Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Resistência e re-existência de coletivos de trabalhadores no enfrentamento da pandemia de Covid-19: renormatizar e (re)criar juntos novas possibilidades para o trabalho em saúde
Élida Azevedo Hennington, Luciana Cavanellas, Eliane Vianna, Márcia Lopes, Patrícia Ferreira, Marta Montenegro, Monica Vieira

Última alteração: 2022-04-26

Resumo


A abordagem ergológica do trabalho proposta pelo filósofo francês Yves Schwartz traz a noção de atividade humana como um modo de andar a vida; atividade que envolve debate de normas e valores e dramáticas dos usos de si frente às exigências do trabalho. É a partir do vivido e da experiência que se produz não só o conhecimento, a história individual e coletiva, mas o próprio sujeito que se constitui e se modifica nesse processo, de forma emancipada e criativa. Na visão de Dejours, o trabalho se inscreve na dinâmica da autorrealização dos sujeitos e o reconhecimento do trabalho se constitui elemento fundamental na construção de identidade e na preservação da saúde mental do trabalhador. Como parte do Projeto Respiro, o objetivo do estudo foi compreender a atividade de trabalhadores envolvidos com o enfrentamento da Covid-19 no estado do Rio de Janeiro em suas diferentes dimensões, com foco nas relações entre trabalho, saúde e subjetividade. Na perspectiva de investigação-apoio, a proposta foi acolher o trabalhador da saúde e na saúde, ouvir suas histórias de vida e trabalho, suas dores, mas também suas conquistas frente ao trabalho na pandemia, partindo do conhecimento e experiência dos próprios trabalhadores para transformação da realidade. Parte-se da potência do trabalho em saúde como produtor de saúde e de sujeitos – gestores/trabalhadores e usuários –, servindo de fio condutor no entendimento das relações e processos sociais, bem como berço de produção de cuidados e práticas humanizadoras.  Foram realizadas rodas de conversa com trabalhadores responsáveis pela atenção e organização de 4 serviços de saúde envolvidos no enfrentamento da Covid-19 no Rio de Janeiro. Além de relato de conflitos, assédio e outras formas de violência institucional por parte de instâncias gestoras, o enfrentamento da Covid-19 foi marcado por vários problemas de saúde, especialmente ansiedade, depressão e burnout de trabalhadores. Houve sentimentos de medo, incerteza, impotência e inutilidade, além de tristeza profunda pela perda de companheiros de trabalho e de pacientes. A capacidade de superação dos desafios que surgiam a cada instante, o reconhecimento por parte de colegas e usuários e atividades sociais e de suporte psicológico foram fundamentais para preservação da saúde no trabalho. Dentre outros resultados, foi possível conhecer percepções, demandas, e desejos e assim identificar o tipo de apoio e cuidado a ser ofertado para revigorar e fortalecer pessoas e coletivos, (re)criando juntos novas possibilidades para um trabalho vivo, prazeroso e pleno de sentido.