Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Museu como zona de convergências: provocando novas institucionalidades
Raquel Fernandes, Diana Kolker

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


O presente trabalho visa apresentar, através do relato de experiências, os projetos expositivos e  programas criados pelo Museu Bispo do Rosario . Por meio da  integração da arte, educação e saúde,  a instituição produz modos de    trabalhar a memória e seus objetos na direção de uma prática como  museu expandido, para a produção de vínculos e novas relações  no e com o  território. Como essa forma de organização contribui para o processo de desinstitucionalização e possibilita  repensar o Museu  e assim provocar  novas institucionalidades.

O Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea é uma instituição de arte ligada ao Instituto Municipal de Assistência a Saúde Mental Juliano Moreira, localizado na zona oeste do Rio de Janeiro.  Outrora uma das maiores instituições manicomiais do Brasil e ainda antes um engenho colonial, a região se insere de forma periférica na malha urbana da cidade. A aproximação da arte com a saúde mental não é algo novo. Esteve presente nos manicômios desde meados do século passado, nos ateliês de arteterapia, utilizada para diversos fins. Com o advento da reforma psiquiátrica nos anos de 1980, os artistas são convocados a ajudar na transformação do manicômio, na desconstrução da imagem negativa da loucura. Era necessário apontar para o fracasso do asilo como local de recuperação e tratamento e abrir espaços na sociedade para a convivência com a loucura. Foi dentro desse contexto de abertura que surgiu o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, com a proposta de ampliar esse diálogo ao se consolidar como um espaço formal de arte que visa desestruturar a instituição manicomial de dentro para fora. Desde 2013, a nova gestão vem desenvolvendo o conceito de Museu Expandido, por acreditar que suas ações se expandem para além das reservas e galerias, criando programas fortemente marcados pelo ambiente e pelo interesse em fortalecer os vínculos com os usuários e profissionais do serviço de saúde mental, a rede de ensino e os moradores da região. Este trabalho busca pensar como um Museu de Arte Contemporânea que também atua como um dispositivo de saúde dentro do que foi um manicômio, pode ser um ambiente de liberdade, de práticas descolonizadoras, lugar de criação, afeto, potência, intimidade e cuidado? As contingências e singularidades que constituem o território do qual o Museu é parte podem produzir novas institucionalidades, conceitos, políticas curatoriais? Como superar as barreiras históricas e conjunturais, as imensas dificuldades estruturais e atuar no território, como um espaço da vizinhança e não como um museu colonizador que olha para o território e para seus habitantes como algo a ser descoberto e conquistado? Para tanto, apresentar-se-á algumas experiências e programas realizados pela instituição nos últimos anos, articulados à referenciais teóricos dos campos afins, para analisar as questões apresentadas e criar, quem sabe, outras mais.