Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO A PARTIR DO OLHAR DOS TRABALHADORES EM HOSPITAL-MATERNIDADE DE PERNAMBUCO
Raissa Soares Oliveira, Suzana Lins Silva, Erotildes Antunes Xavier, Luiza Maria Plentz, Sandra Maria de Oliveira Pereira, Angela Silva Vieira Santos, Márcia Cristina Martins Santos, Ana Carolina Feitosa Figueiredo Guido

Última alteração: 2022-02-12

Resumo


Apresentação: Em janeiro de 2021 os gestores do Hospital Barão de Lucena (HBL) foram convidados pela direção da Secretaria Estadual de Saúde (SES) para participarem do projeto “Construção de capacidade gestora local para qualificação das maternidades do estado de Pernambuco: formação-intervenção em metodologia de análise dos serviços, processos de trabalho, planejamento e dimensionamento da força de trabalho”, em parceria com a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) e Associação Brasileira da Rede Unida. O projeto reforça diretrizes estratégicas da SES/PE na perspectiva de qualificar as maternidades do Estado, bem como, consolidar a linha de cuidado mãe-bebê, realizando o dimensionamento da força de trabalho, a partir de uma perspectiva multidisciplinar que estimulem as boas práticas de atenção ao parto e nascimento, conforme políticas preconizadas pelo programa da Rede Cegonha. Neste cenário, estabeleceu-se como objetivo relatar a experiência dos partícipes sobre a elaboração de estratégias para um plano de intervenção vinculado ao projeto de qualificação das maternidades do estado de Pernambuco. Desenvolvimento do trabalho: relato de experiência realizado no HBL, um hospital geral, de alta complexidade, com 385 leitos e considerado como referência para o parto de alto risco na I Regional de Saúde. A formação-intervenção ocorreu em quatro módulos e participaram nove profissionais que representavam os partícipes da turma do HBL. Durante os módulos II e III os partícipes conduziram e incentivaram 170 trabalhadores do HBL a responderam um questionário referente às práticas realizadas pelos mesmos junto ao serviço, visando o mapeamento do escopo de práticas dos trabalhadores, bem como, identificar sua percepção sobre o ambiente/condições de trabalho e sugestões para melhorias e qualificação da maternidade. Os questionários foram respondidos por profissionais distribuídos nos cargos/ocupações: coordenadores, assistentes, técnicos, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, psicólogos, farmacêuticos, nutricionistas, recepcionistas, vigilantes, auxiliar de serviço geral, maqueiros, fonoaudiólogo, vigilantes, auxiliar de serviços gerais, técnico de laboratório, biomédico e fisioterapeuta. Nas respostas predominou a manifestação de especial apreço pelo trabalho que realizam junto à maternidade, bem como, o imenso orgulho em fazer parte desta importante e histórica instituição hospitalar do Estado de Pernambuco. Os trabalhadores, em seus comentários, expressaram a confiança de que sempre é possível promover melhorias na maternidade, que foram sistematizadas e agrupadas em quatro grandes categorias: a) superlotação do serviço, em especial, na emergência obstétrica e unidade neonatal; b) oferta irregular de alguns insumos e equipamentos (obsoletos); c) fragilidades nos processos de comunicação, agravados pela descontinuidade física das linhas de cuidado; e, d) estrutura antiga (física, tecnológica, elétrica, condições ruins/limitadas para mobilidade interna, fluxos desconexos das linhas/estações de cuidado, entre outras situações características de uma construção predial antiga que carece de reforma geral) e que segundo a direção do HBL já consta do plano de obras da SES/PE. Os partícipes da “Turma” em formação-intervenção, alinhados com a direção do HBL e considerando o critério de seleção de problemas, passíveis de intervenção com autonomia local acordaram em eleger o problema da superlotação do serviço. Por sua vez, a Superintendência Médica do HBL sugeriu que os partícipes considerassem analisar e propor medidas para acelerar as altas e gerenciamento dos leitos da maternidade. Como instrumento de investigação de problemas foi utilizado o método da “Árvore de problemas – causas e consequências”, tendo como pressuposto de problema central: “necessidade de gerenciamento mais eficaz de leitos na maternidade”. Evidenciou-se como principais causas para a existência de tal problema central: