Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A dimensão da espiritualidade como potência no cuidado em saúde e no universo das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde.
Fabiola Fernandes Bersot Magalhães, Thiago Dias Sarti, Maria Angélica Carvalho Andrade

Última alteração: 2022-02-20

Resumo


Uma pesquisa do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Espírito Santo, desenvolvida no âmbito da rede de ações e serviços públicos que compõem a Política Municipal de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) em Vitória- ES, trabalhou a perspectiva do acesso às PICS dando voz aos usuários do SUS de uma Unidade de Saúde da Família. O estudo de abordagem qualitativa contemplou 29 usuários que participaram de entrevistas semiestruturadas, além da observação participante com a construção de um diário de campo, no período de setembro a outubro de 2018. Dos encontros inusitados no espaço de espera da unidade de saúde, um senhor de 94 anos apresentou-se como índio “Poti” e, por um acaso, trouxe a dimensão da espiritualidade em saúde para ser discutida na pesquisa. Um raizeiro, como também se denominou, aguardava aferição da pressão arterial pelo profissional de saúde da unidade, de rotina, e dizia possuir distintas formas e saberes possíveis de tratar doenças, mas que eram desacreditadas pelos “dotô médicos”. A entrevista de fato, contemplada pelo estudo, aconteceu na casa do índio Poti, na presença da família e onde este se colocou à vontade para relatar sobre suas experiências com raízes e práticas espirituais nos tratamentos de enfermidades. Os rituais espirituais no próprio lar ou em “centros espíritas” sempre foram a primeira opção de tratamento de saúde na família, ocorridas de forma velada, sem relatos aos médicos por medo de julgamentos. Por entender que a espiritualidade é um termo que permeia o conceito de saúde, o objetivo desse relato é colocá-la em discussão enquanto opção de tratamento de doenças, produção de saúde e prática integrativa. Foi possível reconhecer na pesquisa que, embora esse tema não tenha feito parte dos objetivos, o surgimento dessa forma de cuidado entre os entrevistados foi reconhecido como relevante para discussão por despertar na pesquisadora curiosidades sobre  a temática e a certeza de que existem usuários onde o processo saúde-doença é vivido, representado e significado a partir da espiritualidade, pois mesmo estando fora do contexto da rede de saúde, a espiritualidade atravessou as PICS institucionalizadas e se colocou presente e potente no cuidado. É sabido que algumas PICS promovem uma comunicação mais fácil, com valores espirituais das várias culturas, religiões e tradições. Outras já apresentam esses aspectos espirituais incorporados em seus conhecimentos e atuações. Vale esclarecer que a Política Nacional de PICS (PNPIC) não elenca tratamentos espirituais como uma prática alternativa de saúde, mesmo a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerando que a espiritualidade esteja presente nos domínios e conceitos de qualidade de vida. Assim sendo e, baseado na importância de se contemplar a individualidade e a integralidade do indivíduo como estabelecem os princípios do SUS, conclui-se que a espiritualidade possa ser retratada no cuidado, pois a saúde, quando vista de forma integral, deixa de ser uma questão isolada a ser mantida ou restabelecida, e passa a fazer parte das diversas relações existentes entre todos os sujeitos e condicionantes envolvidos no processo, suas crenças, cultura, desejos e saberes.