Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
CONVERSANDO SOBRE SAÚDE DA MENINA/ADOLESCENTE NO AMBIENTE ESCOLAR: DIRECIONANDO OLHARES E RECONSTRUINDO SABERES
Maria Francinete Oliveira, Maria Conceição Diniz Teixeira, Lorenna Barata Gurgel Dutra, Veida Chiara Mognatti Leite, Camila Caroline Marcolino Soares, Poliana Bezerra Davi de Melo

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


A ideia da construção de um “guia de conversa” sobre a saúde da menina/adolescente surgiu quando percebemos que estamos sempre conversando sobre os mesmos assuntos (gravidez não planejada, drogas, violências, infecções sexualmente transmissíveis), sem dar chances para que outros surjam, floresçam. Falar, conversar, entender o universo feminino é descobrir e compreender a construção social sobre a mulher, tendo como base a seu corpo biológico. Em 1949, Simone de Beauvoir escreveu “O Segundo Sexo” (dois volumes), sua obra-prima, onde refletiu profundamente sobre a condição da mulher, daquela época. São 815 páginas escritas e, ao que parece, tudo foi resumido em uma única frase: “ninguém nasce mulher”. De fato, ninguém nasce mulher. Nascemos machos e fêmeas e nos tornamos homens e mulheres, que é o nosso sexo social ou gênero (isso considerando os primeiros estudos de gênero, numa perspectiva de relação de poder). Possivelmente, o que Simone de Beauvoir estava querendo dizer é que esse “tornar-se mulher” (gênero feminino) é gerada pelas relações estruturantes que coloca as pessoas no mundo e determina, ao longo de suas vidas, escolhas, oportunidades, vivências, trajetórias, lugares, papeis. É na perspectiva de gênero, enquanto categoria de análise do sexo feminino, que iremos dialogar sobre a saúde da menina/adolescente, em seu ambiente escolar, nesse Outubro Rosa de  2021.O objetivo foi conduzir olhares construindo e reconstruindo saberes, uma literacia em saúde partindo da coordenadora do Projeto de Extensão “Projetos Integrados de vigilância à saúde: responsabilidades compartilhadas, para o grupo extensionista  do curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN) e deste  para estudantes do 6º ao 9º ano de seis Escolas Municipais e seus familiares. Os temas foram selecionados de acordo com as demandas das escolas, escolares e os indicados pela investigação científica. Entretanto, conduzimos os conteúdos numa dinâmica inovadora colocando-se a gravidez na adolescência (demanda das escolas), por exemplo, no conteúdo ciclo menstrual. Assim posto, o primeiro passo deste relato de experiencia foi a construção de um texto, escrito pela coordenadora do Projeto de Extensão o qual serviu de guia para as Ações ou Atividades do Outubro Rosa. Por tratar-se de assuntos que não são fácies de serem dialogados no ambiente escolar, como menstruação, relações sexuais, genitália feminina, desejos sexuais, entre outros, utilizamos a modalidade do Ensino Remoto dividindo-a em atividades síncrona e assíncrona (por exemplo, figura anatômica da genitália feminina, leitura sobre a Caderneta de Saúde da Adolescente, vídeos sobre a fecundação, cruzadinha, entre outras). Também foi colocado como atividade assíncrona os seguintes assuntos: o que significa Outubro Rosa; Qual o conceito de Saúde (definição da Organização Mundial da Saúde. OMS); Qual a especialidade médica que cuida da saúde de quem estar na fase da adolescência. O conceito de saúde envolve muitas coisas e conhecê-lo permite que escolares, familiares e docentes entendam que saúde não é apenas a ausência da doença. Então, seguindo os objetivos e interesses do Ministério da Saúde, centramos nosso olhar no corpo da menina que se transforma em um corpo adolescente (particípio passado do verbo “adolecere” que significa crescer). O segundo passo foi conversar sobre a Caderneta de Saúde da Adolescente, instrumento fundamental tanto para o entendimento das transformações corporais, quanto para a preservação da saúde e a ocorrência de uma gravidez não planejada. Afinal, cada menina/adolescente precisa saber cuidar de si, sem preconceito, traumas, sentimentos de culpas, entre outras coisas que só atrapalham a harmonia da vida.  