Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O que a interprofissionalidade e a interdisciplinaridade tem a nos dizer sobre uma experiência de trabalho colaborativo entre equipe de saúde da família e graduandas de Fonoaudiologia?
MICHELLY DE ANDRADE, Fernanda Norah Henrique Cardozo, Thaise Sara Costa Dias, Williana de Oliveira Silveira, Maria Eduarda de Oliveira Barbosa Cavalcante

Última alteração: 2022-02-12

Resumo


Apresentação

Aspectos como clareza de papéis, trabalho em equipe, liderança, resolução de conflitos, atenção centrada no paciente e comunicação têm sido afirmados como domínios de habilidades profissionais indispensáveis para promover um trabalho colaborativo e qualificar o cuidado em saúde. Tais competências fazem parte da matriz conceitual da Interprofissionalidade, e seus derivados, como a Educação Interprofissional e a Prática Colaborativa. O domínio “clareza de papéis” é fomentado quando dois ou mais profissionais, de áreas distintas, tem a possibilidade de aprenderem de forma interativa, sobre os outros e com os outros a construir práticas de cuidado de forma colaborativa. As reflexões decorrentes desses encontros possibilitam que o profissional compreenda qual a sua responsabilidade em cada situação e estimula o trabalho em equipe. A comunicação é uma forte aliada nesse desempenho no que diz respeito à prática dialógica necessária para a troca de informações, levantamento de questões e/ou insatisfações do usuário, esclarecimento de dúvidas de forma compreensível para o andamento do processo de trabalho em questão. Através da comunicação é possível identificar dispositivos de conflitos e encontrar meios para a sua resolução, e com isso, ofertar uma atenção centrada no paciente, na qual o usuário/família/ comunidade possa expressar suas reais necessidades, de forma acolhedora, resolutiva e principalmente, subjetiva. Esses aspectos juntos contribuem ainda para uma efetiva interdisciplinaridade, estimulada nas políticas públicas de saúde, como por exemplo no trabalho de matriciamento realizado pelas equipes NASF-AB, em suas dimensões técnico-pedagógica e clínico-assistencial. Na prática, essa relação procura ampliar visões, ao desfragmentar a formação do conhecimento, potencializando o pensamento crítico e o fortalecimento de vínculos entre os atores envolvidos. Assim, interprofissionalidade e interdisciplinaridade são complementares para o desenvolvimento de uma nova tecnologia de cuidado, impulsionado como uma estratégia para a formação de um profissional crítico, criativo e aberto para o novo, habilidades profissionais que irão refletir diretamente no mundo do trabalho. Sendo assim, o objetivo deste resumo é relatar a experiência de trabalho colaborativo em uma unidade básica de saúde vivenciado por graduandas de Fonoaudiologia.

Desenvolvimento do trabalho:

