Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Como anda a implementação da Política de Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem no Pará?
Eric Campos Alvarenga, Maria Lúcia Chaves Lima, Victória Dos Reis Gonçalves Da Costa, Ivson Luís Ribeiro Guimarães, Benedito Medrado, Jorge Lyra

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


A inclusão dos homens como atores relevantes na agenda de políticas públicas de gênero é recente em comparação com as políticas de saúde da mulher. Justificada pelos indicadores sobre as morbimortalidades as quais os homens estão mais vulneráveis, o Ministério da Saúde, a partir de 2007, passa a implementar uma política específica para atender às necessidades da população masculina no tocante à saúde. Trata-se de uma política ainda em processo de implementação que tem como referência o documento síntese intitulado Política nacional de atenção integral à saúde do homem: princípios e diretrizes (PNAISH) e o Plano Nacional (2009-2011). Considerando esse contexto, o objetivo geral deste trabalho é apresentar uma síntese da análise da implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) realizada em Belém-Pará. Esta pesquisa foi produzida no contexto do Projeto “Análise da implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem”, coordenado pelo Núcleo Feminista de Pesquisas em Gênero e Masculinidades (Gema/UFPE), em parceria com a Universidade Federal do Pará. Trata-se de um estudo qualitativo que ouviu 33 pessoas entre outubro de 2018 e dezembro de 2019. Os/as participantes compreendem 2 gestores da política de saúde do homem do Pará, 2 gestoras municipais de Belém desta política, 9 profissionais de saúde de uma equipe de saúde da família da capital paraense e 20 homens usuários dos serviços de saúde do referido município. Entre os usuários, objetivou-se abarcar homens marcados por categorias sociais diversas – como raça, etnia, sexualidade, geração, dentre outras – visando ampliar a análise dos discursos de homens sobre o cuidado em saúde. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas individuais e grupo focal (este com 5 dos 20 usuários incluídos na pesquisa). Os temas abordados nas entrevistas seguiram os cinco eixos da política nacional: a) Acesso e acolhimento; b) Saúde sexual e reprodutiva; c) Paternidade e cuidado; d) Doenças prevalentes na população masculina; e) Prevenção de violências e acidentes. Como referência para análise das entrevistas realizadas, utilizou-se o Modelo Operacional de Análise de Políticas Públicas proposto por Araújo Júnior. O autor propõe uma análise das políticas de saúde a partir de quatro eixos: contexto da política, atores envolvidos, processo da política e conteúdo. Para analisar as entrevistas com gestores/as, profissionais de saúde e usuários, baseamo-nos no método de análise de conteúdo de Bardin em uma perspectiva qualitativa de pesquisa. Após a transcrição de todos os áudios das entrevistas, houve diversas discussões coletivas entre a equipe da pesquisa para a definição das categorias que melhor apresentavam o conteúdo presente no material produzido. Os resultados foram organizados a partir de três eixos de análise: a) contexto e processos, b) atores e atrizes e c) conteúdo.  Quando se fala dos contextos e processos desta política no estado do Pará, as Coordenações Municipal e Estadual nasceram praticamente juntas em 2010, através de um projeto piloto em parceria do Ministério da Saúde com a Coordenação Estadual para implementação da política em alguns municípios do Pará. As cidades selecionadas foram Belém, Altamira e Marabá por serem centros de grande importância e densidade populacional dentro do estado. O contexto e os processos de implementação da PNAISH em Belém destacam-se pela informalidade nas ações realizadas: intensa rotatividade dos cargos de gestão, equipes bastante reduzidas (muitas vezes de uma pessoa só, conhecidas jocosamente como “euquipe”), o quase inexistente recurso financeiro para a política no município e no estado, pouca interface com movimentos sociais e Universidade. Desse modo, as possibilidades de atuação dos/as profissionais da gestão são bastante reduzidas. Com relação aos atores e atrizes, os profissionais de saúde que atuam diretamente na rede de atenção à saúde de Belém e do estado do Pará tiveram destaque entre todos os grupos de participantes da pesquisa, talvez porque sejam os atores/atrizes que se relacionam diretamente com os serviços de saúde. Os gestores se concentram em citar os atores da esfera administrativa. Profissionais de saúde e usuários citam as mulheres como agentes de cuidado para os homens. Os usuários também se referem à mídia como um ator, dado que recorrem à internet e programas de televisão como fontes de informação para os processos de saúde e adoecimentos. Outros acrescentam a religiosidade e os amigos como agente de cuidado à saúde. Quanto ao conteúdo, fazendo uma análise das palavras mais utilizadas pelos/pelas participantes, é notório que os/as gestores/as e profissionais usam mais a palavra “mulher” do que “homem”. Já as palavras “pré-natal”, “unidade básica” e “serviços” são mais usadas entre gestores/as e profissionais. Já no grupo de homens e entre os potenciais usuários, usa-se mais “saúde”, “problema”, “médico”, “exame” e “consulta”, o que aponta para uma perspectiva de saúde mais centrada no saber biomédico. cinco eixos da política nacional: a) Acesso e acolhimento; b) Saúde sexual e reprodutiva; c) Paternidade e cuidado; d) Doenças prevalentes na população masculina; e) Prevenção de violências e acidentes. Percebe-se a dificuldade de acesso dos homens aos serviços de atenção secundária e terciária. Outro aspecto de destaque é que a temática de direitos sexuais não aparece nas entrevistas realizadas, inclusive entre os gestores e profissionais de saúde, indicando a pouca associação da saúde do homem com os direitos sexuais e reprodutivos, a não ser a discreta menção ao procedimento da vasectomia. Nesse âmbito, a estratégia do pré-natal do parceiro é a principal maneira com que o eixo de paternidade e cuidado tem sido abordado na região. Em relação às doenças prevalentes na população masculina, o câncer de próstata permanece muito presente no discurso dos participantes, principalmente os mais velhos. Quanto à prevenção de violências e acidentes, a quase inexistência de ações nesse sentido sugere a pouca importância dessa categoria entre os/as gestores ou demais grupos entrevistados. Conclui-se que os desafios para a implementação da PNAISH são diversos, sendo que os caminhos para os superar giram em torno da valorização dessa política, o que implicaria na disposição de recursos materiais e humanos com o intuito de aumentar o acesso dos homens aos serviços de saúde e a melhora dos índices de saúde entre a população masculina.