APRESENTAÇÃO: Desde a constituição brasileira de 1988 que regulamentou o direito universal à saúde, ocorreram importantes conquistas para a população em situação de rua (PSR), como a implantação da Política Nacional da População em situação de rua em 2009 e a implantação do consultório na rua em 2011. Apesar do direito constitucional à saúde garantido por políticas públicas, historicamente a população em situação de rua possui acesso limitado aos serviços, além de muitos se recusarem a ir as unidades de saúde por já terem passado por uma experiência negativa ou de mau atendimento. O presente estudo objetivou conhecer as características sociodemográficas e quais são as barreiras no acesso ao serviço da estratégia de saúde da família pela PSR no município de Contagem, Minas Gerais.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Pesquisa qualitativa, de caráter descritiva exploratória, realizado com PSR do município de Contagem, Minas Gerias. Utilizou-se amostra do tipo não-probabilística intencional. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de entrevistas semiestruturadas, elaborada pelo próprio autor e analisadas utilizando a Técnica de Análise de Conteúdo de Bardin.

RESULTADOS: Foram entrevistadas 18 PSR, constituída por 12 homens cisgênero, quatro mulheres cisgênero e duas mulheres transgênero. A proporção de entrevistados negros (pretos e pardos) foi de 66,67% e de brancos 33,33%. 38,89% da PSR entrevistada foi para a rua no período do último um ano. Os agravos à saúde relatados foram doenças odontológicas, hipertensão arterial, agressões físicas, diabetes melitos, doença sexualmente transmissível e doenças psíquicas. As entrevistas revelaram que a maioria dos participantes utilizam pouco os serviços de Atenção Primária (APS) do município, com predomínio de acesso aos serviços de urgência e emergência. Todos entrevistados referiram ter o Centro Pop, abrigo Bela Vista e especialmente, a equipe do Consultório na Rua, como principais interlocutores para os cuidados de saúde. As principais barreiras relatadas ao acesso à APS foram: tempo longo de espera para atendimento, desconhecimento dos serviços existentes no município, solicitação de documentação para atendimento e horário de funcionamento dos serviços que competem com os de trabalho (coleta de material reciclado) da PSR.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os resultados apontam que a PSR do município pesquisado ainda se encontra distante dos serviços de APS, utilizando com maior frequência os serviços de emergência, corroborando dados da literatura que ressaltam ainda haver barreiras de acesso a esta população aos serviços de saúde. O vínculo estabelecido com equipe do Consultório na Rua, que é um dispositivo da APS, pode facilitar maior conhecimento da rede de atenção à saúde por parte da PSR e sua articulação com os profissionais da APS, possibilitando um cuidado à saúde mais integral.