Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
A Rede de Atenção à Saúde do município de São Gonçalo e a construção da Linha de Cuidado às pessoas com sobrepeso e obesidade.
Julliana Ayres Lima Freire, Lívia Cardoso Gomes Rosa, Cassia Soares Santos Sousa, Jorginete de Jesus Damião Trevisani, Evelyne Florido Lobato Cavalcante, Luciana Maria Cerqueira Castro

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


Apresentação: Os níveis crescentes de obesidade nas últimas décadas revelam um problema de ampla magnitude e prioridade global. No país, em 13 anos, a obesidade aumentou 72% em maiores de 18 anos (de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019). O setor saúde tem o desafio de organizar sua rede de serviços para atender a essa demanda de maneira integrada, articulada e qualificada, garantindo a implementação de políticas e ações intersetoriais efetivas e contínuas. O Ministério da Saúde tem induzido municípios a organizarem uma Linha de Cuidado (LC) para pessoas com sobrepeso e obesidade, visando à qualificação da atenção à saúde. Na perspectiva de LC, é fundamental a organização da assistência à saúde para garantir o percurso de cuidado na Rede de Atenção à Saúde (RAS), independente do ponto em que a pessoa acessa os serviços. O conhecimento da RAS disponível no município, das ações de cuidado e dos fluxos estabelecidos contribuem para o planejamento das ações de saúde e para a construção de uma LC fortalecida, possibilitando uma trajetória de cuidado efetiva e acolhedora. Este estudo visa conhecer a RAS do município de São Gonçalo (SG) e o perfil nutricional e epidemiológico da população acompanhada. Desenvolvimento do trabalho: O estudo é parte da pesquisa “Trajetória e gestão do cuidado das pessoas vivendo com obesidade e sobrepeso em um município da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro”, desenvolvida pelo Instituto de Nutrição da UERJ e colaboradores. As fontes de dados utilizadas foram: portal da Prefeitura de SG, Plano Municipal de Saúde, IBGE, Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) e e-Gestor. Foram levantadas ainda, informações dos registros de encontros entre profissionais da gestão municipal e do documento da proposta de LC municipal de sobrepeso e obesidade construído em 2020. SG está localizado na região metropolitana II do Estado do Rio de Janeiro, considerado o segundo município com maior porte populacional, com uma população estimada de 1.098.357 pessoas, segundo IBGE (2021), e salário mensal médio de trabalhadores formais de aproximadamente 2,1 salários mínimos. Resultados: O município, em 2020, apresentava cobertura de 78,73% de Atenção Primária em Saúde (APS) e 66,15% de Estratégia de Saúde da Família (ESF), com 208 Equipes de Saúde da Família, 19 Equipes de Atenção Primária e 25 Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASF). A Rede de APS municipal possui 108 Unidades Básicas de Saúde (UBS), duas Clínicas Municipais e cinco Pólos Sanitários, que são unidades de referência para as UBS, um Espaço Avançado do Idoso e seis Academias da Saúde. A Rede de Atenção Especializada é composta pela Assistência Médica Especializada Ambulatorial com três Policlínicas, quatro unidades de Assistência Médica Ambulatorial conveniadas, duas Clínicas Municipais (Atenção Especializada e da Criança); um espaço para ações de saúde da mulher e pré-natal de alto risco (Espaço Rosa); serviços de apoio diagnóstico e terapêutico; Rede de Atenção Psicossocial com ambulatório de Saúde Mental e seis Centros de Atenção Psicossocial; uma Clínica de Reabilitação (CER III); serviço de atendimento domiciliar e assistência farmacêutica. A proposta da LC prevê a construção de um ambulatório especializado para atendimento às pessoas com obesidade grau III articulado à rede de cuidados da APS. Na rede de atenção de Urgência, Emergência e Hospitalar são quatro Hospitais, sendo um geral, uma maternidade, um infantil e um psiquiátrico; um pronto socorro; duas Unidades Municipais de Pronto Atendimento 24 horas e duas bases do SAMU com oito Unidades Móveis de transporte, sendo duas unidades avançadas. Por fim, a central de regulação, controle, avaliação e auditoria gerencia o processo de regulação do acesso aos serviços da RAS municipal para a população, de acordo com os protocolos e pactuações vigentes. Nota-se uma rede complexa e extensa que contempla todos os componentes necessários para a construção da LC, conforme estabelecido no Manual Instrutivo de Organização Regional da LC do Sobrepeso e da Obesidade. É necessário, portanto, a organização dessa rede e a adequação das atribuições de cada ponto de atenção, articulando a APS, a média e alta complexidade, para viabilizar um cuidado integral às pessoas com sobrepeso e obesidade. Dados do SISVAN (2021) demonstram que grande parte da população atendida na APS de SG apresenta excesso de peso, considerando o diagnóstico de sobrepeso e obesidade. Dos 6.653 adultos e 1.881 idosos avaliados, 54,55% e 53,32% apresentavam excesso de peso, respectivamente. No caso das 3.088 crianças de 5 a 10 anos e dos 2.171 adolescentes, a situação era de 34,45% e 42,52%, respectivamente. Ao considerar o consumo alimentar, dados do SISVAN (2020) apontam que 51% dos adultos, 27% dos idosos, 68% dos adolescentes e 68% das crianças de 5 a 9 anos possuem o hábito de realizar no mínimo as três refeições principais do dia. Em contrapartida, 80% dos adultos, 53% dos idosos, 94% dos adolescentes e 95% das crianças de 5 a 9 anos consomem alimentos ultraprocessados. Os dados sobre consumo alimentar são escassos, demonstrando uma menor adesão ao registro dessas informações no SISVAN. A LC proposta destacou principalmente a organização dos serviços e ações de saúde relacionados à atenção nutricional que são ofertados na APS municipal. Essa característica se deu pelo protagonismo da Área Técnica de Alimentação e Nutrição municipal, que vem liderando esse processo de construção em parceria com a gestão da APS e o NASF, na garantia de uma atuação multiprofissional na gestão do cuidado, com o Programa Saúde na Escola, a Secretaria de Educação e com a Secretaria de Agricultura. Com o foco na APS, a LC estabelece fluxos internos, tendo como eixo articulador a Vigilância Alimentar e Nutricional, propondo  ações de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável, diagnóstico nutricional e tratamento, assim como atividades de educação permanente. Avançando para integração dos diferentes pontos de atenção, indica a construção do ambulatório de especialidade para acompanhamento e atenção nutricional das pessoas com obesidade grave. Considerações finais: As LC são estabelecidas de modo a articular recursos, ações e práticas entre unidades de saúde nos diferentes pontos de atenção e em uma dada região de saúde. A APS é o ponto de partida para organização desse processo, considerando sua proximidade com o território e suas características de garantia da integralidade, contemplando a promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação, com o foco na pessoa e sua família, os condicionantes do processo saúde/doença, as relações acolhedoras, de vínculo, compromisso e corresponsabilidade entre os profissionais e população, e atuação de equipe multiprofissional. Organizar o cuidado das pessoas com sobrepeso e obesidade requer uma rede integrada e articulada, que deve partir de uma APS consolidada, com fluxos bem definidos, de modo a garantir a trajetória assistencial do usuário na RAS. As informações apresentadas mostram a complexidade da rede de SG e os desafios para garantir o cuidado dessas pessoas, além de remeter a algumas reflexões sobre a proposta da LC que podem subsidiar os rumos do seu processo de implementação municipal e na articulação regional, garantindo cuidado integral.