Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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REFLEXÕES SOBRE SAÚDE MENTAL NO CAPS II EM TEMPOS DE PANDEMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Maria Tereza de Oliveira

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Historicamente o processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil tem buscado a transformação do modelo de saúde mental, antes centrado no hospital psiquiátrico e na alta adesão ao tratamento medicamentoso, para um novo modelo de assistência à saúde mais dinâmico, complexo e não reducionista, orientado para novas formas de prática na área de saúde. O processo de desconstrução da Política Nacional de Saúde Mental está associado aos retrocessos das políticas públicas em geral vinculada à perda de direitos conquistados há décadas pelos brasileiros/as e que foi intensificada com a Pandemia da COVID–19, a qual impôs isolamento social, distância entre as pessoas, impedindo a presença dos usuários nas unidades de Saúde. O objetivo deste trabalho é refletir sobre saúde mental e processo de trabalho no âmbito do CAPS II, no município de São Gonçalo do Amarante/RN, durante a pandemia do Covid-19. As pessoas com transtornos mentais passaram a lidar cotidianamente com o sofrimento de forma mais intensa. Com os/as usuários/as do CAPS II não foi diferente, pois as oficinas, rodas de diálogos, arteterapia e os acolhimentos em grupo foram suspensos, onde ficou evidente, lamentavelmente, que a questão dos problemas pessoais e familiares poderiam ser resolvidos apenas através da medicalização. O CAPS II de São Gonçalo do Amarante/RN é formado por equipe multidisciplinar composta de assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, médico psiquiatra, farmacêutica, arte-educador, fisioterapeutas, psicóloga, auxiliar de técnico em enfermagem, auxiliares de serviços gerais e uma pedagoga exercendo a função de gestora. Como forma de dinamizar o processo de trabalho alguns profissionais utilizam plataformas digitais, como instrumental técnico-operacional em vários aspectos do trabalho. Essas ferramentas possibilitaram minimizar o distanciamento e viabilizaram de forma alternativa atendimento aos usuários/as e seus familiares pautada em uma atenção à saúde de qualidade, humanizada e focada no cuidado.  Os grandes desafios vivenciados pelos profissionais no processo de trabalho no cotidiano do CAPS II vão além dos equipamentos e dos saberes tecnológicos estruturados, das relações, dos encontros e subjetividades. Nesse período foi vista a necessidade de discutir casos específicos, da realização de encaminhamentos, atendimentos individuais, interconsulta, visitas domiciliares e realizar estudos e discussões sobre a construção conjunta de projetos terapêuticos, além de participações on-line de oficinas, reuniões, seminários, encontros, congressos, lives sobre saúde mental e covid-19. O acolhimento enquanto ferramenta tecnológica leve de intervenção, possibilitou a qualificação da escuta, mesmo mantendo a distância entre o profissional, usuário e família se utilizando dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), reconhecendo o/a usuário/a como sujeito e participante ativo no processo de produção em saúde. O compromisso da equipe neste período sempre foi oferecer escuta a quem chegasse e procurar compreender as peculiaridades de cada usuário/a e situação em sua subjetividade, utilizando-se de tecnologias leves cuja intencionalidade é aliviar o sofrimento, evitar ou reduzir danos favorecendo a criação de vínculos positivos na tentativa de diminuir o isolamento e abandono, além de possibilitar a troca de saberes na perspectiva de (re)construir a autonomia e melhorar as condições de vida dos usuários e familiares.