Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE CASOS DE ZIKA VÍRUS EM MULHERES GRAVIDAS SEGUNDO CONDIÇÕES SOCIOSSANITÁRIAS DA CIDADE DE MANAUS-AM
MARCELA BELEZA DE CASTRO, Flor Ernestina Martinez Espinosa, Maria das Graças Costa Alecrim, Rita Suely Bacuri de Queiroz, Celso Rômulo Barbosa Cabral, Maria do Carmo Leal, Marcílio Sandro de Medeiros

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


O vírus Zika (ZIKAV) é um arbovírus pertencente ao gênero Flavivirus, família Flaviviridae e os primeiros surtos da doença foram identificados na região do Pacífico nos anos de 2007 e 2013, nas ilhas Yap e Polinésia Francesa e posteriormente, em 2015 nas Américas e na África.

A doença é uma infecção reemergente, sendo que cerca de 100 países encontram-se em risco de transmissão, sendo o Aedes aegypti o principal mosquito vetor nas Américas.

No Brasil, ZIKAV emerge associada a transmissão vertical (epidêmica) de microcefalia em outubro de 2015, como uma tragédia sanitária e humanitária no Brasil e com número maior casos na Região Nordeste do Brasil, e posteriormente em outras regiões do país

A microcefalia é caracterizada por uma malformação onde o perímetro cefálico é menor que o esperado para o sexo e idade da criança. Segundo a Organização Mundial de Saúde, as medições do perímetro encefálico nos casos de microcefalia são: meninos - igual ou inferior a 31,9 cm; meninas - igual ou inferior a 31,5cm nascidas a termo (37 a 42 semanas de gestação), podendo variar em graus de leve a grave.

No Brasil, de acordo com os dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), houve um incremento considerado na prevalência de microcefalia ao nascer no ano de 2015. Também foram comprovadas evidências que sustentam o reconhecimento da relação entre a presença do ZIKAV e o aumento da ocorrência de casos de microcefalia no país.

O sistema de informação geográfica (SIG) é uma ferramenta de uso na vigilância em saúde pois possibilitar a análise integrada da distribuição espacial dos casos de ZIKAV com os contextos sociossanitários da cidade.

Logo, o objetivo desse estudo foi descrever os casos de gestantes com ZIKAV segundo variáveis sociossanitárias na cidade de Manaus.

A pesquisa epidemiológica é do tipo transversal baseada em casos de ZIKAV relacionados ao acesso da população de abastecimento de água por rede geral, coleta de lixo e esgotamento sanitário.

A área e a população de estudo, respectivamente, é a cidade de Manaus e as mulheres gestantes infectadas por ZIKAV atendidas no serviço de saúde da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, sendo o ano de referência 2016 (ápice epidêmico).

As variáveis dependentes dos casos de ZIKAV foram provenientes de dados secundários do Sistema de Regulação (SISREG) do Sistema Único de Saúde e as variáveis independentes da condição sanitária de vulnerabilidade do domicílio foram obtidos de metadados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os quais foram considerados adequados os domicílios que
se classificavam como: 1) Domicílios Particulares Permanentes com Banheiro de Uso Exclusivo dos Moradores ou Sanitários e Esgotamento Sanitário Via Rede de Esgoto ou Pluvial; 2) Domicílios Particulares Permanentes com Lixo Coletado pelo Serviço Público; Domicílios Particulares Permanentes com  Abastecimento por Rede Geral.

O plano de análise iniciou por meio da obtenção das frequências absolutos e relativas dos dados em tabelas eletrônicas (Excel) e posteriormente foram geoespacializados por distritos sanitários utilizando o software Arcgis 10.3.

Enfatiza-se que este trabalho é um desdobramento da pesquisa “Doença exantemática durante a gravidez durante a Transmissão do Zika vírus em Manaus e seus possíveis efeitos sobre a gestação, feto, Recém-nascido e a infância”, coordenada pela professora Dra. Flor Ernestina Martinez Espinosa, cujas atividades foram realizadas no Laboratório Território, Ambiente, Saúde e Sustentabilidade – LabTASS, do Instituto Leônidas & Maria Deane – Fiocruz Amazônia, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical – Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) sob o CAAE de número 60168216.2.0000.0005.

Em 2016 foram registrados 857 casos de ZIKAV em mulheres gestantes, cuja incidência foi de 92,9/ 100.000 habitantes. No entanto, foi possível geoespacializar apenas 691 desses casos de ZIKAV, devido à ausência de dados do endereço residencial das pacientes.

Dentre aquelas com informação (geospacializada) sobre a escolaridade, 64% tinham de 9 a 11 anos de escola, 20% mais de 12 anos de escola e 16% de 5 a 8 anos de escola.

Quando analisados espacialmente os casos de ZIKAV por distritos sanitários foi observado que estão mais concentrados no: Norte (27,79 %), Leste (17,66 %) e Sul (18,67 %). No Disa Norte, destacam-se os bairros: Cidade Nova (7,53 %), Cidade de Deus e Novo Aleixo (3,91%). Quanto ao Disa Leste, os mais afetados pela doença foram: Jorge Teixeira (5,79 %), Coroado (2,46 %) e São José do Operário (2,32 %). Já no Disa Sul, destacam-se os bairros: Petropólis (3,76 %), Japiim (2,32 %) e Centro (1,42 %).

Os distritos sanitários que apresentaram as maiores porcentagens de domicílios particulares permanentes em condição sanitária de vulnerabilidade foram Disa Norte e Disa Leste de Manaus.

A cidade de Manaus possui o décimo maior PIB dentre as capitais do país, no entanto, registra um elevado déficit em saneamento básico. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, em média 75% dos domicílios de Manaus fazem parte da rede geral de abastecimento de água.

Os domicílios com piores acessos a rede geral de abastecimento de água estão localizados nos Disas Sul (93,45 %) e Oeste (83,43 %).

Na cidade os domicílios que possuem o melhor acesso a coleta de lixo pelo serviço público, se concentraram principalmente nos Disas centro-sul (98, 61%) e centro-oeste (99,5 %), onde foram registrados menos casos de gestantes com ZIKAV.

Em relação aos domicílios particulares permanentes com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou sanitários e esgotamento sanitário via rede ou pluvial, estes domicílios são concentrados nos Disas oeste (86,76 %) e norte (57,69 %), em particular no bairro Cidade Nova; e sul (51,33 %) da cidade de Manaus.

Podemos afirmar que os domicílios que apresentaram maiores número de casos de gestante com ZIKVA foram os localizado na Disa norte e Disa leste. Esses representam as áreas de expansão periférica recente da cidade sobre as bordas da floresta, as quais apresentam os maiores déficit de serviços públicos.

Para compreendermos os processos sociais da microcefalia, precisamos incorporar a vida das pessoas, onde vivem e como vivem, como moram, qual infraestrutura e serviços utilizam. Incorporamos a história na formulação do problema, pois é a história da vida das pessoas e de sua ocupação do espaço urbano que produz essas epidemias. Sendo, portanto, a próxima etapa da pesquisa.

Palavras-chaves: Condições sociosánitárias, ZikaV, Manaus.