APRESENTAÇÃO: As residências multiprofissionais são importantes espaços para o desenvolvimento de estratégias de Educação Permanente em Saúde, fortalecendo a formação descentralizada, ascendente e transdisciplinar. Deste modo, o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva com ênfase em Gestão de Redes de Saúde (PRMSC-Redes), da Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE), atua desenvolvendo suas atividades no interior do estado em oito das doze Regiões de Saúde de Pernambuco. A partir de uma perspectiva freiriana de construção de conhecimento a partir do diálogo entre diferentes sujeitos, o PRMSC-Redes articula a formação em Saúde Coletiva com as políticas de estruturação da Rede de Atenção à Saúde (RAS) para o desenvolvimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). Com o objetivo de uma formação profissional que integre os campos da gestão e da assistência articulada à uma reflexão ético-humanística, a formação prática é realizada nos serviços existentes da rede estadual e municipal de saúde, nas unidades de gerência do SUS, como as Gerências Regionais de Saúde (Geres) e secretarias de saúde; nas unidades assistenciais, como os Hospitais Regionais e ambulatórios; e serviços de atenção à saúde dos municípios. Em apoio a este processo formativo, o PRMSC-Redes conta com: Preceptor - profissional vinculado ao serviço responsável por acompanhar as atividades práticas dos residentes; Orientador Clínico Pedagógico (OCP) - profissional de referência em cada Geres que acompanha o desenvolvimento das atividades dos residentes; Tutor - profissional de referência da ESPPE para cada uma das Regiões de Saúde onde são desenvolvidas a residência. Nesta equipe, a tutoria tem função de dar suporte teórico-pedagógico ao processo de formação do residente, tendo como parâmetro o Projeto Político Pedagógico, facilitando a atuação de OCP, preceptor e residente além de planejar atividades de Educação Permanente em Saúde para OCP e preceptores. Nesta perspectiva, o PPP do programa também apresenta como objetivo desenvolver tecnologias e instrumentos no campo da prática compartilhada de modo a fomentar a articulação entre diferentes saberes. Nesse sentido, este trabalho propõe relatar a experiência de desenvolvimento e aplicação de instrumento pedagógico para planejamento de rodízios nos cenários de prática.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A partir de questionamentos dos residentes em saúde em relação aos preceptores sobre a falta de atividades ofertadas, acarretando em ociosidade no serviço, dificuldade de diálogo e falta de problematização perante as demandas existentes, a tutora do PRMSC-Redes resolve criar um instrumento pedagógico de acompanhamento voltado à preceptoria, para que preceptores planejassem atividades com os residentes, de acordo com as demandas  e atividades do setor. Contudo, o simples ato de planejar em listagem de ações não era suficiente para abarcar profissionais residentes no serviço, era necessário o trabalho com esses preceptores para que desenvolvessem estratégias de acompanhamento pedagógico para com o programa. A proposta do instrumento nomeado "Plano de rodízio" é que ele seja elaborado a partir da reflexão e do diálogo conjunto de preceptor e residente, para que ambos estejam apropriados das possibilidades de construção e trocas. Deste modo, foi desenvolvida matriz com seis dimensões: Área; Atividades do Setor; Objetivos de Aprendizagem; Atividades dos residentes; Estratégias Pedagógicas e Produtos. Para construção da matriz, cada dimensão é colocada no topo, formando seis colunas, onde suas linhas relacionam-se entre si. A dimensão Área é a mais abrangente e corresponde a divisão do setor em que o preceptor se encontra. Já as Atividades do Setor constituem a listagem das funções realizadas pelo preceptor. Os Objetivos de Aprendizagem visam descrever as competências que serão desenvolvidas pedagogicamente naquele setor: conhecimento, habilidades e atitudes; onde o preceptor deve olhar para o que deve ser estimulado no residente sobre os aspectos de 1. conhecer, 2. analisar, 3. intervir, e 4. avaliar. Após essas reflexões mais amplas, o preceptor segue para a próxima coluna, onde aponta reflexão mais concreta das Atividades dos Residentes no setor, ou seja, o que os residentes vão realizar/vivenciar para alcançar os objetivos traçados. Em seguida, descreve-se as Estratégias Pedagógicas para o alcance dos objetivos, de maneira a tornar-se exercício didático para que o preceptor provoque o residente a realizar atividades que vão além do seu cotidiano, visando a expansão das possibilidades de conhecimento e provocando possíveis mudanças no setor. Ao ponto de que essas estratégias pedagógicas culminaram em um Produto, o qual deverá ser deixado no setor. Com isso, diversas estratégias podem ser propostas para que um mesmo produto seja realizado. A escrita desse processo pelo preceptor o leva a refletir sobre o próprio trabalho e o que falta ser realizado, mas também qual é o papel do residente para com aquele rodízio. Sem um devido planejamento, fica impossibilitado o avanço das atividades e o residente se torna mais um do status quo.

RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Para a implementação inicial do Plano de Rodízio, foram realizadas reuniões com os preceptores dos setores Vigilância em Saúde, Planejamento e Regulação e Atenção à Saúde da VI Geres para apresentação da proposta. Os preceptores ficaram incumbidos da tarefa de construir o Plano de Rodízio com os demais preceptores e residentes dos setores citados, sendo realizada nova reunião com a tutoria para apresentação da proposta, onde foram realizadas sugestões e ajustes para melhoria dos produtos elaborados. A partir das discussões, foi relatado pelos Preceptores da VI Geres o impacto da proposta ao indicarem a possibilidade de uso do planejamento com turmas futuras, além disso relatou-se uma maior compreensão do papel da preceptoria. Assim, o Plano de Rodízio auxiliou a obtenção de novas atividades alinhadas com o setor, além de minimizar a dificuldade de concepção diária de atribuições ao residente, oportunizando o planejamento a longo prazo. Convergindo com a percepção de preceptores, os residentes apontaram que o instrumento propiciou a valorização do papel de profissionais em formação, mesmo diante da atuação indireta do preceptor, garantindo a continuidade das atividades previstas. Deste modo, relatou-se a integração de maneira mais efetiva dos residentes ao cotidiano de trabalho dos setores. Para além do PRMSC-Redes, a proposta do Plano de Rodízio foi discutida com a equipe de Educação Permanente em Saúde da ESPPE, onde foi proposta a sua inclusão como produto final a ser apresentado pelos participantes do curso de atualização  em preceptoria em saúde promovido pela Escola, em formato virtual, realizado pela mesma instituição com preceptores de Residências em Área Profissional de Saúde, contemplando percursos formativos em gestão e em área assistencial de Pernambuco. Dentre os preceptores das demais Geres do PRMSC-Redes integrantes deste curso, foi apontada a ampliação do entendimento do seu papel pedagógico, das possibilidades de atuação dos residentes e contribuições da Residência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os objetivos de construção de Plano de Rodízio e sua implementação foram alcançados, possibilitando o desenvolvimento de instrumento capaz de fomentar a autonomia de preceptores e residentes. Para os residentes, esse planejamento possibilitou o desenvolvimento de rodízio com qualidade mesmo diante dos distintos perfis de preceptor. Para os preceptores, o plano problematiza o seu papel pedagógico no setor ao receber profissionais residentes, provocando a desconstrução do imaginário residente-estagiário, inserindo-o como profissional passível de provocar mudanças e reflexões críticas sobre o processo de trabalho. Nesse sentido, o uso de instrumentos pedagógicos no processo formativo de residência reforça a perspectiva freiriana de construção de conhecimento a partir do diálogo entre diferentes sujeitos.