Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Desafios da assistência direta no contexto da crise sanitária imposta pela covid-19
Afonso Ricardo de Lima Cavalcante, Thereza Maria Magalhães Moreira, Açucena Leal de Araújo, Sarah Ellen da Paz Fabricio, Samir Gabriel Vasconcelos Azevedo, Manuelle Maria Marques Matias, Josiane Teresinha Ribeiro de Souza, Talita Abi Rios Timmermann

Última alteração: 2022-05-13

Resumo


APRESENTAÇÃO

Desde dezembro 2019, o mundo tem experimentado de forma sistêmica a agudização sanitária, imposta pelo fenômeno COVID-19. Além disso, no cenário brasileiro, constata-se a militarização e o negacionismo, impostos pelo governo em nível central. De maneira notável, evidenciam-se tomadas de decisões arbitrárias e unilaterais, que causam rupturas, associadas ao desmonte de programas e linhas de cuidado no campo da saúde e assistência social. O monopólio imposto pelo governo federal reverbera clara e acentuada ruptura, com possibilidades de mitigação dos efeitos da pandemia COVID-19. Instaura-se a indisponibilidade dos dispositivos assistenciais para absorver tamanha demanda, fruto da precarização da força de trabalho e do não financiamento dos dispositivos assistenciais, o que compromete a oferta, demanda e manutenção do cuidado a ser disponibilizado. Materializa-se a legitimação de um sistema agudizado e com demandas emergentes e com gestão central claramente incipiente.

DESENVOLVIMENTO

São muitos os desafios para o incremento de assistência direta de qualidade. O sistema de saúde se encontra asfixiado pelas injunções da crise sanitária, além do não financiamento massificado e do sequestro da manutenção do cuidado longitudinal, que gera profunda descontinuidade. Nesse mote, os deslocamentos e abordagens se voltam, em sua maioria, para a lógica negacionista, biologicista, no adestramento do corpo, na hegemonia de um cuidado ainda médico centrado, anulando o tecido social e a constituição das singularidades existentes. Romper com a suposta neutralidade na dimensão operativa, fortemente influenciada pelo regime de trabalho produtivista instaurado, associado ao medo de se contaminar e morrer imputado pela pandemia, modula a incorporação de novos modos de cuidar na Rede de Atenção à Saúde (RAS), pois os desafios são múltiplos e têm características multifatoriais. Sabidamente, assegurar uma atenção inegral, reconhecendo as ações intersetoriais e com ampla participação dos coletivos, demarca construir fluxos de comunicação, democratizar as relações do cotidiano presentes sob diversas modelagens.  Este estudo teve como objetivo: desvelar os desafios da assistência direta no contexto da crise sanitária imposta pela COVID-19. Trata-se de relato de experiência de profissionais que transitam no campo da gestão, assistência e docência em uma capital nordestina.