fluxos institucionais das linhas de cuidado mãe-bebê pouco conhecidos pelos profissionais da maternidade; fragilidade no monitoramento do tempo de permanência das usuárias nas diversas áreas de cuidado da maternidade; não oficialização do fluxo das linhas de cuidado; necessidade da gestão reafirmar critérios de uso de leitos e fluxos; atrasos de altas por questões sociais (visão paternalista de equipes); insegurança dos profissionais com relação a continuidade do cuidado, atrasando as altas; demora para sair os resultados de exames (USG e laboratoriais)  e portanto, mantendo a paciente internada por mais tempo; desproporcional distribuição de leitos nas áreas de cuidado; disposição das linhas e áreas de cuidado não contempla todos os perfis de pacientes, entre outras causas não relacionadas tão diretamente com o problema central. Da mesma forma, foi possível constatar consequências negativas para o serviço, dado a persistência do problema central, tais como: aumento do tempo médio de permanência das usuárias nos leitos da maternidade e portanto, aumento da taxa de ocupação dos leitos, maior risco de infecção hospitalar e mais custos de cada internação; superlotação frequente em determinadas áreas de cuidado; desgaste físico e emocional, adoecimento (crônico) e elevação de taxa de absenteísmo dos trabalhadores; limitação da presença do acompanhante,   insatisfação dos usuários; assistência de pacientes em setores inadequados devido à superlotação, comprometimento da qualidade do cuidado  e insatisfação de trabalhadores; entre outras consequências sem ligação direta com o problema central. Por fim, constatou-se que atualmente o HBL funciona acima da sua capacidade de suporte, principalmente devido ao aumento do tempo de permanência da mulher na maternidade acarretando uma assistência precária e sobrecarga de trabalho aos trabalhadores. Nesta perspectiva, justifica-se a necessidade de “gerenciamento mais eficaz de leitos para adequada alocação e transferência de pacientes nas áreas de cuidado e altas oportunas”. Resultados e/ou impactos: A partir de reflexões e análises sobre a rede, os escopos do serviço e das práticas dos trabalhadores, os partícipes construíram um conjunto de objetivos e ações para compor o Plano de Intervenção que, além de enfrentar o problema da superlotação, qualificar os fluxos e as práticas de cuidado para mulheres e bebês. O objetivo central do plano foi “Otimizar a utilização dos leitos da maternidade”, desdobrado em objetivos específicos: (1) Elaborar critérios técnico-institucionais sobre internação e transferência/ remanejamento de pacientes em cada área de cuidado da maternidade e altas hospitalares oportunas; (2) Sensibilizar os trabalhadores sobre a importância e critérios para utilização adequada dos leitos de cada área de cuidado da maternidade; (3) Estabelecer sistema de monitoramento, através de indicadores, para o uso adequado da estrutura de cada área de cuidado e das altas hospitalares; (4) Programar e executar as ações descritas acima através de um plano de educação permanente orientados pelas normas dos Núcleos Internos de Regulação (NIR) de leitos hospitalares. O Plano de Intervenção pactuado com a equipe, é composto por outros elementos essenciais para a sua implementação, quais sejam: ações e estratégias de educação permanente, prazos para execução das ações, responsáveis, resultados esperados e recursos necessários. Considerações finais: O desenvolvimento das ações de educação permanente junto aos profissionais busca favorecer o processo de construção da consciência coletiva sobre a necessidade de bem gerir o uso de leitos na maternidade e parte da dedicação de bem cuidar o usuário. A construção desse projeto traz à tona um conjunto de questões amplas e relevantes com as quais a força de trabalho e a equipe gestora traçaram como um dos focos de sua atuação. Considera-se relevante explicitar o caminho das práticas, de forma que oriente a equipe para uma busca permanente de qualificação do cuidado mãe-bebê. O projeto torna-se possível uma vez que a sua construção aconteceu analisando problemas reais do cotidiano do serviço, incluindo os trabalhadores da maternidade, gestores locais estaduais e tomando como base as boas práticas obstétricas e neonatais pautadas em orientações mundiais de bons indicadores e adequado uso dos recursos disponíveis.