Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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INCIDÊNCIA DE HIV/AIDS NO BRASIL, 2011-2020: MOTIVOS PARA PREOCUPAÇÃO?
Germana Maria da Silveira, Joana Darc Martins Torres, Samy Loraynn Oliveira Moura, Maria Lúcia Duarte Pereira

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


Apresentação: a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e se caracteriza pelo enfraquecimento do sistema de defesa do corpo e pelo aparecimento de doenças oportunistas. As formas de transmissão do vírus ocorrem principalmente através de relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas e transmissão vertical. O período entre a infecção pelo HIV e o surgimento da AIDS pode durar anos, por isso é importante a prevenção em todas as relações sexuais e a realização de testes para a detecção precoce do HIV. A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou em 2015 um relatório que mostra que o número de infectados pelo vírus HIV diminuiu no mundo. Mas, no Brasil, o registro de novos casos de aids aumentou. Atualmente mais de 36 milhões de pessoas em todo o mundo estão contaminadas com o vírus Imunodeficiência Humana (HIV), até o final de 2013 cerca de 1,6 milhões de pessoas viviam com Aids na América Latina. No Ceará, em 2012, foram notificados cerca de 800 casos de AIDS, dos quais 53,7% residem na Capital. A aids é uma doença de notificação compulsória no Brasil. Os dados sobre aids no país são registrados por diferentes sistemas de informações, sendo o mais importante o banco de dados de vigilância proveniente do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Com isso, o objetivo deste trabalho é descrever a série histórica da incidência de HIV/AIDS no Brasil entre 2011 a 2020. Desenvolvimento: trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, retrospectivo, constituído a partir da análise de séries temporais sobre a taxa de incidência de HIV/AIDS no Brasil, no período de 2011 a 2020, cujos dados foram obtidos por meio de consulta às seguintes bases de dados SINAN e SIM (Sistema de Informações de Mortalidade), disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no endereço eletrônico (http:// www.datasus.gov.br), que foi acessado nos meses de outubro e novembro de 2020. Como critérios de inclusão consideraram-se: constituída por todos os casos de HIV/Aids em pessoas com idade ≥13 anos, residentes no Brasil, notificados entre os anos de 2011 a 2019. Para evitar erros de retardo de notificação, optou-se por analisar os dados disponíveis até junho de 2019, em que constavam os dados completos. Foram excluídos 206 casos diagnosticados de aids, nos quais não constava a idade dos indivíduos. A partir dos dados obtidos no DATASUS, os resultados foram discutidos junto com a literatura. Além disso, foi calculada a proporção de casos de Aids segundo sexo e faixa etária para o período. Por se tratar de um banco de domínio público, não foi necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: de 2011 até junho de 2020, foram notificados no Sinan 136.945 casos de infecção pelo HIV no Brasil. A taxa de detecção de aids no Brasil tem apresentado estabilização nos últimos dez anos, com uma média de 20,7 casos/100 mil hab.; também se observa estabilização da taxa na região Centro-Oeste, com uma média de 18,5 casos/100 mil hab. A região Sudeste apresenta tendência importante de queda nos últimos dez anos; em 2011, a taxa de detecção foi de 26,2, passando para 18,0 casos/100 mil hab. em 2019, o que corresponde a uma queda de 31,2%. As regiões Norte e Nordeste apresentam uma tendência linear de crescimento da taxa de detecção; em 2011 a taxa registrada foi de 15,0 (Norte) e 11,1 (Nordeste) casos/100 mil hab., enquanto no último ano a taxa foi de 24,0 (Norte) e 15,3 (Nordeste), representando um aumento de 61,4% (Norte) e 37,2% (Nordeste). A região Sul apresentou uma leve tendência de queda de 7,4%, passando de 30,1 casos/100 mil hab. em 2011 para 27,9 em 2020. Em relação ao sexo, os homens tiveram a maioria das notificações de Aids ao longo dos anos, revelando que há uma proporção maior de homens infectados; no entanto, o número de mulheres infectadas está crescendo. No Boletim Epidemiológico AIDS-DST 2017, mostra que o número de casos de AIDS é maior entre os homens do que entre as mulheres. As mulheres, em função de sua trajetória histórico-social, têm se mostrado especialmente vulneráveis às doenças sexualmente transmissíveis, com destaque para a infecção pelo HIV. O contexto em que isto acontece geralmente envolve a dificuldade em negociar o uso do preservativo, a ideia de imunidade por viver um relacionamento estável complementada pela crença no amor romântico e protetor presente nessas relações. O número crescente de mulheres infectadas pelo HIV, especialmente em idade reprodutiva, torna-se um problema de saúde pública, pois significa a possibilidade real de transmissão vertical, pois a maioria dos casos de infecção pelo HIV em crianças ocorre por essa via. Dentre os adultos, as faixas etárias preponderantes em número de casos situam-se entre 20 e 49 anos. Há poucos casos na faixa etária de 5-9 anos e isto se mantém ao longo dos anos. De acordo com dados do SINAN (2008), quanto à escolaridade, no Brasil, houve uma redução de casos de AIDS entre os que têm mais de 12 anos de estudo. Outro achado relevante diz respeito à escolaridade como a variável de maior poder explicativo para as diferenças relativas às práticas sexuais de risco. A frequência do uso de preservativo aumenta de acordo com o grau de escolaridade, enquanto o uso de drogas diminui com o aumento da escolaridade. Outro dado importante do estudo, refere-se à variável escolaridade, que mostrou-se estatisticamente significante tanto na amostra geral, quanto no grupo de indivíduos do sexo feminino. Em relação às mulheres, ressalva-se que a escolaridade, especialmente a baixa escolaridade, constitui-se importante fator potencializador da vulnerabilidade deste público ao vírus HIV, visto que a disseminação da Aids entre as mulheres, em todo mundo, foi mais contundente entre àquelas com menor nível de formação escolar. Quanto à forma de transmissão bissexual, ao longo da série histórica, só foram registrados casos em indivíduos do sexo masculino. Houve também, em alguns anos, casos com a categoria ignorada, ou seja, não foram registrados na ficha de notificação, o que dificulta o serviço de vigilância a identificar absolutamente o perfil da população mais atingida pela doença. Há ainda um grande número de casos cuja forma de transmissão é ignorada e, em toda a série histórica (2011-2020) no sexo feminino a categoria Hemofílico não foi informada. Não foram registrados casos de transmissão por acidente de trabalho na maioria dos anos. Assim, fica explícita a necessidade de estratégias que visem a redução de danos e mudança de atitudes frente à exposição ao vírus e, consequentemente reforcem a ideia de que orientação sexual, seja ela qual for, não constitui por si só fator de proteção a esta infecção. Considerações finais: A pesquisa permitiu o reconhecimento do atual panorama nos últimos 10 anos de HIV/AIDS no Brasil. Percebe-se também que vem ocorrendo uma feminização da epidemia, com certa oscilação ao longo da série, porém com aumento significativo do número de casos no sexo feminino. Com isso, conclui-se que existe a necessidade de políticas públicas que permitam abranger de forma eficiente todas essas populações através de ações educativas, trabalhando conceitos de contágio, prevenção e vulnerabilidade, e de ações de saúde visando à melhoria da qualidade de vida de indivíduos soropositivos.