Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EXPERIÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO EM ESTÁGIO OBSERVACIONAL EM SAÚDE COLETIVA NO 9.º CENTRO REGIONAL DE SAÚDE, SANTARÉM, PARÁ.
Silvio Almeida Ferreira, Geovana Lima Pereira, Mirna Brito Malcher Pedroso

Última alteração: 2022-02-09

Resumo


A articulação entre os serviços de saúde ofertados à população é importante para garantir maior resolutividade na Atenção à Saúde e melhoria da qualidade de vida. Em face disto, é primordial que as esferas de governo articulem o planejamento das ações de saúde de forma pactuada no território de atuação. Com isso, os serviços intersetoriais tendem a garantir um escopo mais qualificado de ações com maior abrangência dos problemas que acometem a população. Nesse contexto, este trabalho se propôs relatar a experiência da realização de visita técnica na Divisão de Endemias (DE), do 9.º Centro Regional de Saúde (CRS), da Secretaria de Estado da Saúde do Pará (Sespa), como parte das atividades de estágio observacional do curso de Bacharelado em Saúde Coletiva (BSC), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), realizadas no segundo semestre de 2021. As atividades pedagógicas pretenderam abranger os conteúdos teóricos em aulas remotas e as informações de visita técnica concernentes à organização dos serviços; setores e suas atribuições; principais demandas de serviços; principais ações desenvolvidas; dificuldades encontradas pelas equipes de trabalho à realização das atividades; desafios enfrentados e populações atendidas. As informações coletadas foram registras em diário de campo sendo adquiridas por observações e conversas não sistemáticas com os profissionais de saúde de cada unidade visitada. A região oeste do Pará, possui grande diversidade de populações miscigenadas e tradicionais, formada por indígenas, ribeirinhos, quilombolas, imigrantes de diversos estados brasileiros, dispersas em diferentes territórios, com especificidades culturais e realidades socioeconômicas desiguais que implicam nos problemas de saúde dessas populações. A DE fica localizada cidade de Santarém-Pará, é responsável pela vigilância e controle de endemias causadas por diversos tipos de vetores como doença de chagas, arboviroses (dengue, chikungunya, zika), malária, leishmaniose tegumentar e visceral, febre amarela, raiva entre outras. As atividades desenvolvidas pela DE buscam monitorar o controle de enfermidades em 20 municípios da região do Baixo Amazonas e Tapajós, fornecendo apoio técnico às diversas atividades e serviços de saúde ofertados pelos municípios, com: treinamento das equipes locais, monitoramento de agravos, avaliação em saúde, organização de notas técnicas e elaboração de diagnósticos regionais. Os municípios que compõem o 9.º CRS são: Santarém, Alenquer, Almerim, Aveiro, Belterra, Curuá, Faro, Itaituba, Juruti, Jacareacanga, Mojuí dos Campos, Monte Alegre, Novo Progresso, Óbidos, Oriximiná, Prainha, Placas, Rurópolis, Terra Santa e Trairão. Com destaque, Santarém que é considerado um município polo desta região. Um dos principais agravos que é demanda de vários municípios é a Malária, com maior prevalência em Jacareacanga e Itaituba. A exploração vegetal e a mineração, como garimpos, são as atividades que mais preocupam, pois, nas regiões onde existem essas práticas os números de casos são geralmente altos e carecem de medidas preventivas e estratégias para controlar a propagação da doença. Cerca de 70% dos casos de malária no Pará abrangem municípios do 9.º CRS. Atualmente, uma das estratégias de combate e controle da malária mais eficazes consideradas pelos técnicos da DE do 9.º CRS é a detecção precoce, diagnóstico rápido e tratamento imediato e eficaz.  