Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: o relato de uma intervenção Poética em uma Unidade Municipal de Saúde, em Belém do Pará.
SUELEN TRINDADE CORREA

Última alteração: 2022-02-23

Resumo


Apresentação: Um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que em 2021, quatro mulheres foram vítimas de feminicídio por dia no Brasil e um aumento de 8,3% nos casos de estupro de mulheres e vulneráveis comparado ao ano de 2020. É primordial que as equipes de saúde discuta e tome consciência sobre a violência contra mulheres, que também é uma questão de saúde pública. Para tanto, podemos utilizar a arte como instrumento de diálogo e cuidado frente a esse agravo. Desse modo, temos o objetivo de relatar uma intervenção poética desenvolvida em uma unidade municipal de saúde, no município de Belém, Pará. Desenvolvimento: A intervenção poética foi realizada por uma enfermeira-poeta-docente do curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará, no Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva. A intervenção ocorreu no mês de agosto de 2021, na campanha “Agosto Lilás”. Estiveram presentes na atividade: enfermeiros e técnicos de enfermagem da unidade, acadêmicos de enfermagem e usuárias do serviço. Para a intervenção poética foi utilizado tecido preto, vela branca, flor lilás artificial e corações confeccionados de EVA, além da cantiga popular “Se essa rua fosse minha” e o poema autoral “FIM”. Resultado: A enfermeira-docente-poeta saudou a todas e todos e iniciou a cantiga; enquanto cantava, ia ao encontro dos participantes, olhando nos olhos de cada um e entregando os corações de EVA. Após, foi declamado o poema: “Sou a mulher que é mãe, filha, tia, secretária, cozinheira, professora, dançarina, poeta... Sou a mulher que poderia ser o que quisesse... Sou a mulher que conheceu aquele cara... bonitão, saradão, legalzão, partidão! No começo eram flores, humores, amores... Foi paixão na certa! Mas aí, veio o ciúme e junto, o beliscão... Veio a humilhação e junto, o empurrão... Veio a pressão e junto, o SOCÃO! E agora eu era só dor, rancor... E a vida se “quebrou”! Mas eu disse: PAROU! Cara, o seu jogo acabou! Ele não aceitou e... meu FIM!”. Inicialmente as emoções expressadas foram de risos e alegria; no decorrer do poema, já foram de tristeza e choro. Ao final, diante da intervenção, três usuárias compartilharam experiências referentes às diversas violências sofridas com ex-companheiros, e principalmente, a superação dessas violências com denúncias. Houve relato de uma usuária sobre o assédio moral vivenciado no trabalho. Uma das enfermeiras da unidade de saúde expressou a necessidade da conscientização e conhecimento do assunto pelos profissionais da saúde, visto que a Atenção Primária poderia intervir melhor e com afinco na redução dos agravos e da violência. Considerações finais: A poesia (a arte em geral) é uma tecnologia de cuidado que se fez potente no diálogo sobre a violência na unidade municipal de saúde, desvelando, escutando, sensibilizando e valorizando a vivência de usuárias e dos profissionais da saúde. Discutir e enfrentar a violência contra as mulheres ainda é um desafio perante uma sociedade patriarcal, mas é essencial o comprometimento dos profissionais da saúde e da sociedade nesse enfrentamento, ajudando as mulheres em seu empoderamento e na eliminação de toda e qualquer violência.