Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Situação de saúde e ações de enfrentamento à COVID-19 na Manaus dos trópicos
Jesse Moraes Oliveira, Thalita Renata Oliveira das Neves Guedes, Júlio César Schweickardt, Izi Caterini Paiva Alves Martinelli dos Santos, Adriana Lopes Elias, Gabriela Duan Farias Costa, Naila Mirian Las-Casas Feichas

Última alteração: 2022-02-12

Resumo


Apresentação: No final de 2019, na cidade de Wuhan na China, foram noticiados vários casos de uma pneumonia viral causada por uma cepa que, até então, não havia sido identificada em humanos. Após uma semana da primeira notificação, as autoridades chinesas confirmaram tratar-se de um novo tipo de coronavírus que, em fevereiro de 2020, passa a ser chamado de SARS-COV-2. No Brasil, o primeiro caso relatado ocorreu em fevereiro de 2020, na cidade de São Paulo, um homem proveniente da Itália foi o portador do vírus. No Amazonas, a Secretaria de Saúde confirmou o primeiro caso em março do mesmo ano, na capital Manaus, e enfatizou a importância de adequação nas medidas de monitoramento dos casos atendidos da rede de saúde do Estado. Neste contexto, nos propomos a discorrer sobre as ações de enfrentamento à pandemia de Covid-19, desenvolvidas no município de Manaus, como parte da pesquisa “Prevenção e Controle da Covid-19: a transformação das práticas sociais da população em território de abrangência da Atenção Básica em Saúde no Estado do Amazonas”. Utilizamos como referência os documentos como o Plano Estadual de Saúde Amazonas (2020-2023) (PES), Plano Municipal de Saúde de Manaus (2018-2021), Plano de Contingência à Covid-19, Portarias e outros documentos que tratam do enfrentamento da pandemia. Desenvolvimento do trabalho: O estado do Amazonas foi terrivelmente atingido pela pandemia de Covid-19, muitas mortes, falta de leitos, falta de insumos entre eles oxigênio. A instabilidade política, considerando que tivemos quatro secretários de saúde em 2020 e inúmeras acusações de corrupção, agravou este quadro, gerando descontinuidade das ações e das estratégias para o enfrentamento da pandemia. Tal situação pode ser identificada no relato a seguir: Em final de 2019, ouvia na televisão sobre a emergência dessa nova cepa de coronavírus; doença que víamos à distância e que não imaginávamos que iria nos atingir de forma tão aterradora! Até meados de março, o trabalho na unidade de saúde em que atuo como médica de família e comunidade há 16 anos, estava relativamente normal com poucos casos de suspeita de infecção pelo SAR-COV-20. Suspeita, pois não tínhamos como confirmar já que não tínhamos testes. Mas, na segunda quinzena de março/2020, o número de casos já estava tão grande que praticamente só atendíamos suspeitos desta infecção! Fomos organizados em escalas de modo a atendermos ininterruptamente aos pacientes durante o horário de funcionamento de nossa unidade básica de saúde na região central de Manaus. Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) disponíveis eram os que já possuímos, tendo que comprar outros. Nos mobilizamos para comprar aparelhos para melhor atender os pacientes como oxímetros. Uma sala (sala rosa) foi montada na Unidade Básica de Saúde para acolher pacientes mais graves até poderem ser transferidos para as unidades hospitalares. A SEMSA enviou um balão de oxigênio, mas os cateteres para levar o oxigênio até os pacientes acabavam e não havia reposição adequada. Em muitos momentos, esperávamos por horas uma ambulância do SAMU para transferência! Nos hospitais, não havia vaga! Passamos a dividir nossas angústias diante do sofrimento das pessoas e nossa ignorância a respeito de como diagnosticar e tratar estas pessoas. Tínhamos também a preocupação de como nos proteger deste vírus que poderia infectar a equipe, o que acabou acontecendo com toda a equipe (com exceção desta médica que vos relata e de nossa fiel e batalhadora diretora). Tivemos que aprender a lidar com a morte diária de pacientes, colegas de trabalho e, algumas