Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A História da Loucura no Brasil: uma questão também racial
OLGA DAMASCENO NOGUEIRA DE SOUSA, Leônia Cavalcante Teixeira, Clarissa Dantas Carvalho

Última alteração: 2022-02-20

Resumo


O presente trabalho consiste em um recorte da dissertação de mestrado intitulada: Psicanálise e Psicose: os efeitos clínicos institucionais do dispositivo construção do caso clínico em um serviço residencial terapêutico. Defendido no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza. Dessa forma, o trabalho objetiva apresentar parte da revisão em literatura em que se detém discutir como raça apesar de fazer parte a noção de loucura construída no Brasil são desconsideradas nas bases epistemológicas da reforma psiquiátrica brasileira. No Brasil, uma instituição especificamente destinada à loucura começou a ser definida no período do Segundo Império e no início do Período Republicano. É sabido que o primeiro local dedicado especificamente aos insanos foi fundado pelo Imperador Dom Pedro II, espaço anexo à Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro, levando o mesmo nome do criador, Hospício Dom Pedro II. A psiquiatria começou a ser instituída no Brasil em meados das décadas de 1920-1930, neste período inspirado no próprio criador da psiquiatria, Pinel, foi influenciada fortemente nas ideias de degenerescência e eugenia, criada por Morel e Galton, respectivamente. Tais ideias funda-se no pensamento colonial de que a pobreza e a raça seriam condições intrisicas de adoecimento mental. O alienismo (primeiro nome que viria ser a psiquiátrica) e o sanitarismo constrói uma aliança. O médico sanitarista deveria interferir, nos hábitos da população, no que comem, na forma de vestir, no comportamento das crianças, higienização dos corpos. O trabalho teve como metodologia nesse recorte a revisão narrativa da literatura, que considera contextualizar o tema de forma ampla, o autor traz suas ideias a fim de estabelecer “o estado da arte” de um determinado assunto. As bases de dados utilizada para pesquisa foram: EBSCO, Portal de Periódicos Capes, Biblioteca Virtual em Saúde, além de livros de autores como Michel Foucault e Frantz Fanon. A Pesquisa foi realizada de dezembro de 2020 a junho de 2021. Os descritores utilizados foram: loucura, raça, colonialismo e Reforma Psiquiátrica. O pensamento fanoniano embora seja inspiração para Franco Basaglia(autor base da Reforma Psiquiátrica brasileira) não comparece na história da Reforma. Fanon defende, para que exista alienação mental, é necessária a alienação do ser humano, ou seja, o doente mental se aliena de si, dos outros e do social. A doença mental trata-se de uma patologia da liberdade. A doença não é uma questão meramente individual, mas se relaciona com a questão interssociais. Do ponto de vista da colonização, a alienação mental é uma expressão da cisão colonial, uma vez que o colonizado é visto como o não ser, já que o parâmetro do humano é o ser europeu. A herança colonial no Brasil convoca pensar as questões de raça uma vez que não é possível propor uma sociedade antimanicomial sem considerar que a maioria das pessoas encarceradas em prisões ou hospitais psiquiátricos são negras e, ainda, que a maioria dos usuários dos serviços substitutivos, como CAPS, são negros e pobres, herdeiras da ferida colonial.