Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MAPA DE EVIDÊNCIAS REABILITAÇÃO DA COVID-19 PÓS AGUDA
Thatiane Lopes Valentim Di Paschoale Ostolin, Rafael Abe da Rocha Miranda, Carmen Verônica Mendes Abdala, Isabela Pôrto de Toledo

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Apresentação: Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou o surto da COVID-19  e, em seguida, deflagrou a pandemia em 11 de março do mesmo ano. As medidas de mitigação da pandemia incluíram medidas de proteção individual e coletiva, incluindo distanciamento/isolamento social, paralisação econômica, desenvolvimento de vacinas e imunização da população. Todavia, tanto as ações governamentais e assistenciais quanto a literatura científica enfatizaram o diagnóstico e o tratamento da doença, bem como as medidas preventivas em detrimento da reabilitação de sequelas pós COVID-19, sobretudo devido ao alto número de casos assintomáticos, rápida transmissão, tempo de latência dos sintomas e inefetividade do isolamento vertical. Sintomas como dispneia e fadiga podem persistir após a alta hospitalar, incluindo comprometimento da capacidade funcional de exercício e da independência em atividades da vida diária. Outros efeitos crônicos e sequelas da doença incluem manifestações neurológicas, cardiovasculares, hematológicas, renais, psicossociais, pulmonares, gastrointestinais e a síndrome pós-cuidados de terapia intensiva, podendo persistir por, pelo menos, um mês. O Mapa de Evidências é um método de sistematização e apresentação gráfica dos resultados de estudos de revisão a partir da construção de matriz baseada em intervenções e desfechos de saúde. Portanto, o objetivo do presente trabalho foi elaborar um Mapa de Evidências sobre os efeitos de intervenções para reabilitação de sequelas após COVID-19.

Desenvolvimento do trabalho: O mapa de evidências considerou o seguinte escopo: população (pacientes que tiveram Covid-19 sintomática com sequelas da doença pós-aguda), contexto (estratégias e intervenções para reabilitação e recuperação) e tipo de estudo (estudos secundários do tipo revisão sistemática, revisão sistemática rápida, revisão de escopo ou overview). As etapas desenvolvidas foram: (1) busca e seleção dos estudos de revisão; (2) avaliação da qualidade metodológica; (3) caracterização dos estudos segundo intervenções e desfechos em saúde; e (4) processamento do mapa. No dia 23 de julho de 2021, uma busca abrangente e sistemática foi conduzida nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde e PubMed a partir de termos referentes à população e contexto, aplicando o filtro de tipo de estudo sem restrição de idioma ou data de publicação. Foram considerados elegíveis estudos secundários do tipo revisão sistemática, revisão não-sistemática, e revisão de escopo ou overview sobre estratégias de reabilitação após COVID-19. Os critérios de exclusão foram: estudos de tratamento durante a COVID-19, estudos primários como ensaios clínicos, caso-controle, estudos observacionais (transversais ou de coorte), relatos de caso, cartas, editoriais, capítulos de livro, resumos de congresso, estudos de opinião, modelos matemáticos e estudos pré-clínicos. Intervenções relacionadas à reabilitação de sequelas pós COVID-19 de qualquer tipo, duração, frequência e follow-up foram incluídas. Estudos secundários que reportaram sequelas da doença, mas não apresentaram estratégias de intervenção específicas para reabilitação, foram excluídos. A análise e seleção dos estudos foi realizada por dois revisores independentes no sistema Rayyan. Em caso de discordância, um terceiro revisor foi responsável por resolver os conflitos. Os motivos de exclusão foram padronizados e reportados segundo população, contexto, conceito, desenho do estudo ou indisponibilidade. Citações de estudos considerados potencialmente relevantes por pelo menos um revisor foram analisadas com o texto completo. Utilizamos o instrumento A MeaSurement Tool to Assess systematic Reviews (AMSTAR2) para analisar a qualidade e o rigor metodológico das revisões sistemáticas incluídas no mapa. Além dos dados de identificação dos estudos (título, ano e país de publicação), a caracterização incluiu: (1) estratégias e intervenções para reabilitação e recuperação de pacientes que tiveram Covid-19 sintomática e apresentaram sequelas da doença pós-aguda, (2) desfechos em saúde, (3) efeitos das intervenções para os desfechos, (4) população avaliada para a intervenção e desfecho, (5) país ou região foco dos estudos primários incluídos no estudo de revisão, e (6) tipo de revisão e desenho do estudo. A extração e síntese dos dados foram realizadas em uma planilha de  Excel por dois revisores e verificada por um terceiro revisor.

