Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Cuidados paliativos geriátricos na atenção hospitalar durante a pandemia de Covid 19: Relato de experiência
Nilceia Soares Cútalo, Magda Chagas

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


1Nilceia Peixoto Soares Cútalo

2Magda Chagas

 

Apresentação: Esse trabalho trata de um relato de experiência vivido em um hospital de campanha no estado do Rio de Janeiro, hospital criado para atender as demandas das internações pela doença originada pelo novo corona vírus (SARS-COV-2) a COVID 19. O impacto anunciado da doença na população de pessoas idosas ocorreu e ocorre principalmente pelas comorbidades e fragilidades de situação de saúde, que colocou essa faixa da população no grupo de risco, deixando às claras as  necessidades do atendimento integral nas ações de saúde e a implementação dos cuidados paliativos nas instituições hospitalares e de ensino. Objetivo: Assim, oobjetivo é relatar a vivência num ambiente multiprofissional e interdisciplinar no atendimento aos pacientes idosos hospitalizados, portadores de doenças crônicas ou agudizadas pela presença da COVID 19. Desenvolvimento/Relato da experiência: O hospital de campanha criado em 01/05/2020, possuía 500 leitos e funcionou entre 01/05/2020 e 06/01/2021. Planejado para atender casos que necessitavam de internação/intervenção hospitalar de média e alta complexidade, possuía 100 leitos de “UTI”. A população de pessoas idosas atendidas apresentava, em sua maioria, características como: idade acima de 80 anos, internação em instituições de longa permanência, atrofias de longa data, necessidade de suportes ventilatórios, nutricionais e medicamentosos. Essas pessoas/usuários e não foram poucos os casos, chegavam a apresentar, já na chegada à internação, situação incompatível com vida e ainda assim, a implantação da paliação como terapêutica efetiva foi pouco utilizada e os cuidados paliativos foram subutilizados. Foi possível perceber a manutenção de ofertas com vistas ao restabelecimento das funções fisiológicas e a busca pelo prolongamento da vida quando a vida não estava mais presente e a negação e/ou aceitação da morte, da boa morte. Nesse ambiente chamou atenção ainternação de um Sr. cujas características destacadas acima estavam presente e ele era elegível a abordagem paliativa, porém tal cogitação, gerou desconforto, dilemas éticos na equipe multi e o aparecimento das dúvidas sobre iniciar os cuidados paliativos ou submetê-lo a toda sorte de dores com procedimentos fúteis, desnecessários e constrangimentos onde em nada alteraria o seu quadro de saúde. Foi aberto um espaço de diálogo, uma roda de conversa de onde emergiu como resultado iniciar paliaçãocom analgesia, conforto, dignidade na hora da morte e a boa morte. Impactos: Atualmente vemos o aumento da população idosa, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é justificada pelo aumento da expectativa de vida. Hoje temos 22,9 milhões de brasileiros na faixa dos 60 anos ou mais (11,34% da população) e estima-se que em 30 anos essa população triplique, serão mais de 60 milhões de idosos em relação ao que temos hoje estatisticamente, com isso aumenta a cronicidade das doenças existentes e a necessidade de ações de saúde. A Organização das Nações Unidas (ONU) criou como estratégia para melhoria da qualidade de vida dos idosos a “década do envelhecimento saudável”, 2021-2030, na esperança de que políticas públicas sejam criadas e que alcance não só uma categoria de idade, mas que sirva de preparação para todos.  Uma das ações no contexto da saúde que poderia ser utilizada seriam os cuidados paliativos com abordagens para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que ameaçam a vida e elevam as estatísticas de pessoas que seriam elegíveis a serem atendidas por profissionais capacitados para as práticas paliativas. No entanto, a qualificação do profissional de saúde em cuidados paliativos por meio do ensino, tanto no nível médio quanto na graduação ainda não é uma realidade no Brasil. O surgimento do novo corona vírus (SARS-COV-2) e a pandemia da COVID 19, que a princípio colocou em risco os idosos por suas fragilidades na saúde, elevou e muito o número de internações e mortes desse grupo de pessoas e expôs a necessidade das instituições hospitalares em estabelecer um plano de cuidado seguro. O que chamou atenção para no relatoapresentado foi perceber que muitos profissionais da saúde (a equipe multidisciplinar) não possuem ciência das abordagens paliativas efetivas para melhora da  qualidade de vida dos pacientes geriátricos hospitalizados. Desta forma, os cuidados paliativos são subutilizados. Na maioria das vezes, quando é instalado, quando o Cuidado Paliativo é prescrito, ocupa o mesmo lugar de quando alguém joga a toalha em uma luta. No entanto há muito que se aprender e entender que: É possível acrescentar vida aos anos e não apenas anos a vida; assim como “Qual tipo de vida é ofertada”, apenas para que se ganhe a luta? A paliação pode ser o primeiro passo rumo à terapêutica dos cuidados paliativos, com intuito de acrescentar qualidade de vida em todas as dimensões do ser humano. Caso esses fossem ofertados, como diz a OMS, em qualquer espaço que se tenha vida, pessoas com demandas em sua humanidade seriam atendidas e acolhidas por pessoas dispostas a ofertar cuidado. Esse pode ser residencial, ambulatorial, hospitalar, em toda sociedade, vivenciando aspectos de saúde, éticos, psicológicos, sociais e espirituais. Onde Cuidados paliativos deixariam de ser subutilizados ou mal compreendidos. A triste experiência de perceber que pouco sabemos sobre abordagens paliativas geriátricas, deixa claro que apesar de órgãos importantes da saúde levantarem essa discussão há décadas, ainda é deficitária a implementação dos cuidados paliativos no ambiente hospitalar. Ao mesmo tempo, as instituições de ensino superior (IES) precisam mudar a prática presente até os dias de hoje, quando ofertam disciplinas de cuidados paliativos de maneira optativa. O         que abre espaço para questionamento sobre a relevância para prática na formação dos profissionais de saúde contrariando a realidade da vivência no ambiente hospitalar com a vida e com a morte. Até que a realidade sofra alteração, seguimos, como aponta pesquisa que demonstra uma triste estatística do Brasil como um lugar muito ruim para morrer e onde a dignidade na hora da morte passa longe. Considerações finais: Foi importante perceber que mesmo com dificuldade inicial, a equipe multiprofissional abriu espaço para conversa e revisão dos posicionamentos, receios e tabu (falar sobre morte no ambiente hospitalar, assim como na sociedade, ainda é tabu). Podemos considerar que a utilização de rodas de conversa, diálogo no “círculo de cultura” de Freire, configurou-se como estratégica de educação permanente na saúde (EPS)para exposição do assunto sobre cuidados paliativos geriátricos e morte na Covid 19, com profissionais da equipe em atividade. Isso porque, dentre outras ofertas, apresenta momentos de fala e de escuta e assim possibilidade para mudanças das práticas nas abordagens. Colocar a equipe multiprofissional para conversar teve como efeito o partilhar processo de ler o mundo, chegar a problematização, a compreensão e até a transformação da realidade. Esperamos que em breve espaço de tempo os cuidados paliativos sejam praticados por profissionais que busquem o conhecimento e se proponham reconhecer as demandas e atentar para as realidades de cada cenário, com intuito de disseminar conhecimento do tema, buscar saber os pontos fortes, suas fragilidades e limitações e assim elaborar coletivamente enfrentamentos e novas abordagens.