Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SAÚDE PÚBLICA E COMUNICAÇÃO: IMPASSES DO SUS À LUZ DA FORMAÇÃO DEMOCRÁTICA DA OPINIÃO PÚBLICA
Dorival Fagundes Cotrim Junior, Rachel Guimarães Vieira Pitthan, Lucas Manoel da Silva Cabral, Thaís De Andrade Vidaurre Franco, Ronaldo Teodoro dos Santos, Rute Rose Silva Alves, Bianca Machado Quintão

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


Apresentação: Este trabalho problematiza o vínculo político entre a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) e a comunicação, especialmente a comunicação em saúde. O objetivo é compreender o exercício da comunicação pública não como comunicação governamental e sim como estratégia vinculada à construção do interesse público, inscrito nas relações de poder, central, portanto, à republicanização dos direitos, sobretudo em democracias representativas. O argumento principal é que a consolidação plena do SUS demanda a formação de uma base social de apoio constituída a partir de uma consciência pública sanitária e que a presença de um sistema oligopolizado de mídia interfere, em prejuízo, desse processo.Métodos: O estudo trabalha com a hipótese de que a presença de um oligopólio midiático no sistema de telecomunicações que constrange a formação democrática de um juízo público sobre o SUS. Para fundamentar esse argumento, na primeira seção apresentamos o debate teórico que sinaliza o caráter público da comunicação como esfera fundamental do poder político, sobretudo para a construção de direitos em democracias. Na sequência, realizamos análises de pesquisas de opinião sobre o SUS para assim compreender os imbricamentos da opinião dos brasileiros sobre o SUS e o sistema de comunicação.Resultados: A comunicação incide sobre a correlação de forças que disputa os rumos do sistema de saúde, precisamente porque afeta a formação dos valores de cidadania. Como formulado pela tradição republicana, a disputa pública pelo sentido das coisas compartilhadas é intrínseca à política, para a qual importa a comunicação na conformação e direção de valores. Enquanto objeto da política, isso implica dizer que a legitimidade da construção de um sistema de saúde público são construções sociais resultante da prática política. Dependem da construção coletiva que identifica a saúde como direito e não mercantil. A Reforma Sanitária construiu sua fortuna crítica atenta a várias dimensões que cerceiam a realização do SUS, conservando, no entanto, um vácuo de reflexões no que diz respeito à compreensão de que a comunicação é instituinte da construção e conservação do poder. Via de regra, as dimensões da política são localizadas no âmbito do Estado e suas instituições clássicas, como pastas ministeriais e casas congressuais, e nos interesses disputados por movimentos sociais e corporações empresariais. É recorrentemente a essas abordagens o entendimento da política como ação exclusiva de elites e vanguardas políticas. Aorevés da ciência política liberal, a tradição republicana reconhece a comunicação como um ativo político instituinte da política de saúde, revelando que uma consciência pública sanitária, firmada no centro da identidade dos cidadãos e cidadãs brasileiros, é parte do que constitui a correlação de forças que disputam os rumos do sistema.Considerações finais: Concluímos que a relação entre comunicação, política e democracia, traz para o SUS o desafio de disputar no cotidiano dos cidadãos e cidadãs brasileiros a formação de uma consciência pública sanitária, conforme colocado por Giovanni Berlinguer à nascente movimento da reforma sanitária brasileira nos anos 1970.