Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ENTRE O PAMPA E A FLORESTA: AS TRILHAS E CAMINHOS DO ENTRE ARTESANIAS DA DIFERENÇA
Sônia Maria Lemos, Daniele Noal Gai, Aline Milena Castro Matos, Miriam Chiara Coelho Pavan, Karla Fernanda Wunder da Silva

Última alteração: 2022-02-12

Resumo


Apresentação: O Entre Artesanias da Diferença é um projeto de pesquisa e extensão da faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O objetivo é produzir narrativas acerca dos modos de existir e aprender com a deficiência e com a loucura com pessoas com deficiência e com usuários de saúde mental, a fim de modificar processos e práticas em saúde mental e em educação especial no âmbito das redes de saúde e ensino público. Em uma parceria com uma professora da Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas (ESA/UEA) o projeto construiu uma dobra geográfica e temporal, nestes tempos de pandemia, para instituir um diálogo entre o Sul e o Norte, o pampa e a floresta, e artesaniar possibilidades e narrativas sobre a deficiência e a loucura. É neste contexto que os encontros têm acontecido para estudos, desenvolvimento de pesquisas e encontros dialógicos com usuários, movimentos sociais, professores e estudantes. Diálogo de esperançamento, daquele esperançar Freiriano, que nos envolve, que problematiza, que coletiviza e que possibilita pensar outro mundo, inclusivo, empático, solidário. Desenvolvimento: Foi no encontro de pessoas implicadas com o tema da inclusão das diferenças, da problematização das questões relativas à saúde e educação públicas como direito e política pública que o Entre nos convida a ocupar um espaço-tempo de discussão, narrativas e percursos das pessoas com deficiência e da loucura como singularidades e subjetividades.  Artesaniar de outro ponto, de outro lugar, bordar com linhas e cores diversas, diferentes, idiossincrásicas, humanas e coletivas. Nos convida a sonhar os sonhos possíveis na busca da desconstrução e enfrentamento das impossibilidades de ser e de existir na diferença, contrariando o normórico, inscrevendo e assinalando o que nos junta, nos reúne e acolhe. Um encontro afetuoso e político, como ato e como fato para construir o lugar comum, coletivo, que acolhe e que escuta. Que (re)significa e problematiza requisitos e normas, que discute conceitos, paradigmas, princípios. Que estuda coletivamente e bebe em fontes textuais que são ensinamentos, conhecimentos, mas também ins-piração. Os encontros de estudo dos textos de Ailton Krenak, com suas ideias para adiar o fim do mundo, de Bell Hooks com Ensinando a Transgredir - a educação como prática da liberdade, numa dialogicidade problematizadora, legitimamente Freiriana de aprender a aprender. Na partilha e no compartilhamento dos conceitos, afetos, sonhos, construímos as possibilidades de conversação Entre pesquisadoras, estudantes, usuárias (os), educadoras (es) etc. Longe de ser uma conversação despretensiosa, ela se instalava também nas frestas e brechas que conduzem ao enfrentamento dos estigmas, preconceitos, discriminação e isolamento, assim como uma rebelde e inconformada deve ser, na construção de argumentos. O Entre que artesaneia, borda, rasga, costura, cerze, ilumina e luta pela inclusão e por políticas públicas de saúde e educação, mas que promovam e garantam às gentes o direito de ser e de existir como cada uma é. Os três primeiros encontros do projeto foram de profunda reflexão sobre objetivos, finalidades, ações, implicações, planejamento e estudos. Como dobrar geografia e tempo, com distâncias e fusos horários para promover encontros do Sul ao Norte, entre o Pampa e a Floresta. No Entre a amizade, o afeto transversalizados pelos sonhos possíveis foram capazes de construir memórias e relicários, reconhecer percursos, histórias, existências. Promover inclusão, exercitar aprendizagens significativas com saúde e arte, com sensibilização e movimento, cor e ação, conhecimento e reflexão, na tecitura de contextos e realidades singulares e coletivos. Resultados/impactos: Foram realizados encontros de estudos e planejamento para promover a participação da comunidade nas atividades. Desta forma, os encontros realizados em 2020 conectaram os participantes em artesanias que envolveram o uso dos recursos que estavam ao alcance das pessoas, em seus espaços e moradias. Materiais lúdicos que articularam pensamentos, afetos e afetaram coletivamente os presentes virtualmente. Um dos desafios a ser superado era o de manter-se em conexão para além dos limites da internet e do que ela pode ou não aproximar. Os encontros de 2020 foram finalizados com a leituras das cartas para o Entre, um exercício de escrita e afecção na promoção de trocas e partilhas do que ficou impresso em cada uma e cada um que estiveram nas conversações. Em 2021, além das reuniões de planejamento e estudo, o Entre construiu o Diálogos SOS com arte, como um modo de socorrer as sequelas dos fatídicos eventos do primeiro semestre no Brasil, Diálogos com Judith Scott e Bispo do Rosário motivaram debates e esperançamento por uma sociedade sem asilamento e discriminação. Também costurou 3 encontros abertos à comunidade com a temática central “Entre bicicletas, amor e saúde mental: um espaço de acolhimento", realizados em agosto de 2021, protagonizaram conversações e mobilizações sobre modos de ser e de existir;  o brincar como cuidado em saúde; bora plantar? Aprendiz Griô; bora plantar? Cartas no cuidado em Educação e Saúde. Ainda foram realizados dois encontros em novembro “Transtorno do Espectro Autista e a Teoria da Subjetividade” e “Sexualidade e Pessoas com Deficiência: reflexões a partir da Interceccionalidade”. As problematizações, narrativas, artesanias promovidas pelas circularidades das temáticas levou à construção de artigos, resumos, apresentações em evento e à realização da Iª Semana de Arte Entre, realizada em dezembro de 2021, com encerramento no Parque Farroupilha/POA/RS com participação das pessoas que por lá circulavam. Entre Artesanias da Diferença promoveu caminhadas por trilhas individuais (singulares e subjetivas) e coletivas, partilhadas em ambiente virtual, mas com potência presencial dos afetos e afecções de cada um que se dispôs a percorrê-las. Considerações finais: O Entre Artesanias é um dos significantes projetos que se inscreve em cada participante de maneira bastante singular. É um convite e ao mesmo tempo uma provocação para sair da zona de conforto e olhar por outras lentes e perspectivas a Saúde e a Educação, como instrumentos de inclusão da diferença, da loucura e da pessoa com deficiência. Tensiona o que está posto e normatizado, borra fronteiras, imprime arte e saúde como princípios de bem-estar e Educação. Promovem encontros, desacomoda certezas e provoca a busca e a produção do conhecimento inclusivo, empático, solidário, implicado com o outro e com as coletividades. Mobiliza afetos, de todas as ordens, desorganiza e borda, cerze, costura de outras maneiras, confronta o estigma em suas diversas marcas. Promove memórias, daquelas que registram os acontecimentos, as histórias, as gentes para que possamos apreender a aceitação, o respeito das subjetividades dos modos de ser e existir. Impulsiona a mobilização pela construção de políticas públicas inclusivas, com responsabilidade coletiva e compromisso social. Saúde e Educação são direitos humanos, no Brasil das (os) brasileiras(os), são direitos constitucionais. O Entre é também esse espaço-tempo da resistência aos desmontes e retrocessos nas políticas de inclusão. É também onde reafirmamos os recursos que nos possibilitam a construção da resiliência para os enfrentamentos necessários à promoção das mudanças urgentes e à retomada de um outro país possível, em que arte, saúde e educação são atos políticos, instituintes do bem comum e acolhedoras das diferenças.