Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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QUALIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NO ÂMBITO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO ESTADO DO MARANHÃO
Thais Silva dos Reis, Flávia Christiane de Azevedo Machado

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


A Educação Permanente em Saúde (EPS) é uma estratégia que visa promover mudanças na realidade do trabalho mediante reflexão crítica e problematizadora. Desta forma, a EPS se destaca pela valorização do trabalho como fonte do conhecimento promotor a transformação e melhoria da qualidade da atenção ofertada em uma dada realidade. Assim, esse estudo foi desenvolvido em prol das reflexões que busca produzir relacionadas às experiências vividas no mundo do trabalho relacionadas à EPS. No âmbito da Atenção Primária à Saúde práticas de educação popular em saúde são ainda mais relevantes. Isto porque, este nível de complexidade tecnológica da atenção à saúde é prioritariamente responsável por ações de promoção à saúde. Neste contexto, a experiência aqui relatada no formato de uma pesquisa-ação buscou promover a qualificação das atividades educativas dos profissionais da saúde que atuam no âmbito da Atenção Primária à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) na regional de saúde de São Luís/MA, suscitando reflexões críticas sobre o próprio trabalho a partir dos princípios, lógicas e ferramentas da Educação Popular em Saúde mediante desenvolvimento de oficina de capacitação. Para a realização do presente estudo, optou-se por uma abordagem qualitativa, do tipo pesquisa-ação. A pesquisa-ação tem como intuito, acontecer por meio da identificação de um problema, buscando entendê-lo e solucioná-lo, com o objetivo de modificar as realidades observadas, a partir de sua compreensão e conhecimento para o desenvolvimento da pesquisa. Neste sentido, as oficinas de educação em saúde desenvolvidas e avaliação de materiais para educação popular em saúde produzidos intencionaram o movimento de ação-reflexão-ação dos participantes. Nesta oficina foram avaliados materiais educativos relacionadas ao ciclo de vida gravídico-puerperal da mulher. Esses materiais, uma vez avaliados pelos profissionais participantes da oficina foram avaliados por mulheres potenciais usuárias de serviços de saúde. Sinteticamente, a pesquisa-ação foi desenvolvida em seis fases: 1. Produção de materiais educativos elaborados a partir de uma revisão bibliográfica tradicional sobre os temas:  Amamentação, luto gestacional, importância da doula no processo de gestar e parir e violência obstétrica. Os materiais foram elaborados no formato de cartilha que são comumente utilizados no contexto da Atenção Primária à Saúde. 2. Desenvolvimento de oficina: As oficinas de capacitação ocorreram no mês de junho de 2021 e tiveram dois encontros, distribuídos em dois dias. Cada encontro teve duração de 90 minutos e ocorreram de forma remota utilizando a plataforma de interação virtual Google Meet®. No primeiro dia foi feita uma questão disparadora para suscitar reflexões: “Qual o seu entendimento sobre o funcionamento da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) e da Educação em saúde?”. Após a discussão sobre a questão, foi feita a divisão dos participantes da oficina em pequenos grupos para viabilizar a leitura e discussão da Portaria 1996 de 20 de agosto de 2007, com o objetivo de problematizar como deveriam estar articulados o planejamento e execução das ações de educação permanente em saúde. Após discussão, os grupos sintetizam sua apreensão em uma apresentação para o grande grupo. Finalizando o dia com a apresentação dos materiais construídos pela pesquisadora na temática do ciclo gravídico-puerperal da mulher no intuito de solicitar a análise dos materiais pelos profissionais participantes da oficina para uma posterior adequação dos mesmos pela pesquisadora. No segundo dia de oficina, foi realizada a apresentação do questionário de validação e discussão sobre às proposições dos profissionais avaliadores e Exibição do vídeo “Educação Permanente trabalho em ato” - Depoimento de Merhy. Portanto, a oficina foi delineada em conformidade às estratégias de ensino-aprendizagem ativas onde os participantes são sensibilizados à reflexão. 