As informações na Caderneta, retratam a preocupação de quem vê a adolescência, como uma transição entre a infância e a fase adulta, com intensa mudança física e comportamental, guiadas pelas manifestações fisiológicas, anatômicas, psicológicas e sociais, sendo um momento oportuno para a introdução de conceitos de educação sexual e reprodutiva. Além de ser o histórico vacinal de uma pessoa a Caderneta mostra, também, o crescimento e o desenvolvimento, conhecido na Unidade Básica de Saúde (UBS). como “CD”. Durante a adolescência, os dados antropométricos se tornam ainda mais importantes e valiosos para o acompanhamento do CD. Apesar de mais difíceis de se obter, o peso e o crescimento se fazem necessários para o acompanhamento por profissionais da Medicina, Enfermagem, Nutrição ou equipe de saúde que atende na UBS. Considerando a gravidez na adolescência como demanda das escolas, o assunto foi abordado quando mostramos o ciclo menstrual. Conversar sobre menstruação é “estar” na história das mulheres, até porque esse evento biológico serviu como elemento de reclusão e preconceito contra as mulheres durante vários séculos. Nossa sorte são historiadores/as, antropólogos/as e contadores de histórias culturais que com seus espíritos investigativos nos põem no passado, presente e futuro do sagrado feminino. Outro fato abordado durante a exposição do tema ciclo menstrual foi a Tensão Pré Menstrual ou TPM. Sua desconstrução, embora desejável, é difícil quando já está cristalizada a medicalização dos ciclos feminino (menstruação, gravidez e menopausa). Em respeito ao Outubro Rosa o grupo extensionista apresentou as doenças que mais afetam as adolescentes e como preveni-las. A dinâmica das atividades síncronas envolveu três momentos: o acolhimento, realizado por profissionais do Departamento de Assistência ao Educando (DAE, Secretaria Municipal de Educação), a informação, responsabilidade da docente e discentes da UFRN e a avaliação (da ação e do conhecimento adquirido), responsabilidade de todos os grupos extensionistas (DAE, UFRN e Coordenadoras das Escolas). Finalizamos as atividades incentivando as meninas/adolescentes para um diálogo com suas mães, tias, avós, bisavós ou outras mulheres de seu ambiente sociocultural de modo a identificar tabus, preconceitos, arranjos e lendas sobre a parte do corpo feminino que o sol não beija, sobre parto, amamentação, menstruação entre outras particularidades pouco conversadas. Na relação entre o profano e o sagrado a genitália feminina e a falta do entendimento real sobre ela, serviu de exemplo para a construção das relações de gênero promovendo a desigualdade de direitos e oportunidades entre os sexos masculino e feminino. Por fim, consideramos que o conhecimento proporcionado pelas ações do Outubro Rosa 2021, permitiu a cada participante a capacidade de interpretar o cotidiano e a incorporar atitudes e/ou comportamentos adequados para a melhoria do estado de saúde e qualidade de vida.  O passo futuro das ações aqui apresentadas é a construção e reconstrução desse “Ser Mulher”, momento que envolve, principalmente, as mulheres do núcleo familiar. Todas devem compreender que os cuidados para com a saúde merecem ser aprimorado todos os dias e de forma integral. Mulher não é só útero e mamas como figura cristalizada pelos serviços e cursos da área da saúde. Tendo uma consciência plena de seu direitos e deveres esse nova mulher deixa de ser aquela pessoa construída pela cultura, instituições educativas, científicas e religiosas para conduzir sua própria vida. Não basta dizer meu corpo me pertence. Tem que cuidar e zelar.