,0 casos/100.000 hab. e 57,7 casos/1.000 nascidos vivos, respectivamente. Referente às hepatites virais, H, Porto Alegre encontra-se entre as 10 capitais que apresentaram o indicador maior que a média nacional, 10,5 casos de Hepatite B por 100 mil habitantes. Já a Hepatite C coloca o município no topo do ranking, com 47,2 casos por 100 mil habitantes. Pensar em estratégias de prevenção e assistência se faz cada vez mais urgente e o cenário de pandemia de COVID-2019 aumentou este desafio. Equipes de saúde e gestores foram condicionados a reorganizar seus processos de trabalho, principalmente no Sistema Único de Saúde, para atender as demandas da COVID-19, sem deixar de atender estes agravos. Objetivo: Realizar uma análise sobre a realização de testagem rápida para as ISTS no município de Porto Alegre,  no ano de 2019 e 2020 e relacionar os achados ao momento de pandemia da COVID-19. Método: Porto Alegre passou pelo processo de descentralização do diagnóstico de HIV por testagem rápida, no ano de 2012. Desde então, adotou esta metodologia na rede de saúde do município. Todos os dados dos usuários que realizam testagem rápida nas 142 unidades de saúde do município e nos serviços especializados em HIV/Aids são inseridos em um formulário online, gerando dados importantes para o monitoramento das principais variáveis que envolvem a infecção pelo HIV. Diante destes registros foi possível identificar o número de testes rápidos anti HIV realizados nos anos de 2019 e 2020, bem como o quantitativo de resultados reagentes para o vírus. O comparativo dos resultados pré e durante o primeiro ano de pandemia instigou a construção de uma reflexão sobre o impacto da COVID-19 na taxa de detecção de HIV. O município apresenta-se dividido em oito regiões de saúde, estas marcadas pelas suas especificidades territoriais e com características bastante peculiares, demonstrando elementos importantes, ao que tange a vulnerabilidade às IST 'S. As análises da distribuição de testagem nestes distritos de saúde precisam agregar os fatores específicos. A cidade é recortada por oito regiões de saúde: 1) Centro, 2) Noroeste /Humaitá /Navegantes /Ilhas (NHNI), 3) Norte /Eixo Baltazar (NEB), 4) Leste /Nordeste (LENO), 5) Glória /Cruzeiro /Cristal GCC), 6) Sul /Centro-Sul (SCS), 7) Partenon /Lomba do Pinheiro PLP, 8) Restinga /Extremo-Sul (RES). Resultados: No ano de 2019 foram realizados 202.590 testes rápidos nos oito territórios de saúde do município de Porto Alegre. Destes, 5.989 apresentaram resultados reagentes, sendo 1.162 para HIV, com 833 confirmados,  4.463 para Sífilis, 124  para Hepatite B e 569 para Hepatite C. Analisando o ano de 2020, foram realizados 136.535, destes 4.617 apresentaram resultado reagente com a seguinte distribuição: 855 para HIV, com a confirmação de 607; 3.459 pra sífilis; 101 para hepatite B e 450 para hepatite C. Comparando os testes reagentes de 2019 a 2020, verificou-se que na região Centro apresentou maior variação crescente de reagentes, sendo 3,32% no primeiro ano e 6,11% no segundo. A RES também demonstrou o mesmo comportamento com resultados bem divergentes, 0,88% em 2019 e 3,82% em 2020. Quatro regiões demonstraram um decréscimo nas positividades dos testes de 2020, em relação a 2019. Os dados de 2019 e 2020, respectivamente, seguidos pela região: 3,55% e  4,32% na LENO, 3,79% e 3,94% na NEB 3,61% e 3,30% na SCS, 3,02% e 3,48% na NHNI. A GCC no ano de 2019 apresentou 3,07% e em 2020, 3,97%. A PLP,  3,79% em 2019 e 3,96% em 2020. Ambas com um crescimento, mas inferior ao encontrado no Centro e RES. Considerações finais: Os dados acima nos conduzem a realizar uma reflexão referente ao diagnóstico das ISTs no momento da pandemia. O cenário de 2019 sem a instalação da COVID-19 e 2020, caracterizado pelo isolamento social e a superlotação das instituições de saúde. O que evidenciamos é uma clara redução na realização da testagem e um aumento significativo na positividade dos testes, mas de forma heterogênea. As duas regiões que se destacaram pelos dados apresentados,  Centro e Restinga, tem diferenças sócio-demográficas significativas. A primeira, marcada pela grande circulação de população flutuante; pessoas em situação de rua; população idosa; pessoas em uso de álcool e outras drogas; estudantes; imigrantes. A região Centro também concentra o maior número de serviços de saúde, públicos e privados e das três complexidades - primária, secundária e terciária. A segunda trata-se do território de maior índice de vulnerabilidade, é a região mais afastada da central, com grande extensão territorial, unidades de saúde menores e apenas um hospital em uma região que nem todos chegam por transporte público. Também é marcada pelos pontos de tráfico e por facções rivais, o que dificulta muito a circulação das equipes de saúde pelo espaço. Os achados descritos neste texto necessitam de aprofundamento nas variáveis envolvidas. Todavia, nos alertam a dimensão do dano causado pela pandemia de COVID-19, ao que se refere ao diagnóstico das ISTS. Inclui-se fatores implícitos nestes dados, em especial que a ausência de diagnósticos reduz o início do tratamento oportuno, a cura das ISTs curáveis e a estabilização das doenças e consequentemente postergam a interrupção da cadeia de transmissão. A partir  desta análise, podemos identificar alguns caminhos, como a necessidade de construir políticas arrojadas  para o controle das ISTs com implantação urgente e efetiva; o reconhecimento dos agravos em destaque no  município, como a sífilis e a hepatite C e a priorização com a  compreensão da dinâmica dos  territórios em destaque pelos altos índices de positividade, Centro e Restinga.