Resultados e/ou impactos: Foram identificadas 578 citações, porém apenas 22 atenderam aos critérios de elegibilidade (4 revisões sistemáticas, 4 revisões rápidas, 4 revisões de estudos de caso, 1 revisão de escopo, e 9 protocolos de revisão sistemática). A maioria dos estudos incluídos (n = 15) foi publicada em 2021. Quinze revisões reportaram 46 países em foco nos estudos primários, principalmente China (n = 12), Estados Unidos da América (n = 10), Itália (n = 9) e Reino Unido (n = 8). Sete estudos de revisão não informaram o país em foco, sendo cinco protocolos de revisão e duas revisões sistemáticas. A população mais investigada foi adulta de ambos os sexos com pneumonia viral ou em recuperação da COVID-19. Somente um estudo investigou pacientes com sequelas psicológicas, enquanto outro teve enfoque em pacientes com fadiga. A partir da análise do texto completo, os estudos foram caracterizados e categorizados em  33 tipos de intervenções organizados em 4 grupos (i.e., Intervenção Multicomponente, Terapêutica, Terapias Complementares e Farmacológica) e em 39 desfechos de saúde organizados em 5 grupos (i.e., Condições Patológicas, Doenças/Transtornos Respiratórios, Dor, Indicadores Fisiológicos e Metabólicos, Saúde Mental/Qualidade de Vida). Cada intervenção foi associada a um ou mais desfechos e vice-versa, totalizando 97 associações. As Terapias Complementares tiveram mais associações (53 associações), seguido de intervenções Terapêuticas (20 associações). Dentre os desfechos, as Condições Patológicas apresentaram um terço das associações (36), seguidas do grupo Indicadores Fisiológicos e Metabólicos (25 associações). O efeito das intervenções associadas aos desfechos foram classificados como positivo (24 associações), potencial positivo (14 associações), inconclusivo (9 associações) e não informado (48 associações). Adicionalmente, nenhum estudo reportou efeito negativo, potencialmente negativo ou sem efeito para as intervenções analisadas. Os efeitos não informados podem ser atribuídos ao alto número de protocolos incluídos no mapa. Em relação aos efeitos positivos, os principais desfechos encontrados foram das categorias Condições Patológicas (i.e., Síndrome de Guillain-Barré, ataxia e fraqueza muscular), e Indicadores Fisiológicos e Metabólicos (i.e., descondicionamento físico e independência funcional). Os estudos foram classificados como criticamente baixos segundo nível de confiança. As revisões não-sistemáticas não foram avaliadas por não atenderem às perguntas de avaliação do instrumento, o que inviabilizou a classificação por nível de confiança dos resultados apresentados nos estudos incluídos no mapa.

Considerações finais: Diante do contexto pandêmico, a demanda por conhecimento da sintomatologia, diagnóstico diferencial e tratamento da doença em fase aguda foi enfatizada dada à sua transmissibilidade, incidência, gravidade dos casos, alta ocupação de leitos em unidades de terapia intensiva com tempo de permanência considerável e alto número de casos assintomáticos, leves ou subnotificados. Com o avanço da produção científica e, consequentemente, aprimoramento do tratamento beira leito em consonância com as medidas de mitigação implementadas e desenvolvimento de vacinas eficazes, surgiu uma nova demanda relacionada à identificação e compreensão das possíveis sequelas da doença, tanto temporárias quanto permanentes. Contudo, a literatura a esse respeito ainda é incipiente e tende a privilegiar a identificação, descrição e duração das sequelas ou apenas a apresentar protocolos de ensaios clínicos ou de revisões de literatura acerca de possíveis terapêuticas. Por ser uma doença tão recente, muitas sequelas decorrentes da COVID-19 ainda estão sendo investigadas e reportadas. Tratamento farmacológico, técnicas terapêuticas, terapias por exercícios e intervenções multicomponentes mostraram resultados positivos ou potencialmente positivos no manejo de condições patológicas, transtornos mentais e melhora de indicadores fisiológicos e metabólicos. Porém, os efeitos de muitas intervenções ainda estão sendo avaliadas segundo protocolos registrados de revisões em andamento.