Assim, visando dar agilidade no diagnóstico e tratamento são instaladas em locais estratégicos as Unidades de Diagnósticos e Tratamento (UDT). Conforme as informações repassadas, as UDTs instaladas atualmente, não são suficientes para o atendimento de todas as áreas onde existe potencial para surtos da doença. Sendo que algumas localidades ficam “descobertas” principalmente devido à falta recurso e de profissionais e as especificidades loco-regionais que dificultam a permanência das equipes de saúde nestes locais. Outra medida preventiva adotada, trata-se da distribuição de mosqueteiros impregnados com inseticidas utilizados para evitar a picada do mosquito e o bloqueio da transmissão de doenças. No entanto, este método é questionado por alguns estudiosos quanto a possibilidade de causar a resistência do mosquito ao inseticida, o que poderia, a logo prazo causar o aumento da população de vetores. A migração de pessoas que adoecem e são atendidas em outros municípios é um dos problemas que exige monitoramento constante, como, a exemplo, os casos de malária detectados em 27 municípios do Mato Grosso cujo local provável de infecção seria Jacareacanga/PA, ou seja, casos exportados deste município. O setor de Entomologia da DE realiza o acompanhamento e capacitação técnico-científico de equipes municipais para o combate e controle dos agravos, assim como experimentos/estudos em parceria com a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantã. Realiza também, a implementação de ações de treinamento para descentralização de identificação de vetores; testes de suscetibilidade e persistência do inseticida aos vetores; implantação armadilhas para captura de animais e vetores; levantamentos entomológicos de vetores; apoio técnico com Rede de Laboratórios para coleta, transporte e diagnósticos com a execução do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) — que permite, o acompanhamento dos exames laboratoriais de agravos de notificação compulsória, fluxo de exames, recebimento e processamento das amostras, desde a coleta até a entrega dos resultados ao paciente, e elaboração de relatórios epidemiológicos e gerenciais. Outro agravo priorizado, são casos de Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) nas formas cutânea e mucosa, e Leishmaniose Visceral (LV), causados por diferentes espécies morfologicamente semelhantes de leishmanias, com várias espécies de flebotomíneos (vetores) envolvidos na sua transmissão, por isso, constituem um complexo de enfermidades de difícil acompanhamento e tratamentos que podem durar anos. Como visto, a Divisão de Endemias possui uma lógica funcional que, adaptada às necessidades do quadro funcional disponível e infraestrutura fornecida pelo Estado, concilia as demandas priorizadas por cada setor com base nas experiências observadas em anos anteriores. Como efeito, há um esforço das equipes no sentido de realizar ao menos uma visita em cada município, sendo que nem sempre se atingem essa meta anual pelos setores. Considerando os aportes financeiros tidos como insuficientes, a grande extensão territorial de cobertura, a programação decorrente de identificação de demandas espontâneas, os acúmulos de trabalhos de anos anteriores, a detecção por meio de monitoramentos, o suporte técnico realizado quadrimestral ou trimestralmente por grupo de municípios, verifica-se uma lógica incompatível como planejamento estratégico, insuficiente para o atendimento de todas as demandas o que acarreta desigualdade no acesso às ações e serviços de saúde. Outro aspecto importante a destacar, é que algumas programações estabelecidas pelos setores dependem de aprovação do nível central do estado, sendo assim, há uma dependência de liberação de recursos institucionais que podem interferir na realização do planejamento sem se ter um direcionamento mais estratégico à aplicação dos recursos. Conforme as observações, cada município tem suas demandas específicas, sendo que os setores da esfera estadual acabam elegendo quais dessas demandas serão atendidas numa ordem cronológica sem que os problemas sejam avaliados conjuntamente pelos atores o que poderia impactar positivamente nos diversos níveis de organização dos serviços. Portanto, desenvolver a análise das ações realizadas e os impactos gerados nas populações nos diversos territórios, são fundamentais à otimização dos recursos e melhorias nas políticas públicas. Esse processo contribui para que não se realize a tomada de decisão unilateral e paliativa sem se buscar compreender as causas reais, os fatores e variáveis que implicam na solução dos problemas garantindo maior resolutividade nas ações de saúde.