Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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APAGÃO DE DADOS DO SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DA COVID-19 EM MUNICÍPIOS DA BAIXADA LITOR NEA E NORTE FLUMINENSE
Francisco Roney Sousa Paiva, Júlia Martins Maltez, Laura Ruana de França Ferreira, Carlos Miguel Kleinsorgen, Mariana Vannier, Raquel Fernandes Coelho

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


Desde o início da pandemia, abril de 2020, discentes do curso de medicina da Iniciação Científica “Epidemiologia e Cuidado em Saúde” do Centro Multidisciplinar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Macaé realizam pesquisa de dados epidemiológicos relativos à COVID-19 em cidades da Baixada Litorânea e Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, a saber: Campos dos Goytacazes, Carapebus, Conceição de Macabu, Macaé, Quissamã, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Rio das Ostras. Essas pesquisas auxiliam gestores e trabalhadores na tomada de decisões em saúde. O presente trabalho tem por objetivo relatar o estado atual  da divulgação dos dados epidemiológicos relativos à pandemia de COVID-19 por alguns desses municípios, especialmente a partir dos meses de outubro e novembro de 2021, período em que o número de novos casos estava em queda no restante do país. Somado a isso, o apagão de dados dos sistemas do Ministério da Saúde ocorrido no mês de dezembro de 2021 também afetou o monitoramento e mapeamento da doença, impossibilitando o delineamento do real cenário epidemiológico regional e nacional. A partir dos resultados e na discussão, percebemos que os dados epidemiológicos em alguns municípios das regiões da Baixada Litorânea e Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro estavam deixando de ser disponibilizados nos sites e redes sociais oficiais, ao mesmo tempo em que houve apagão de dados nacionais, expondo a deficiência do sistema de informações do Ministério da Saúde.


O grupo de iniciação científica “Epidemiologia e o Cuidado em Saúde” do Centro Multidisciplinar da Universidade Federal do Rio de Janeiro  Macaé iniciou um trabalho em abril de 2020, ainda no início da pandemia, quando foi realizada prospecção de dados referentes à COVID-19. Tais informações foram organizadas em tabelas que são atualizadas diariamente pelos componentes do grupo, por meio das quais podem ser acompanhados o número de novos casos, de óbitos, de internados e de recuperados dos municípios da região Norte Fluminense, Baixada Litorânea, Estado do Rio de Janeiro e Brasil. Tal peça serviu para elaboração de notas técnicas e do projeto “Enfrentamento da COVID-19 na Região Norte Fluminense e Baixada Litorânea: Ações, perspectivas e impactos”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Multidisciplinar UFRJ Macaé Professor Aloísio Teixeira, de nº CAAE: 32186520.7.0000.5699. Os dados das tabelas foram obtidos por meio dos sites oficiais das prefeituras e por meio da divulgação da situação epidemiológica nas redes sociais oficiais, sendo feita a análise, para esse trabalho, até o mês de janeiro de 2022.


A partir dos dados analisados, foi possível observar que houve uma diminuição da frequência e da regularidade de divulgação de dados sobre o COVID-19 por parte dos municípios em questão, com exceção de Conceição de Macabu. Campos dos Goytacazes, que no período de 20/03/2020 a 13/11/2020 atualizava seus dados diariamente, ou em até 2 dias, passou a fazê-lo a cada 4 a 8 dias. Até o dia 13/08/2021, o município de Carapebus realizava atualizações 6 vezes por semana; a partir de 14/08/2021 até dia 03/01/2022, porém, a frequência se tornou irregular; de 18/12/2021 até 03/01/2022 (17 dias seguidos) não houve atualização de dados, retornando apenas a partir do dia 04/01/2022, em que passou a postar 5 dias na semana. Macaé, que postava diariamente até o dia 14/12/2021, começou a variar de 1 a 6 dias sem postagem. Já o município de Quissamã mantinha uma frequência de atualizações de 5 dias na semana; porém, a partir do dia 04/09/2021, tal frequência mostrou-se deveras irregular e, desde o dia 14/12/2021, não há dados novos. São Fidélis adotou uma frequência de divulgação irregular a partir de 06/08/2021, tendo períodos de não postagem de 1 a 5 dias seguidos. São Francisco, que postava regularmente até o dia 10/11/2021, deixou de atualizar seus dados a partir do dia 17/11/2021, ou seja, há mais de 2 meses. São João da Barra manteve uma frequência de 5 dias por semana até o dia 17/09/2021, quando passou a divulgar com bastante irregularidade; agora, desde o dia 12/11/2021, as postagens estão sendo uma vez na semana. Por fim, o município de Rio das Ostras também apresentou irregularidade na frequência de atualizações, diminuindo a frequência a partir do dia 28/09/2021; houve um período de até 15 dias consecutivos (30/12/2021 a 13/01/2021) sem postagem.

No final do ano de 2021, a nova variante Ômicron foi designada pela Organização Mundial de Saúde - OMS como de risco, e, logo no início do ano de 2022, houve crescimento no número de novos casos por data de notificação, reconhecido pelo CONASS (Conselho Nacional de Secretários da Saúde) como uma nova onda de COVID-19 no Brasil. Em meio a esse fato, a falta de atualização de dados pelos municípios constituem um “apagão” significativo de informação para a população e de produção de conhecimento tão necessário nesse momento de alarde. Somado a isso, a instabilidade nos sistemas de informações, anunciada desde o início da pandemia, tem sido um entrave para o desenvolvimento de ações efetivas de combate à pandemia.

 


Depreende-se, portanto, a necessidade imperativa da constante atualização de dados epidemiológicos em canais oficiais, de modo ao pleno acesso por parte da população em geral e por parte do público especializado, em especial o acadêmico. Em face do contexto pandêmico ocasionado pelo Sar-Cov-2 e suas variantes, é crucial a plena produção científica relacionada ao vírus em questão, tal confecção científica é deveras prejudicada pela não alimentação de dados epidemiológicos por parte das autoridades sanitárias competentes, no que tange à esfera executiva, responsável pela atualização e divulgação de informações referentes à circulação viral, taxas de transmissão, de óbitos, de internações e de outros fatores os quais as autoridades julgarem pertinentes.

Além disso, mesmo que haja atualizações esporádicas nos meios oficiais, a não regularidade atrapalha enormemente a prospecção de dados, tendo em vista a irregularidade demasiada demandar que o pesquisador “adivinhe” quando coletar dados epidemiológicos. Nesse sentido, faz-se necessária mais regularidade e rigidez quanto à atualização de dados epidemiológicos referentes ao Sar-Cov-2, de modo a beneficiar tanto a produção científica acadêmica como também as próprias autoridades de saúde, as quais terão robusto arcabouço informacional para melhor embasar a tomada de decisões sanitárias. E com isso, salvar o maior número de vidas, orientando a importância da vacinação e das medidas protetivas como o uso de máscaras e evitar aglomerações.