vezes, familiares. Havia dias em que eram alguns pacientes graves simultaneamente, mas apenas 1 balão/cateter de oxigênio! (Médica de Família e Comunidade). Resultados e/ou impactos: No Amazonas, considerando a necessidade de adoção de medidas para evitar a circulação do vírus, nos termos do decreto n° 42.061, de 16 de março de 2020, foi declarado situação de emergência na saúde pública, em razão da disseminação da Covid-19, sendo instituído o Comitê Intersetorial de Enfrentamento e Combate a Covid-19. Foi atualizado o Plano de Contingência Estadual, seguindo as normativas do Ministério da Saúde. O Decreto n°42.100 de 23 de março de 2020 declarou estado de calamidade pública pelo novo Covid-19, sendo complementado pelo Decreto nº 42.101 que, na mesma data, determinou o fechamento de setores do comércio por 15 (quinze) dias, para atividades não essenciais e setores de serviços, como medida para evitar a circulação do vírus Covid—19. O setor saúde, por sua vez, elaborou vários documentos, dentre os quais destacamos o “Plano de Contingência Municipal para Infecção Humana pelo novo Coronavírus (Covid-19)”. A Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) redefiniu fluxos, redistribuiu os profissionais, instituiu serviços online de orientação à população (teleconsulta, chat saúde), definiu unidades de referência para atendimento às síndromes respiratórias com ampliação do horário de funcionamento. No que tange à Educação Permanente em Saúde, a ação priorizada pelo município foi a de qualificação da prática profissional. A Escola de Saúde Pública (ESAP) ofereceu educação continuada em temáticas relacionadas ao uso adequado de EPI e acolhimento humanizado, dentre outras, com participação de 9.604 profissionais e trabalhadores de saúde no ano de 2021. Em relação a Vigilância Sanitária verificamos que a Visa Manaus pactuou ações de gestão com articulação institucional nas três esferas e ainda, controle sanitário de diversos segmentos de atividades econômicas, dentre eles hotelaria, participação em treinamentos, além de Informação, Comunicação e Educação para a Saúde. Já a vigilância epidemiológica atua no monitoramento das pessoas contaminadas, se internou, se melhorou, se veio a óbito, em qual unidade está. Houve também a implementação do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), definido na Portaria nº 1.405, de 29 de junho de 2006, do Ministério da Saúde, que atua na investigação de mortes por causas naturais sem sinais de violência, e foi uma importante ação protagonizada pela Vigilância em Saúde durante a pandemia.  Considerações Finais: Manaus, desde a sua origem indígena, dos Manáos, é um lugar diferenciado que precisa se identificar com ela mesma e não com o não está nesse aqui. Na pandemia não podemos nos orgulhar de ter sido o epicentro do contágio, inclusive com o “privilégio” de ter uma variante denominada de P1 ou variante de Manaus. Isso aconteceu por diversos motivos e gerou consequências incalculáveis para a vida das pessoas. Tivemos tempos terríveis com a crise do oxigênio, no início de 2021, com tantas mortes desnecessárias e evitáveis simplesmente porque não tinham ar, o que é um paradoxo com o lugar conhecido como “pulmão do mundo”. Manaus, como qualquer outra cidade da região, possui uma imensa diversidade social e uma grande variedade de culturas. Apesar de nem sempre ser uma prioridade das políticas públicas, as vozes se fazem ouvir e ecoam pelo mundo afora. A população ribeirinha e indígena convive entre os rios, as ruas e a cidade, fazendo o equilíbrio entre os diferentes modos de vida. Assim, Manaus não deixou de ser um pouco indígena, apesar das fábricas de televisores; não deixou de ser ribeirinha apesar dos seus condomínios e prédios altos; não deixou de ser amazônica apesar dos valores exógenos; não deixou de ser uma cidade acolhedora apesar das desigualdades e iniquidades. Por fim, esperamos que a pesquisa sobre Covid-19 nos ajude a compreender mais e melhor sobre o ser humano e as dinâmicas sociais.