Introdução: O HIV/Aids é considerado um problema de saúde pública mundialmente. No Brasil, a cidade de Porto Alegre, destaca-se por ocupar o ranking da maior taxa de detecção de aids e o maior coeficiente de mortalidade do país. Atualmente apresenta 41,9 casos de aids a cada 100 mil habitantes e 24,1 óbitos por aids, por 100 mil habitantes. Frente a esse cenário, instituições internacionais que trabalham com o combate à epidemia do HIV, propõe metas ousadas, baseadas em políticas e estratégias arrojadas, como o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), que apresenta a meta de eliminar a AIDS até 2030. E nacionalmente há metas primordiais para o controle do agravo, como as estabelecidas pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde (DCCI). Entre elas, destaca-se a importância de ampliação e fortalecimento do diagnóstico e tratamento das infecções sexualmente transmissíveis, ampliação do acesso às ações de promoção à saúde e prevenção para populações mais vulneráveis. Diante deste cenário, a gestão municipal de Porto Alegre investe em diferentes processos para intensificar a prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV, especialmente nas populações-chave. Entre estas ações, o município recebe inúmeros projetos de instituições que propõe-se compor a rede de cuidados às ISTS no município. A exemplo do projeto “A hora é agora”, que trata-se de uma parceria entre gestão municipal, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), o DCCI e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que tem como objetivo principal ampliar o acesso ao diagnóstico para as populações chaves através da oferta de novas tecnologias, a fim de atender esta demanda que não chega pela forma tradicional de assistência. Iniciado no ano de 2014, na cidade de Curitiba (PR) e expandido para Campo Grande (MS), Florianópolis (SC) , em 2019 e para Porto Alegre (RS), em 2021, o projeto trabalha na proposta do diagnóstico precoce através da estratégia de distribuição de autotestes para HIV, oferta de Profilaxia Pré e Pós exposição ao HIV, abordagem sindrômica das infecções sexualmente transmissíveis, vinculação precoce do usuário vivendo com HIV e início de tratamento antirretroviral oportuno, estabilização do paciente e posterior vinculação na rede de atenção em saúde do município.

Objetivo: Descrever a experiência de Porto Alegre com a implantação do Projeto “A hora é Agora “ como um dispositivo de ampliação de acesso ao diagnóstico e tratamento das ISTs para as populações-chave.

Metodologia: A Coordenação de Atenção à Tuberculose, IST, HIV/AIDS e Hepatites (CAIST) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre em parceria com a política de IST/AIDS da secretaria estadual de saúde (SES), conjuntamente com as instituições coordenadoras da estratégia receberam no município o projeto “A Hora é Agora - Testar nos Deixa Mais Fortes”, que iniciou no dia 04 de outubro de 2021. O projeto tem como objetivo principal ampliar o acesso das populações-chave (Gays, HSH, Mulheres Trans e trabalhadoras do sexo) ao diagnóstico e adesão ao tratamento da infecção pelo HIV.  As ações do projeto incluem: disponibilização de auto testes para HIV por amostra de fluido oral ou por punção digital,  através da plataforma virtual https://www.ahoraeagora.org, onde o usuário que atende aos critérios da população-chave pode escolher receber um dos autotestes em casa ou retirar em um armário digital localizado em um shopping center; equipe de saúde de referência para o atendimento dos testes confirmatórios para HIV, abordagem sindrômica de ISTs, disponibilização de PREP e PEP,  e testagem rápida por demanda espontânea e ações corpo a corpo de prevenção e educação em saúde, em conjunto com ONG, além da disponibilização de material gráfico informativo. No atendimento prestado pela equipe de referência para os testes reagentes, são realizados os testes confirmatórios, passando pelo acolhimento com o linkador e/ou enfermeira, os exames laboratoriais necessários são coletados, realizados CV, CD4 e creatinina rápida, investigação de tuberculose ativa ou latente, consulta médica e início da TARV com a dispensação no mesmo dia. O usuário passa a ser acompanhado por esta equipe até adesão e supressão da carga viral para vinculação em serviços da rede de saúde de Porto Alegre. A equipe multiprofissional é composta por enfermeiro, farmacêutico, médico, linkador e apoio logístico, profissionais com experiência para auxiliar usuários recém diagnosticados com HIV, contribuindo para retenção e adesão ao cuidado, além de proporcionar diferentes estratégias de prevenção a ISTs. O horário de atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h. O projeto trabalha com um processo importante de comunicação, contando com profissionais preparados para realizar a divulgação das ações, seja nas redes sociais, seja nas ações “corpo a corpo'' realizadas periodicamente nas áreas de sociabilidade com a maior circulação do público alvo. Resultados: Desde início do projeto em Porto Alegre, foram realizados 260 Testes Rápidos de HIV, sífilis, Hepatite B e C, 104 Profilaxias pré exposição ao HIV (PrEP), 19 profilaxia pós exposição ao HIV  (PEP), 05 pessoas vivendo com HIV (PVHA) acolhidas e em acompanhamento, 145 dispensações de autotestes pela equipe de referência, 510 autotestes enviados pelos correio e 78 autotestes dispensados pelo armário digital, através da solicitação pela plataforma virtual. Todas as estratégias realizadas são acompanhadas de aconselhamento qualificado na perspectiva de estabelecer vínculo e garantir o acesso sempre que preciso. Há um contato por whatsapp em que os usuários tiram suas dúvidas de forma mais facilitada. Considerações Finais: Conforme a proposta do projeto, foi possível observar o aumento do acesso ao diagnóstico às populações-chaves por meio da estratégia de autoteste, principalmente pela dispensação pelos Correios e a grande busca por atendimento na equipe para acesso à  prevenção combinada. Entre as estratégias com maior procura, destaca-se a PrEP, observa-se um quantitativo importante nos quatro primeiros  meses de projeto. Estes resultados provoca a reflexão sobre a persistência das barreiras de acesso na rede de saúde, principalmente na Atenção Primária, como também a necessidade de manutenção e ampliação de estratégias que permitam o acesso facilitado e discreto ao diagnóstico e tratamento, bem como formas de ofertar prevenção combinada além dos espaços tradicionais de assistência. Verifica-se através de relatos dos usuários uma boa aceitação e satisfação com a implantação do “A hora é agora”.