Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO NO NORTE DO BRASIL
Athos Costa Pedroza, Andressa Rodrigues Bezerra, Bruno Alsene Oliveira Silva, Dâmarys Vitória Ribeiro Oliveira, Isabela Beatriz Paz Sousa, Pierre Matuzalem de Souza Santos, Saulo Sacramento Meira, Lunalva Aurélio Pedroso Sallet

Última alteração: 2022-02-17

Resumo


LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO NO NORTE DO BRASIL

Andressa Rodrigues Bezerra, Athos Costa Pedroza, Bruno Alsene de Oliveira Silva, Dâmarys Vitória Ribeiro Oliveira, Isabela Beatriz Paz Sousa, Pierre Matuzalem de Souza Santos, Saulo Sacramento Meira e Lunalva Aurélio Pedroso Sallet

 

Área do Conhecimento: Saúde, Cultura e Arte

 

Palavras-chave: plantas medicinais; fitoterapia; metabólitos secundários; Tocantins.

 

APRESENTAÇÃO

A fitoterapia apresenta-se como uma ferramenta imprescindível para a promoção da qualidade de vida da sociedade, haja vista que essa forma de fazer saúde está enraizada na cultura brasileira. À vista disso, esse trabalho trata-se de um levantamento etnobotânico realizado na região norte do Tocantins, com o objetivo de identificar e comparar o uso empírico de fitoterápicos com as indicações literárias pesquisadas, explorando as facetas de quais e como cada planta é utilizada pela população entrevistada.

METODOLOGIA

O presente estudo foi do tipo exploratório, observacional do tipo transversal realizado no mês de outubro de 2021, com moradores do bairro São Pedro na cidade de Augustinópolis, localizada na região do Bico do Papagaio, no norte do Tocantins. Entre as razões analisadas para a escolha do bairro destacam-se, a proximidade com a Universidade Estadual do Tocantins, campus Augustinópolis, bem como, a cultura da região.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020, a área do município de Augustinópolis é de 388,810 km² e reside na região uma população estimada de 18.870 habitantes.

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas que continham interrogações relacionadas ao perfil  socioeconômico, a natureza das plantas medicinais cultivadas, suas propriedades e indicações terapêuticas, modo de uso, principais estruturas utilizadas para o preparo, além da identificação das referências culturais acerca do uso das plantas. Os critérios estabelecidos para a inclusão de participantes na pesquisa foram: residir no bairro, apresentar maioridade e aceitar responder o questionário na íntegra.

Com finalidade de comparar os resultados obtidos, verificou-se na literatura a partir de conteúdos coletados nas plataformas PubMed e Scielo, o emprego das espécies medicinais citadas pelos entrevistados. Os dados foram tabulados e analisados com base na estatística descritiva, com o auxílio do software Microsoft Office Excel 2010 para o cálculo de frequências absolutas e relativas

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nos dados coletados a partir do levantamento etnobotânico realizado, identificou-se a menção de 77 espécies de plantas medicinais. No que tange a essas espécies de plantas medicinais, predominaram as seguintes entre os informantes: hortelã (Mentha sp.), erva-cidreira (Melissa officinalis), capim-santo (Cymbopogon citratus), boldo (Peumus boldus) e mastruz (Dysphania ambrosioides). Além disso, foi possível traçar o perfil dos entrevistados, havendo a prevalência do sexo feminino 68,8% (n=157) e, portanto, 31,1% (n=71) pertencente ao sexo masculino. A respeito da renda mensal, 29,8% (n=68) dos entrevistados vivem com até 2 salários mínimos, 7,9% (n=18) com 3-6 salários mínimos e 62,2% (n=142) não informaram. Constatou-se que, dentre os entrevistados, 44,7% (n=102) já frequentaram escolas, 13,1% (n=30) são analfabetos e 42,1% (n=96) não informaram.

