Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EDUCAÇÃO EM SAÚDE COM FOCO NA POPULAÇÃO INDÍGENA: ESTUDO BIBLIOMÉTRICO
RILVA LOPES DE SOUSA-MUNOZ

Última alteração: 2022-02-11

Resumo


Apresentação

A educação popular em saúde está fortemente associada ao bem-estar geral das populações. A evolução histórica do conceito de educação em saúde e a produção científica sobre o tema têm apresentado avanços, mas, na prática, ainda há baixa implementação em populações não-indígenas e supõe-se que seja ainda menor em povos indígenas. O objetivo deste estudo é contribuir para mapear a produção científica sobre educação em saúde indígena usando uma abordagem bibliométrica, determinando especificamente o volume e os padrões de crescimento de citações de publicações de alto impacto referentes à educação em saúde indígena entre 1990 e 2020.

Método

Trata-se de um estudo bibliométrico com abordagem quantitativa. A Web of Science (WoS) foi usada para identificar todas as publicações referentes à educação em saúde de indígenas de 1990 a 2020, descritiva (indicadores bibliométricos) e relacional (diferentes países). As questões analisadas incluíram natureza, foco e tendências de produção de pesquisa. Foram usados o software Excel para analisar o conjunto de dados. A busca foi feita no dia 15 de setembro de 2020 por critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão foram: artigos completos, pesquisa original, ensaios teóricos, reflexão, relato de experiência, editorial, capítulo de livro, anais de congressos e revisões, nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados entre 1990 e 2020. Os critérios de exclusão foram: textos fora do escopo desta bibliometria, textos em duplicidade e estudos não disponíveis na íntegra. As palavras-chaves utilizadas foram (("Indigenous Peoples" OR "Health of Indigenous Peoples" AND "Health Education" OR "Community Health Education")), sendo refinada por período (setembro de 1990 a setembro de 2020) e campos (título, resumo, palavras-chave do autor). A análise dos dados teve a finalidade de responder à seguinte pergunta: Quais os indicadores bibliométricos da produção científica sobre educação em saúde para povos indígenas entre 1990 e 2020? A análise dos dados foi feita de forma descritiva para as variáveis dos indicadores bibliométricos, que foram: número total de publicações, países, tipo, número de citações, periódicos, fator de impacto do periódico, índice h e área.

Resultados

O número total de publicações foi de 57. Após exclusão dos artigos pelo título e pelo resumo, por não se relacionarem ao objetivo da pesquisa, foram selecionados 29. Quanto ao idioma, 27 foram publicados em inglês, um em português e um em espanhol. A soma do número de citações foi de 432, com média de 14,9 citações por publicação e o h-index foi de 12. As frequências mais elevadas das publicações ocorreram em 2016, 2018, 2019 e 2020. Ficou explícito um crescente aumento do interesse em trabalhos envolvendo a educação em saúde voltada à população indígena na última década. Enquanto o limite temporal do presente estudo se iniciou no ano de 1990, a primeira citação foi encontrada apenas em 2006. Nos anos seguintes, retornou ao padrão de ausência até 2009, quando houve apenas uma citação. Em seguida, houve notável aumento de citações, com pico em 2019. É interessante observar que, apesar de um pouco menor, o número de citações de 2020 se manteve na mesma faixa de contagens que o de 2019. Foram observadas publicações nas áreas de Ciências da Vida, Ciências Tecnológicas e Ciências Sociais. Foi percebida a presença expressiva da subárea “Saúde pública ocupacional e ambiental”, o que indica que a educação em saúde da população indígena é, de fato, um problema de saúde pública. Além disso, as outras duas áreas principais foram “serviços de ciências da saúde” e “pesquisa sobre educação/ educacional”, indicando a relação desses tópicos com o tema. A Austrália se mostrou proeminente entre os resultados por país, sendo seguida por Canadá e Estados Unidos. Percentualmente, aproximadamente 55,1% dos trabalhos têm a Austrália como afiliação principal. A maioria (77,4%) dos trabalhos foi publicada como artigo original. Percebe-se a mudança do perfil de estudo desse tema. Em cerca de 30 anos, apenas nos últimos 15 foi possível notar a presença de resultados e, ainda sim, a quantidade significativa só ocorreu a partir de 2006. Isso exemplifica a baixa qualidade da educação em saúde dos indígenas no mundo. Ao observar o idioma predominante para medir a intensidade da pesquisa, o escopo atual de resultados pode marginalizar países cujos idiomas nativos não são o inglês. Embora a dimensão da frequência das citações mostre países predominantemente anglófonos (Austrália, Canadá e Estados Unidos) no topo da classificação, não se trata de um viés apenas de linguagem, mas sobretudo em consequência de fatores econômicos. Os países com alto nível de educação em saúde são aqueles que implementaram políticas consistentes e em longo prazo com foco nessa questão. O aumento do escopo de trabalhos não foi homogêneo em escala global: a Austrália apresentou mais resultados que todos os países, o que se relaciona à presença dos descritores “ancestrais oceânicos”, “Austrália” e “ilhas Estreito de Torres”. Mais de 50% dos trabalhos possuíam autores ou coautores com afiliação australiana, o que sugere uma maior preocupação com a saúde indígena na própria nação. Em contraponto, o fato de que no Brasil foram encontrados apenas dois estudos, publicados nos últimos anos, reflete a maneira como a sociedade brasileira enxerga esse grupo. Quanto à distribuição das publicações por subárea, a predominância da saúde pública ocupacional e ambiental ilustra um panorama em que não apenas a etnicidade da população é considerada na avaliação do cuidado e da educação, mas também o contexto social no qual essas populações estão inseridas. A forte presença de subáreas relacionadas à esfera dos estudos sociais é coerente com a proposta do trabalho quanto à educação em saúde. Além disso, sugere maior preocupação com as populações indígenas entre estudiosos da área, sendo interessante expandir o diálogo em outros campos de estudo das Ciências da Saúde. Ao analisar-se os tipos de publicação, é perceptível o predomínio de trabalhos publicados na forma de artigo original, o que mostra um empenho, por parte dos pesquisadores, em estudar e desenvolver trabalhos em relação a um tema socialmente negligenciado. A alta quantidade de publicações sob a forma de revisão indica interesse em entender e buscar dados e informações já publicadas anteriormente acerca dessa temática, o que é bastante pertinente, haja vista a importância de se estudar o passado para compreender o presente e planejar o futuro.

Este estudo contribui com a discussão no campo da educação em saúde indígena ao apontar a escassa produção global sobre a temática, a despeito da sua relevância.

Considerações Finais

Embora tenha havido um crescimento global nas publicações referentes à educação em saúde indígena, a atenção dada a essa temática é baixa, apresentando, porém, aumento na última década e com presença de subáreas relacionadas às Ciências Sociais. A baixa visibilidade da pesquisa global, no escopo da educação em saúde indígena, demonstra um nível de preocupação incompatível com a gravidade dos problemas de saúde dessa população. A particular escassez da produção científica brasileira a respeito da educação em saúde de populações indígenas mostra o ínfimo interesse na temática por parte de autores brasileiros nas publicações de impacto internacional. É necessário o desenvolvimento de mais estudos sobre esse tópico em busca da promoção e equidade em saúde do ponto de vista intercultural, reafirmando-se os direitos dos povos indígenas em todo o mundo.