A vivência de estudantes de Fonoaudiologia ocorreu no estágio de Saúde Coletiva, realizado em uma Unidade de Saúde da Família (USF) durante os meses de agosto a dezembro de 2021, momento no qual se possibilitou aos cursos de saúde o retorno às atividades presenciais nos serviços de saúde municipal, restritas até então devido à Pandemia da COVID-19 vigente. Nesse período foi possível a realização de rodízios entre os diferentes setores da unidade, que possibilitou produzir práticas interprofissionais colaborativas como: auxiliar no preenchimento de protocolos, facilitar atendimento na Farmácia, na recepção, na sala de coleta de exames e na imunização, realizar interconsultas na USF (atendimentos gerais, pré-natal, puericultura etc.) e/ou domicílio (visita domiciliar), participar das reuniões da equipe, planejar e executar ações que propiciaram a difusão de temas específicos à Fonoaudiologia, como também, comuns as demais profissões existentes no serviço. Destacam-se ainda duas experiências: 1. De caráter técnico-pedagógico. Após algumas vivências na USF, se constatou a necessidade de melhoria dos processos comunicativos entre os atores desse serviço. Para tanto, uma ação sobre comunicação foi planejada pelas discentes estagiárias, juntamente à docente supervisora, preceptoras e gerente da unidade. A atividade foi realizada em dia de reunião geral da USF, que acontece semanalmente, reunindo as quatro equipes do serviço, totalizando 50 pessoas, aproximadamente. Uma dinâmica intitulada “Minha mente mente, meu corpo não” foi conduzida, solicitando que um profissional pudesse falar a frase “eu te amo” e outro “eu te odeio”, e a cada repetição, uma nova emoção (tristeza, medo, etc.) era empregada A percepção acerca do poder que a entonação, expressividade vocal, expressão facial e corporal geram ao comunicar, bem como a importância da comunicação assertiva no ambiente de trabalho foram trazidas à tona; e 2. De caráter clínico-assistencial. A temática da obesidade, identificada como um dos agravos mais frequente nas salas de situação das equipes, foi abordada junto aos usuários enquanto aguardavam atendimento. A ação nomeada “O que estou comendo?” foi organizada em dois momentos: 1. momento inicial informativo, e 2. momento em que os usuários eram convidados a participarem de forma mais interativa. Para isso, foi confeccionado em isopor um “minimercado” com frutas, verduras, legumes e outros alimentos geralmente presentes nas refeições da região, tendo como base os preços dos supermercados mais próximos à população assistida pela unidade. Cada item exposto continha seu respectivo preço. Após uma breve explicação sobre o tema, os usuários foram incentivados a se aproximarem da mesa e ali eles recebiam uma nota fictícia no valor de R$ 50,00 Reais para que pudessem montar sua própria cesta com produtos que consideravam saudáveis. Finalizada a montagem, eles ficavam sabendo os valores de cada produto e forma geral havia do valor fictício algum trocado, demonstrando que há condições de se alimentar bem por um baixo custo. Para finalizar o momento, dicas para incentivo de pratos criativos durante a refeição da criança e como realizá-los, foram compartilhadas, com a colaboração de uma nutricionista da USF, abordando os valores nutricionais contidos nos exemplos.

Resultados e/ou impactos:

A prática colaborativa entre as estagiárias e profissionais/usuários da USF, propiciada pelo (re)conhecimento e compreensão do processo de trabalho e das demandas do serviço, e mediada pelos conceitos da Educação Interprofissional e Interdisciplinaridade, fomentou a integração das ações de saúde entre a Fonoaudiologia e demais atores da USF. Com essa vivência, as estudantes aprenderam a valorizar a troca de saberes em ambientes profissionais e educacionais, bem como tornar significativa a aprendizagem dos envolvidos nos processos educativos em saúde. Nesse sentido, é importante destacar que a comunicação com a equipe e usuários/família foi uma ferramenta essencial durante todo o processo. Desde o fornecimento de informações ao atendimento integrado e discussão contribuiu para um planejamento mais efetivo, com estratégias mais eficazes na resolução das necessidades identificadas. Outro ponto que deve ser trazido à baila foi o de valorizar e entender as orientações trabalhadas pelos outros profissionais em momentos de interconsultas, pois colaborou com a ampliação dos conhecimentos das estagiárias e as ajudou a ver a situação caso por outra perspectiva. Tal despertar produziu evidências sobre a prática interprofissional colaborativa em saúde, no que tange à clareza de papéis e trabalho da equipe, ancoradas em um exercício contínuo de uma comunicação assertiva. As atividades vinculadas ao estágio proporcionaram maior fluidez ao processo do cuidado e ainda estimularam nos profissionais, usuários/famílias/comunidades e estudantes o entendimento sobre a relevância que cada profissão garante na produção desse cuidado.

Considerações finais:

A experiência relatada aponta para um melhor aproveitamento da inserção de estudantes da saúde nos cenários de prática, quando as vivências focam o cotidiano dos serviços, numa perspectiva de trabalho interprofissional, aliada à interdisciplinaridade. Essa vivência possibilitaria uma formação em saúde mais consciente da sua importância na produção do cuidado, e principalmente, da importância da colaboração entre si e outros profissionais. Tal oportunidade reduz egos e aumenta o sentimento de pertencimento de equipe, duas importantes condições para a construção do cuidado em saúde de qualidade. Logo, incentivar tal experiência nas graduações e nos serviços também é fomentar a inovação da Produção de Saúde/Cuidado no Brasil.