Quando questionados sobre as partes das plantas utilizadas no preparo dos fitoterápicos, foram obtidas 386 respostas, dos quais 80,3% (n=310) afirmaram que utilizam as folhas e 19,6% (n=75) utilizam outras partes das plantas. Quanto à forma de preparo sobre a utilização das plantas medicinais levantadas, a decocção 68,2% (n = 251); a maceração 9,2% (n=34); a infusão 14,9% (n=55); agarrafada  4,3% (n=16) e 3,2% (n=12) utilizam outros métodos de preparo, a exemplo do uso in natura e do sumo. Além disso, a fim de registrar a importância da transmissão de conhecimento entre gerações, foi questionado aos moradores a origem das informações sobre o cultivo e sobre a utilização das plantas medicinais, concluindo-se que 68,4% dos entrevistados (n=156) aprenderam com os familiares.

Além disso, a pesquisa constatou que, entre os dez fitoterápicos mais citados pela população, algumas plantas corroboram com as informações obtidas na literatura em algum grau. Por exemplo o Mentha spicata, conhecida popularmente como hortelã, é utilizado pela comunidade para o tratamento de problemas gastrointestinais, o que converge com a literatura pesquisada, entretanto, esse fitoterápico também é utilizado para tratar cefaléia, cólica, desintoxicação e hipertensão, o que não há embasamento teórico na literatura referente. Outra planta utilizada pela população de maneira parcial aos usos previstos na literatura é a Malva sylvestris, conhecida como Malva do Reino, na qual sua utilização popular restringe-se somente para o tratamento da gripe, enquanto a literatura relata que esse fitoterápico tem eficácia no tratamento de bronquite crônica, asma, enfisema pulmonar, tosse, colite e constipação.

Nesse sentido, durante a entrevista semiestruturada, algumas plantas tiveram seu uso relacionado ao tratamento contra a Covid-19 pela população. Fitoterápicos como açafrão-da-terra (Curcuma longa), alho (Allium sativum), boldo (Peumus boldus) e limão (Citrus limon) foram utilizados pela população referente tanto na prevenção, quanto no tratamento dessa enfermidade.

Já em relação ao uso desses fitoterápicos pela população, foi observado que os entrevistados, majoritariamente, não fazem uso de uma dosagem específica, sendo administrada a quantidade da espécie vegetal de acordo com o quadro geral do indivíduo. Desse modo, é possível depreender a confiança dos indivíduos entrevistados nas propriedades medicinais das plantas, haja vista que essa prática permeia a cultura da população.

Assim, é notório que o conhecimento popular acerca do uso de fitoterápicos é amplo e comumente utilizado como o único recurso acessível para comunidades carentes, que repassam essa prática de geração para geração. Portanto, o uso de plantas terapêuticas advém, principalmente, de uma bagagem sociocultural e de herança familiar e representa um importante mecanismo na preservação e na recuperação da saúde.

 

CONCLUSÃO

Identificou-se a menção de 77 espécies de plantas medicinais com predominância da hortelã (Mentha sp.), erva-cidreira (Melissa officinalis), capim-santo (Cymbopogon citratus), boldo (Peumus boldus) e mastruz (Dysphania ambrosioides). As partes mais utilizadas foram as folhas, com predominância da decocção, seguida da maceração como o método de preparo. A pesquisa constatou que, as finalidades de alguns   fitoterápicos divergiam do proposto pela literatura científica e demandam maior atenção das comunidades locais para o seu uso seguro.

Nota-se a necessidade de realizar-se mais estudos etnobotânicos na região norte do Tocantins, com o intuito de melhor explorar a cultura local e contribuir para o maior esclarecimento em relação ao uso popular e as evidências científicas.

Espera-se esse estudo contribua para a integração da farmacêutica alopática e fitoterápica, dado o perfil socioeconômico da região, agregará na anamnese clínica por suscitar questionamentos relevantes para a construção dos parâmetros patológicos do paciente e, consequentemente, realizar solicitação de exames e/ou prescrição de medicamentos de modo mais assertivo.