Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Processos Coletivos de Formação dos Trabalhadores Sociais: a experiência do “Projeto Niterói - uma cidade inteira para todas crianças, adolescentes e jovens"
ELIZABETH FALCAO CLARKSON, SÔNIA MARIA DANTAS BERGER, RANULFO CAVALARI NETO, LETÍCIA DE FREITAS PORTUGAL, LETÍCIA DE SOUZA BLANCO, THAYNÁ de OLIVEIRA MOREIRA RODRIGUES, EMANUEL BRICK RIBEIRO, ISABELA RAMOS MAIA

Última alteração: 2022-03-02

Resumo


O Projeto Niterói é resultado de uma ação coletiva, a partir da experiência de extensão universitária (popular) na perspectiva de produção de cuidado de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade e um grupo de trabalhadores inseridos na Atenção Psicossocial Infanto-juvenil da cidade, constituindo-se a partir do projeto de extensão “Criança e adolescente em situação de rua e acolhimento institucional: construindo estratégias de territorialização afetiva” para desenvolver ações no território visando a produção de acesso à saúde e qualificação do acolhimento e escuta das demandas desses sujeitos. O projeto está vinculado ao Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFF em Niterói, com integração de estudantes de graduação (medicina, serviço social, psicologia e nutrição) e pós-graduação (saúde coletiva, geografia, educação e sociologia), professores e técnicos do ISC e do Instituto de Nutrição e, conta com a parceria da ERIJAD (Equipe de Referência Infanto–Juvenil para ações de atenção ao uso de Álcool e outras Drogas) e da ONG Bem-TV .

O Projeto Niterói ancora-se no tripé ensino, pesquisa e extensão  busca enfrentar o agravamento das situações de vulnerabilidade e ser um potencializador do acesso da população infanto-juvenil em situação de vulnerabilidade aos serviços essenciais, ao cuidado e a proteção social, buscando dar visibilidade aos impasses identificados nas redes socioassistenciais, fomentar experiência de redes intersetoriais territorializadas na direção da descentralização e capilaridade e, sensibilizar a população em geral sobre a importância de Uma cidade inteira para cuidar de suas crianças/adolescentes e jovens. Como estratégia metodológica de investigação, educação e intervenção o projeto orienta-se pela pesquisa-ação (PA), visando à transformação de uma determinada realidade, neste caso, dos meninos e meninas em situação de rua e/ ou vulnerabilidade.  A PA lança mão de variadas técnicas, em seus diferentes momentos ou processos de investigação, para “coletar e interpretar dados, resolver problemas, organizar ações, etc” (THIOLLENT, 1986, p.25), ao mesmo tempo em que colabora para a construção coletiva do conhecimento entre pesquisadores e grupos envolvidos.

Para o desenvolvimento do projeto, três linhas de ação se articulam, processualmente, por meio dos princípios éticos, políticos e pedagógicos da Educação Popular e da Extensão Universitária, sendo elas: (linha de ação 1) a produção e disseminação de informação por meio de um diagnóstico situacional sobre as políticas públicas municipais para a população infanto-juvenil, as percepções e práticas de diferentes atores sociais nos serviços e conselhos de tutelares e, as vivências de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade e/ou rua; (linha de ação 2) a formação/educação permanente/capacitação de trabalhadores sociais que atuam no Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente; (linha de ação 3) e, as ações extensionistas de incidência política e produção de acesso nos territórios. Essas ações no território, dentro da experiência pregressa do grupo de pesquisadores, estudantes e trabalhadores iniciada entre 2016 e formalizada em 2017, foi nomeada “Ocupa Praça”.

O Ocupa Praça, com delicadeza e com muita articulação intersetorial, ocupa assim terrenos, praças, becos, ruas, lugares de grande circulação e reconhecimento de crianças, adolescentes e jovens que têm esses espaços públicos como locais de vida, afeto e moradia, acreditando no território por eles usado, ou seja, “todo complexo onde se tece uma trama de relações complementares e conflitantes” (SANTOS, 2000, p.12), como alternativa de cuidado em saúde afetiva, participativa e democrática. Essa intervenção, devido às restrições vindas da COVID-19, não ocorreu no ano de 2020, mas foi retomada em dezembro de 2021, envolvendo novos atores e parcerias, visto a nova realidade social que precarizou ainda mais a vida da população, já desde antes tão vulnerabilizada.

No que se refere às linhas de ação 2 e 3 ressalta-se que, na interface da construção de um modo de ação coletiva que potencialize a reflexão e problematização na pesquisa-ação, existe também a demanda por um processo pedagógico para a mobilização, integração e coletivização de conhecimentos, atitudes e práticas dos participantes, o que vem se dando por meio de um processo de formação/ capacitação participativa que articula rodas de conversa, eventos de extensão e círculos de cultura orientados pela Pedagogia Freireana para reflexão-ação coletiva junto aos atores públicos de diferentes áreas, o que vem colaborando  para a qualificação da assistência promovida pelos serviços essenciais para a população alvo das ações do projeto.

Entre as diversas atividades formativas, vale registrar que foram realizados em 2021: oito (08) Encontros de Formação /capacitação da equipe abertos a convidados da rede; dez (10 ) Grupos de estudos abertos a convidados da rede (ECONEXA); quatorze (14) Rodas de Conversas com a rede/ SGD “Cuidados para infância, adolescentes e jovens”, em parceria com a equipe ERIJAD; três (03) encontros de extensão para sensibilização e atualização da comunidade acadêmica e da sociedade civil assim intitulados: “De quem é o Bebê”; "Violências e saúde mental infanto-juvenil – 18 de maio: um dia, muitas lutas!”; e, “Segurança alimentar para crianças, adolescentes, jovens e famílias em situação de vulnerabilidade e/ou rua: avanços e desafios” .

A linha de ação 3, dedicada à incidência política e atuação territorial, tanto apoia diretamente, via parceira interinstitucional formalizada com a ERIJAD, trabalhadores/as que atuam na perspectiva da redução de danos com crianças, adolescentes e jovens em cenas de uso, como também, indiretamente,  aqueles que, intersetorialmente integram dispositivos do Sistema de Garantia de Direitos (SGD), entre os quais o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSI) representando a Saúde,  as Instituições de Acolhimento Institucional e o Programa de Erradicação do Trabalho pela Assistência Social e, pela Cultura, a Biblioteca Parque Estadual. Ainda nessa linha de ação, ocorre a participação dos pesquisadores e estudantes nas reuniões do Fórum de Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA) e Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).

Além dos trabalhadores sociais atuantes na rede, o  projeto vem colaborando para a formação diferenciada de alunos/as de diferentes cursos de graduação e pós-graduação, contando com um rico e permanente processo de reflexão-ação-reflexão, o qual contribui para um olhar ampliado, intersetorial e interdisciplinar sobre o  cuidado em saúde, a educação integral, os direitos sociais e o território, apostas conceituais e políticas necessárias  à uma prática transformadora, situada na realidade e potente no enfrentamento dos  problemas estruturais que, historicamente vulnerabilizam crianças e famílias em situação de pobreza, entre os quais o racismo. Atualmente, pela linha 1, o projeto tem se dedicado a produzir um diagnóstico situacional das políticas públicas do município de Niterói, referente ao período entre 2015 e 2019/2020, buscando destacar as políticas públicas já implementadas, seus resultados e sua geolocalização, a fim de oferecer um cenário panorâmico do município e contribuir para os projetos/ações e estratégias.