3. Adequação dos materiais às proposições dos profissionais avaliadores, na oficina ocorreu uma discussão dialógica sobre os materiais educativos de saúde da mulher produzidos pela pesquisadora no intuito de viabilizar uma avaliação desses materiais pelos profissionais participantes. Ressalte-se que os materiais foram enviados previamente aos profissionais, em data anterior a da oficina (15 dias), por e-mail, para que pudessem responder a um questionário construído com a ferramenta Google Forms® contendo perguntas especificas. 4. Envio dos materiais educativos para uma amostra de mulheres, foram enviados para uma amostra de mulheres que possuíam características do público-alvo dos materiais. No caso, foi constituída uma amostra de 23 mulheres cujo critérios de inclusão foram:  mulheres maiores de 18 anos de idade com a vivência do processo gestacional há no máximo 6 meses. Este tempo foi estipulado para reduzir o viés de memória 5. Adequação dos materiais às observações das usuárias. 6. Distribuição dos materiais para a Secretaria de Estado de Saúde do Maranhão e Secretaria Municipal de Saúde de São Luís. Participaram da oficina 10 profissionais, sendo 5 encaminhados pelo superintendente da Atenção Primária à Saúde (APS) do estado do Maranhão e 5 profissionais da Escola de Saúde Pública do Estado do Maranhão. A oficina de capacitação, composta por dois encontros de 90 minutos, ocorreu de forma remota pela plataforma Google Meet em junho de 2021. As dinâmicas utilizadas na oficina foram embasadas na teoria da problematização valendo-se assim de referenciais teóricos para contrapor a prática e suscitar reflexões. Na perspectiva dos profissionais, havia necessidade de mudar as ilustrações substituindo figuras em forma de desenho por imagens reais a fim de facilitar a identificação de sinais e sintomas e adicionar assuntos não contemplados. Essas indicações foram norteadoras de ajustes. Os dados coletados por meio dos questionários foram analisados de forma descritiva. A avaliação da oficina pelos profissionais, na totalidade dos critérios, obteve juízo de valor satisfatório ou muito satisfatório. As estratégias e ações com foco na EPS são de fundamental importância para o amadurecimento e qualificação das práticas educativas na atenção primária. No entanto, várias dessas iniciativas criadas para os profissionais da saúde partem de uma crítica de educação com foco em ações pontuais. Mesmo que haja uma permanência nas práticas voltadas para o modelo tradicional, pode-se considerar que o uso de recursos tecnológicos e de práticas reflexivas no próprio cotidiano de trabalho ou que integrem ensino-serviço nas iniciativas EPS aumentaram. Esses recursos têm como objetivo despertar os trabalhadores de saúde para mudança de sua prática em prol da qualificação dos serviços de saúde. Este é o ponto em que as práticas em EPS de fato acontecem. No que se refere as oficinas realizadas, elas tiveram uma avaliação positiva na perspectiva do público-alvo. Em igual sentido, as cartilhas pelas mulheres representantes do potencial público-alvo a nível da APS/SUS. Os participantes da oficina sobre Educação Permanente em Saúde (EPS) tiveram uma compreensão da EPS para além da capacitação técnica, mas a conceberam como compromisso pessoal a ser conquistado a partir de mudanças de atitudes fundamentadas nas experiências vividas, por meio da relação com os outros, com o meio, com o trabalho.Vale lembrar que para se efetivar uma Política de EPS, são necessárias estratégias política, técnica e pedagógica. A avaliação do processo é de enorme importância para se consolidar novas práticas de saúde. Assim, acredita-se que as oficinas de capacitação alcançaram a proposição de viabilizar uma maior apreensão sobre a educação permanente em saúde, bem como validar materiais para educação popular à saúde potencialmente úteis às mulheres assistidas na APS/SUS.