Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Construindo gestão de saúde baseada em dados: análise da situação do município de Tefé-AM
Natasha Maranhão Vieira Rodrigues, Júlia Fialho Cauduro, Felipe Thiago Dias de Lima, Fernando Lopes, Antônio de Pádua Quirino Ramalho

Última alteração: 2022-02-04

Resumo


Apresentação: Na formação de um médico generalista, o enfoque recai sobre os processos fisiopatológicos, com pouca ou ausente discussão sobre gestão em saúde. Os alunos saem prontos para diagnosticar e tratar doenças, muitas vezes sem pensar nos instrumentos materiais que terão no seu local de trabalho. Pensar em saúde é pensar além do corpo físico do paciente, mas também como os fatores externos podem recair sobre a vida dele e limitar a prática clínica. Nesse sentido, foi discutido, na disciplina de Saúde Coletiva IV, como os indicadores podem guiar as ações de saúde e, a partir disso, foi proposto o desenvolvimento de um trabalho que analisasse o panorama de saúde de um município de escolha de cada aluno.

Metodologia: Esse trabalho tem como foco o município de Tefé no Amazonas, com coleta de dados demográficos, epidemiológicos, indicadores de saúde, assim como estrutura de atenção à saúde e equipamentos disponíveis no município. Foi desenvolvido através da consulta de plataformas com dados epidemiológicos e de saúde como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), DATASUS-CNES (Cadastro nacional de Estabelecimentos de Saúde), Painéis de Indicadores de Atenção Primária à Saúde no SISAPS, FNS (Fundo Nacional de saúde), Sistema de apoio à Elaboração do Relatório de Gestão (SARGSUS), Fundação de Vigilância Sanitária (FVS).

Resultados: Tefé é um município brasileiro do interior do estado do Amazonas, Região Norte do Brasil. Sua população, de acordo com o IBGE em 2020, era de 59 547 habitantes. A mortalidade infantil em 2019 foi de 12,97 óbitos por mil nascidos vivos, sendo a menor taxa desde 2008 (12,129) e a 49ª do estado (sendo 13,81 na capital, Manaus), em que a principal causa de mortalidade foi afecções perinatais. A nível de comparação em 2018, a taxa foi de 21,95, 18,72 em 2017 e 21,44 em 2016. As internações devido a diarreias são de 1.6 para cada 1.000 habitantes [2016] (24ª do estado), com 30.9% dos domicílios tinham saneamento adequado.

A Taxa bruta de natalidade foi 30,2 com 78,2% de partos vaginais, uma ótima proporção de partos vaginais, o que pode indicar a deficiência de leitos de obstetrícia cirúrgica ou a indicação adequada de partos cesárea. A proporção de recém-nascidos com baixo peso ao nascer foi 7%, coincidindo com a taxa de mortalidade infantil. O município possui ainda uma alta proporção de gravidez na adolescência entre 10 e 19 anos, 30,5%. Não foram encontrados relação entre os números de consultas pré-natais e gravidez na adolescência.

Quanto as principais causas de morte, em Tefé (2019) foram aparelho circulatório, causas externas de morbidade e mortalidade, doenças do aparelho respiratório e neoplasias. Foi um dos municípios que apresentou melhor desempenho financeiro no Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde – PQA-VS, programa que envolve aperfeiçoamento nas ações de vigilância em saúde que envolva gestão, processo de trabalho e resultados.

Na questão da estrutura encontrada no município, em 12/2020, o município contava com 17 equipes de Saúde da família (cobertura de 98%) vinculadas a uma Equipe da Estratégia Saúde da Família, com 19 equipes de Saúde Bucal vinculadas a uma Equipe da Estratégia Saúde da Família.

Em 2021, das 10 UBS em funcionamento, 100% tinham implementado o prontuário eletrônico.

De acordo com CNES, Tefé possui os seguintes estabelecimentos de saúde: 10 unidades básicas, 2 hospitais, 1 pronto atendimento, 1 núcleo de telessaúde, 1 unidade móvel fluvial, 10 consultórios isolados, 2 farmácias, 1 unidade de vigilância sanitária, 1 LACEN, 3 unidades de atenção à saúde indígena, 2 unidades de apoio diagnose e terapia (SADT isolado), 15 ambulatórios, 1 unidade de atenção psicossocial, 1 centro de referência em saúde do trabalhador. Tendo 144 leitos disponíveis pelo SUS, sendo 12 de cirurgia geral, 50 de clínica geral, 49 unidades de isolamento, 4 de obstetrícia cirúrgica, 20 de obstetrícia clínica, 6 de pediatria clínica, 2 unidades de cuidados intermediários adulto.

Quanto à estrutura tecnológica, o município possui os seguintes equipamentos de diagnóstico por imagem: mamógrafo com comando simples – 1; raio X de 100 a 500 mA - 1; raio X de mais de 500 mA – 1; raio X dentário – 8; ultrassom doppler colorido - 2; ultrassom ecógrafo – 2; ultrassom convencional – 6; Mamógrafo computadorizado – 1; processadora de filme exclusiva para mamografia – 1; Notando-se aqui a ausência de equipamentos mais sofisticados como Tomografia computadorizada e ressonância magnética, algo comum se tratando do porte do município.

Quanto aos indicadores da atenção primária à saúde, em 2020, a proporção de gestantes com pelo menos 6 consultas pré-natal realizadas era de 33%, a de gestantes com realização de exames para sífilis e HIV de 37%, com atendimento odontológico realizado em 19%. A cobertura do exame citológico foi de 14% (bem baixa considerando que este é um exame de rastreio para um câncer prevenível e altamente incidente no estado). Pelo relatório anual de gestão, em 2016, a razão de exames citopatológicos do colo do útero em mulheres de 25 a 64 anos na população residente foi 0,78, não alcançando a meta de 0,91, demonstrando a necessidade do aumento da cobertura e alcance do exame no âmbito da prevenção e cuidado da saúde da mulher. A Razão de exames de mamografia de rastreamento realizados em mulheres de 50 a 69 anos na população residente também foi abaixo da média, com 0,01 (contra 0,09).

Quanto ao controle de doenças crônicas, o município mostrou baixa atuação, com apenas 4% de pessoas hipertensas com Pressão Arterial aferida e 10% de diabéticos com solicitação de hemoglobina glicada. Uma falha na atenção básica que pode gerar morbidade, mortalidade para o paciente e custo futuro para o SUS por complicações que vão necessitar de atenção de média a alta complexidade.

Considerações finais: O estado do amazonas, assim como o Brasil, é um território amplo, com população dispersa, regiões remotas de difícil acesso e dificuldades de alcançar uma boa cobertura da atenção primária e dos serviços de saúde. Tefé, por ser um município de interior, muitas vezes tem dificuldade de acesso a serviços de alta complexidade, possui uma alta cobertura de atenção básica, porém com baixa cobertura de pré-natal e baixo controle de indicativos de doenças crônicas como hipertensão e diabetes.

O entendimento do local de atuação médica é fundamental para a boa prática clínica, assim como saber utilizar as ferramentas que trazem essas informações, saber coletar esses dados para o bom entendimento da estrutura assistencial e o que é acessível na localidade. Conhecer e saber compreender essa estrutura ajuda na formação para o trabalho em saúde. O passeio pelas ferramentas que a provocação da disciplina causou levou a esse percurso e em reconhecê-lo como necessário.