RESULTADOS

Tem sido um desafio lidar com as disparidades e contextos multifacetados frente à pandemia COVID-19. Ela tem promovido aridez no contexto assistencial direto, reconhecendo novas modelagens terapêuticas, distanciamento progressivo, novas regras e hábitos sociais, além da segregação e compartimentalização do cuidado. Nesse cenário, reconhece-se que a terapêutica busca centralidade na remissão dos sintomas. O contexto familiar e social dos sujeitos encontra-se capturados pelo poder sanitário. A pandemia criou um hiato coletivo, propulsor de vazios assistenciais, marcado por enclausuramentos e temor da morte. Dada a amplitude de abrangência, as demandas polissêmicas advindas do cenário assistencial têm promovido confronto, pois formular propostas terapêuticas eficazes e eficientes, construindo práticas compartilhadas e reconhecendo as necessidades dos sujeitos eclode como desafio a ser equacionado no cotidiano. Reverbera, paulatinamente buscar personalizar esse cuidado com estratégias contra-hegemônicas, reconhecendo a inclusão do corpo social e a pluralidade advinda de corpos pulsantes. Por outro lado, o descompasso gerado pelo progressivo não financiamento das políticas de atenção à saúde e o exílio de linhas de cuidado até então criadas e instituídas pelo governo Lula, de maneira notável, concedem materialidade ao contraste de um Sistema Único de Saúde (SUS) que precisa “resistir” e atender às demandas das populações. Instaura-se um regime totalitarista e negacionista em meio à crise sanitária global, que sabidamente tem efeitos polissêmicos na saúde. Sob essa ênfase, desconstruir e construir habilidades, instrumentalizando uma atenção centrada nas demandas, instituindo fluxos de comunicação terapêutica e um cuidado capacitante, reverbera como busca cotidiana. Nesse intento, reconhecer os cuidados sanitários demandados pela COVID-19 demanda romper com o minimalismo estrutural, com os vazios assistenciais capturado pelas exigências de mercado presentes sob diversas modelagens, reconhecendo ser possível se fazer próximo, mesmo estando distante. O cuidado coletivo, plural e singular, materializa-se como produto finalístico majoritariamente da Enfermagem. Constata-se, ser necessário desenvolver olhar contextualizado, fabricando possibilidades, mobilizando diferentes saberes e fazeres, vislumbrando o cuidado integral e emancipador. Sumariamente, demanda dialogar organicamente, conjecturando elementos fundamentais para assistência de qualidade, capaz de superar dicotomias que atravessam o cotidiano da assistência. Incita o estabelecimento de novos fluxos, estruturalmente conectados e com potencial de capilaridade, articulando verticalmente e horizontalmente as ações. Urge a necessidade de maior aproximação e interação, reconhecendo ser possível superar o medo e a insegurança, discutindo possibilidades de enfrentamentos e a implementação de medidas rigorosas para o controle da propagação da infecção. Nesse mote, legitimar a ação comunicativa, mitigando os efeitos da crise sanitária que assola municípios e estados brasileiros, demanda reconhecer os princípios da universalidade, equidade, integralidade, controle social e de se contrapor a determinações unilaterais por parte do governo em curso.   Destarte, romper com regimes políticos ditatoriais, conformismo e modo cartesiano de fazer assistência implica validar o esforço crescente para debelar hegemonia de modelos tradicionalistas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a constituição de um Sistema Único de Saúde (SUS) com capacidade resolutiva, faz-se necessário reconhecer distanciamentos e aproximações, viabilizando espaços de diálogo, que contribuam com a adoção de estratégias mobilizadoras, sendo transversal nos três níveis de atenção (atenção primária, secundária e terciária). Em linhas gerais, assegurar uma atenção integral e humanizadora aos extratos populares, instrumentalizando aproximações com o contexto social e da saúde, subjaz, favorecer a produção de uma RAS integrada, operando no compartilhamento desse cuidado. De modo operativo, superar fragilidades implica fugir da naturalização das práticas e modos de atenção à saúde instituídos de modo central e periférico, legitimando a tutela do cuidado com capacidade emancipadora. Romper com vazios assistenciais impostos pela crise sanitária em curso e o negacionismo outorgado pelo governo federal conjectura, sobretudo, com o subsidiar da mobilização de esforços coletivos, apostando em um plano operativo capaz de resistir a uma dimensão errática e contraproducente. Portanto, o recurso de ancoragem reside em apostar ser possível o cuidado com caráter civilizatório, amparado na ciência e no afeto de forma múltipla. Por fim, diante das inúmeras implicações apontadas em que se descortina uma crise de direitos basilares em que se contrapõe os princípios da Constituição Federal, conjectura mitigar os efeitos multidimensionais e mutifatoriais que se instala em nosso cotiano. O adensamento do SUS enquanto Sistema de Saúde, precisa ser capaz de produzir sociabilidades e relações orgânicas de modo sincrônico à partir das mibilizações engendradas pelos coletivos.