Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A situação de saúde do município de São Gabriel da Cachoeira -AM, como prática do uso de ferramentas de gestão
Felipe Thiago Dias de Lima, Antonio de Pádua Quirino Ramalho, Fernando Lopes, Alexandra Pereira Lucena, Rômulo Geisel Santos Medeiros, Eva Rita Ribeiro Maia, Maysa Rodrigues de Farias, Carla Grisolia

Última alteração: 2022-02-08

Resumo


O Sistema Único de Saúde (SUS) é considerado um dos melhores sistemas de saúde de mundo, no entanto, ainda se observa que, muitas vezes, encontra problemas de gestão e de alocação de recursos. Ademais, se, por um lado, entender sobre eficiência e gestão,  cabe, a priori, ao gestor da “coisa pública", por outro, também é necessário que os profissionais de saúde e a população vislumbrem meios de realizar o controle externo das ações promovidas, a fim de garantir a adequada prestação de serviços. Para o estudante de medicina,  entender o uso de ferramentas de gestão perpassa não só pela necessidade de ser possível fiscalizador do bem público, mas também pela possibilidade de no futuro, após formado ocupar o papel de gestor. Ademais, como preconiza LEMOS (2015), a avaliação de serviços de saúde é necessária como elemento do cotidiano de trabalho em saúde, de modo a permitir a identificação de fragilidades e a visualização de oportunidades de melhoria.

As ferramentas de gestão e acompanhamento de dados de saúde disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério da Saúde (MS) e Secretarias estaduais e municipais de saúde são extremamente gestão para que tanto gestores identifiquem possíveis problemas no direcionamento de ações, quanto para aqueles que desejam fiscalizar se o destino dos recursos faz jus ao preconizado nas metas dos relatórios de gestão municipais (RAGs). Considerando a importância do tema para o graduando,  que pode atuar como cidadão e gente fiscalizador, como futuro gestor e como protagonista e propagador do uso de ferramentas de gestão para a população e,  diante,  da ausência desta discussão no âmbito das escolas médicas,  viu-se a necessidade de abordar o tema, na disciplina Saúde Coletiva IV, aos discentes do quarto período da Universidade Federal do Amazonas(UFAM).

Durante  as aulas por ensino remoto, o professor da disciplina apresentou aos discentes o uso das ferramentas e como acessá-las nas mais diversas plataformas, sendo elas: 1) Base de dados do IBGE; 2) DATASUS – TABNET (tabulador de dados de informações de saúde); 3) DATASUS – SIOPS (Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde); 4) DATASUS – CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde); 5) Base de dados do FNS (Fundo Nacional de Saúde); 6) SARGSUS (Sistema de Apoio à Construção do Relatório de Gestão); 7) PlanejaSUSAM; 8) Painel de Indicadores da Assistência Primária à Saúde; 9) Portal da transparência do Governo Federal. Pra que os alunos aprendessem o correto uso, foi sugerido que escolhêssemos um município brasileiro e elaborássemos um relatório sobre a situação de saúde em âmbito municipal. O município escolhido foi São Gabriel da Cachoeira, localizado na região da Bacia do Alto Rio Negro, mas especificamente na região noroeste do Estado do Amazonas. Popularmente, o município é conhecido por região da “Cabeça do Cachorro”.

Os dados disponíveis no SIOPS indicam que o município efetuou despesa de R$ 24.491.943,79, no ano de 2020, valor superior ao de 2017, ano de elaboração do último PMS (plano municipal de saúde). Ao se analisar a plataforma da FVS, pôde-se coletar informações referentes aos repasses municipais realizados entre os anos de 2018 a 2021. A plataforma, além de dispor os valores totais de repasses, disponibiliza o valor investido em diferentes focos de atuação da saúde, sendo estes: Assistência farmacêutica, atenção básica, investimento, média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar, vigilância em saúde e gestão do SUS Observa-se que o ano de 2019 foi o que mais se investiu em Atenção Primária à saúde. Infelizmente, o ano de 2020, que, segundo o PMS continuaria com elevado investimento na área, foi marcado pela pandemia de COVID-19. Isso fez com que parte dos recursos fossem realocados para a implementação de uma estrutura destinada a tal período. Os dados do IBGE do ano de 2019 indicam que a mortalidade infantil foi de 20,19 óbitos por 1000 nascidos vivos, colocando o município em 1109º lugar no Brasil e 30º no Amazonas. Ressalta-se que para 2019 dos 252 óbitos relatados, 24 correspondiam a crianças menores de um ano. Ademais, o próprio PMS destaca que uma das metas, no que diz respeito à saúde da criança é justamente diminuir a taxa de mortalidade ao longo de 2018 a 2021. Para o ano de 2019 as causas principais de internações foram gravidez, parto e puerpério, totalizando 541 internações, e a segunda maior causa de internações foram lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas, totalizando 136 internações. No terceiro lugar ficaram as doenças infecciosas e parasitárias com 118 de número absoluto. Aqui, faz-se um comentário pertinente: muitos municípios amazonenses apresentem esta última causa dentre as três principais e isso, pelo que se observa, é reflexo do saneamento básico que, por muitas vezes, é precário e ineficaz.

Há, ainda, indicadores que servem de base para repasse financeiro, os chamados indicadores de pagamento por desempenho: Os 1) Proporção de gestantes com realização de exames para sífilis e HIV; 2) Proporção de gestantes com pelo menos 6 (seis) consultas pré-natal realizadas, sendo a primeira até a 20ª semana de gestação; 3) Proporção de gestantes com realização de exames para sífilis e HIV; 4) Proporção de gestantes com atendimento odontológico realizado; 5) Cobertura do exame citopatológico; 6) Cobertura vacinal da poliomielite e tetravalente; 7) Percentual de hipertensos com pressão arterial aferida a cada semestre; 8) Percentual de diabéticos com solicitação de hemoglobina glicada. O município de São Grabriel apresentou, até o terceiro quadrimestre de 2020 , todos os indicadores acima da média nacional, refletindo uma gestão da “coisa pública” mais eficaz, se comparada a muitos outros municípios do estado do Amazonas. Merece destaque o indicador “Proporção de gestantes com realização de exames para sífilis e HIV”:  São Gabriel da Cachoeira possui excelente desempenho, ultrapassando, sobremaneira, a média atingido nacional que corresponde a apenas 37%. O município possui 65% de gestantes que realizaram exames de sífilis e HIV, diminuindo de maneira significativa a incidência de tais doenças. O município de São Gabriel da Cachoeira investe uma boa parte do montante orçamentário em ações e serviços de saúde da atenção primária, isso faz com que em muitos indicadores, permaneça acima da média brasileira. O que se observa, ao fazer uma comparação com outros municípios do estado do Amazonas, é que o município consegue alocar bem seus recursos, utilizando-os de maneira eficaz, em muitas áreas.

Percebeu-se a importância de se conhecer a situação de saúde dos municípios, na medida em que os dados publicados refletem os resultados de investimentos, ações e programas de saúde que estão sendo realizados. Para os gestores isso é de suma importância , pois podem adequar os caminhos a serem perseguidos, a fim de se chegar em um resultado eficaz, garantindo pleno acesso a um serviço público de qualidade. Ressalta-se que a população também deve ficar atenta ao que preconiza os Planos municipais e relatórios de gestão anuais, pois nele, evidenciam-se os resultados alcançados, e as metas e diretrizes a serem alcançadas e seguidas. Como estudantes de medicina, ocupamos um papel presente, como o de cidadão apto a acompanhar e participar ativamente da execução e fiscalização do orçamento e execução de serviços de saúde, bem como possível papel futuro, o de gestores.