A pandemia provocada pela disseminação do novo coronavírus atingiu todos os países do mundo de forma dramática e produziu efeitos significativos no acesso aos serviços de saúde A espera por leitos hospitalares no país, que já apresentava números alarmantes antes do período pandêmico, foi gravemente afetada pelos impactos do atual cenário epidemiológico.

Tendo em vista que diversos problemas relacionados com a superlotação hospitalar podem apresentar soluções no próprio hospital, ações foram desenvolvidas nos últimos 3 anos com o intuito de otimizar a gestão de leitos.  As primeiras iniciativas relacionam-se com o treinamento das equipes e a implantação do dispositivo Kanban nas enfermarias clínicas, a ferramenta tem objetivo de promover a alta segura, melhorar a comunicação entre a equipe multiprofissional e identificar as principais causas que elevam o tempo de permanência hospitalar e que são passíveis de modificações. Além disso, outra estratégia de gestão de leitos implantada relaciona-se com a participação da equipe de enfermeiras que atuam no Núcleo Interno de Regulação (NIR) – responsáveis pela gestão de leitos-, nas sessões clínicas de pacientes, internados em Unidades de Terapia Intensiva, facilitando assim a comunicação intra-hospitalar e a gestão da ocupação dos leitos disponíveis. Ademais, com o intuito de reduzir os impactos da pandemia a distribuição de leitos nas enfermarias foi reconfigurada e extinguiu-se a classificação de leitos por especialidade, permitindo assim maior gerenciamento da destinação dos leitos pela equipe do NIR. Leitos dedicados exclusivamente ao enfrentamento da pandemia foram dinamicamente organizados. Foram estabelecidos indicadores de gestão de leitos para acompanhamento das internações nas alas de atendimento covid-19 e nas alas dedicadas as demais patologias.  Ações direcionadas ao atendimento de demandas das Centrais de Regulação também foram otimizadas, sendo uma delas a vinculação de pacientes egressos da internação de outros nosocômios ao ambulatório do Hospital Universitário, com o objetivo de promover a alta segura, garantir a continuidade de atenção e otimização da ocupação hospitalar.

Os resultados alcançados foram: aumento da taxa de ocupação hospitalar, otimização de processos internos, qualificação da gestão dos leitos, melhor interface e comunicação com as Centrais de Regulação e queda da média de permanência hospitalar - exceto de pacientes em coorte covid-19. No entanto, o percurso em busca da melhoria envolve diversos nós críticos, dentre eles destaca-se o enfrentamento de resistências as mudanças e as dificuldades de organização das  reuniões do kanban no contexto atual onde é necessário distanciamento social. O uso de múltiplos sistemas de informação pelas Centrais de Regulação também se configura como um desafio, posto que dificulta a gestão das inúmeras demandas recebidas pelas distintas Centrais de Regulação. A impossibilidade de utilizar toda a capacidade instalada de leitos da instituição é considerada um nó crítico diante da expressiva demanda oriunda das filas cirúrgicas eletivas e das Centrais de Regulação.