Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Educação em saúde na atenção básica
Gabriela Oliveira Parentes da Costa, Ravena de Sousa Alencar Ferreira, Andressa Maria Laurindo Souza, Fábio Soares Lima Silva, Eduardo Melo Campelo, Wiltar Teles Santos Marques, Fernando Lopes e Silva-Júnior

Última alteração: 2022-02-05

Resumo


Introdução

 

A educação em saúde contribui para sanar problemas enfrentados no cotidiano real e muitas vezes, precário da comunidade. Se modela de acordo com o contexto encontrado visando reduzir vulnerabilidades sociais, contribuindo para a redução dos índices de adoecimento.

Um fator que dificulta o cuidado em saúde é a falta de escolaridade, que atrelada a uma linguagem engessada por parte dos profissionais, atrapalham a adesão desde os medicamentos prescritos e vão até os cuidados com tratamento não farmacológico de diversas doenças crônicas.

A educação em saúde veio para quebrar a barreira que dificulta o processo de autocuidado, através de ações educativas de fácil entendimento e condução, dinâmicas de grupo, encontro de grupos para troca de experiência, bem como a capacitação dos profissionais, que precisam de preparo para conduzir as orientações em saúde de forma mais clara possível.

Com ênfase na capacitação dos profissionais de saúde, o Ministério da Saúde criou a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde para capacitar os profissionais que atuam junto ao Sistema Único de Saúde (SUS), no intuito de implementar a Educação Permanente em Saúde (EPS). Por sua vez, a EPS visa melhorar a qualidade da assistência individualizada prestada, priorizando a realidade de cada região. Pelo exposto, essa pesquisa teve o objetivo de investigar quais as evidências na literatura sobre a educação em saúde na atenção básica.

 

Método do estudo

 

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. O estudo percorreu as etapas metodológicas exigidas, sendo que a primeira etapa constituiu na pergunta norteadora: Qual a produção científica que trata da educação em saúde na atenção básica?

Para responder à pergunta que norteou esta revisão, fundamentou-se em artigos encontrados na Biblioteca Virtual em Saúde, com recorte temporal de 2015 a 2019, utilizando-se dos descritores “Educação em Saúde”; “Educação Continuada”; “Atenção Primária à Saúde” e termo booleano “AND”. A coleta de dados ocorreu em julho de 2020.

Foram identificados 1.131 artigos. Com aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram 60 artigos que tiveram os títulos e resumos lidos. Após essa fase da seleção, apenas 24 artigos foram lidos na íntegra, excluindo-se alguns por não atender aos critérios e pergunta norteadora, somente 09 artigos estavam aptos.

Cada apreciado foi avaliado através da Classificação Hierárquica das Evidências para Avaliação de Estudos, baseado na categorização da Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ).

 

Resultados

 

Por meio de entrevista a 26 gestores municipais de saúde no Rio Grande do Norte, evidenciou-se que quase um terço destes não tinha formação na área da saúde ou em área administrativa, o que pode implicar na função exercida devido à diversas especificidades relativas ao processo de gestão em saúde, principalmente, as relacionadas ao conhecimento sobre o Sistema Único de Saúde-SUS.

Em entrevista a 21 Secretários Municipais de Saúde e Coordenadores da Atenção Básica do estado de São Paulo, puderam demonstrar através das falas dos participantes que a EPS é pouco considerada para estratégia de transformação e desenvolvimento dos trabalhadores da saúde. Segundo os gestores, existe planejamento previsto para ações de EPS, contudo, não se tem a afirmação do desenvolvimento destas ações na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde.

Em pesquisa com 120 enfermeiros, percebeu-se que as ações educativas realizadas pelos profissionais ainda são incipientes, estando a educação permanente em segundo plano e desvinculadas ao processo de trabalho na atenção básica.

Em pesquisa que buscou avaliar a utilização da Telessaúde para Educação Permanente em Saúde, percebeu-se que a utilização mensal foi superior às descritas na literatura e que os profissionais mais ativos foram os agentes comunitários e enfermeiros. Os dados colhidos representavam 13.976 teleconsultorias. Vale ressaltar que a oferta da teleducação é um instrumento de difusão de conhecimentos bastante utilizado na atualidade, e deve ser explorada para capacitação de profissionais da saúde e demais áreas.

Em meio às dificuldades para realização de capacitação da equipe durante o expediente, alguns profissionais fazem uso da tecnologia para promoção da educação em saúde, outros autores capacitaram agentes comunitários de saúde para prevenção relacionada aos problemas com álcool e outras drogas por meio da educação a distância. O resultado foi exitoso, uma vez que o curso estimulou o envolvimento dos ACS, ressignificou os conceitos e potencializou a atuação destes profissionais junto aos usuários e familiares.

Em pesquisa na atenção básica e 5 gestores da secretaria municipal de saúde de um município na Bahia, foi evidenciado um conflito no tocante ao conceito da teoria e da prática da educação permanente. Outra questão evidenciada pela fala dos entrevistados foi no tocante a insuficiência da formação e capacitação dos mesmos, sobrecarga, além da desvalorização do trabalho. Neste contexto, os autores concluíram que a educação permanente é utópica na realidade do cenário estudado, apesar das tentativas de sua implantação.

Em estudo para traçar o diagnóstico situacional dos grupos de educação em saúde com idosos, em que entrevistaram 110 profissionais, destes, 80,9% eram profissionais de saúde assistenciais e 19,1% eram profissionais em função de gerente das unidades básicas, os quais 97,3% relataram a relevância da participação do idoso em atividades educativas em grupo, contudo, somente 36,4% afirmaram a existência dessa atividade em sua unidade. Os autores concluíram que os grupos de educação em saúde são importantes para promoção do autocuidado, incentivo da autonomia e trocas de experiências, porém, enfatizaram as dificuldades para exercer as ações e a imprescindibilidade do apoio dos gerentes no processo.

Em outro estudo que teve como objetivo prestar apoio a mulher que amamenta, através de oficinas oferecidas aos Agentes Comunitários de Saúde -ACS, pode-se observar que algumas crenças e mitos sobre a amamentação eram tidas como corretas, como o tempo de amamentar, a composição do leite, fissuras, entre outros. O questionário foi aplicado antes e após as orientações e os resultados evidenciaram boa absorção do conhecimento após os esclarecimentos prestados. O curso oferecido contribuiu para a ampliação dos saberes, ao passo em que desconstruiu ideias erradas, favorecendo a atuação dos ACS na comunidade.

Outros autores também contribuíram com a educação em saúde prestando capacitação aos ACS, desta feita, sobre doações de órgãos e tecidos. Através de um questionário aplicado antes do treinamento, os autores puderam evidenciar que os agentes careciam de informações palpáveis sobre a temática e que a capacitação aos mesmos oportunizou a difusão do conhecimento consistente.

 

Considerações finais

 

Com base na pesquisa realizada pode-se evidenciar as dificuldades encontradas para desenvolver a educação em saúde na atenção básica. Uma das maiores dificuldades encontradas foi a falta de apoio dos gestores. Em várias pesquisas lidas para embasar esta revisão, pode-se perceber que este é um problema real e vivenciado em muitos estados no Brasil. Pode-se evidenciar que grande parte dos secretários de saúde, escolhidos para gerenciar a saúde nos municípios, não possuem formação ou sabem o suficiente sobre o SUS o que dificulta a evolução da assistência prestada. Salienta-se ainda, que alguns gestores culparam os profissionais da saúde pelo fracasso da implantação dos programas educativos em saúde.

Contudo, os profissionais que desenvolvem ações educativas na atenção básica citam a importância da disseminação do conhecimento entre os usuários do sistema. Percebem uma notável evolução de aprendizagem com relação ao autocuidado do usuário, com relação às medicações e a doença que possuem.