Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-08
Resumo
O contexto da pandemia suscita novas abordagens metodológicas qualitativas dedicadas a contribuir com a produção do conhecimento e do cuidado relacionado aos profissionais de saúde. O Projeto Respiro, desenvolvido no seio da Fundação Oswaldo Cruz, buscando compreender as penosidades e as (re) existências dos trabalhadores da saúde nesse momento tão desafiador considerou pertinente desenvolver uma metodologia denominada apoio-investigação que, através de rodas de conversa e cuidado, entrevistas semiestruturadas, fóruns, práticas contemplativas, eventos públicos associam relatos e experiências sobre o trabalho em saúde na pandemia. Tendo por base a visão sistêmica partimos da constatação de que o trabalho contém o mundo, no trabalho está tudo. Situado no centro dessa espiral de possibilidades os trabalhadores de saúde se encontram para aprofundar reflexões sobre suas penosidades e alternativas de (re) existir. Processo produzido pela confluência de saberes que buscam sustentar uma perspectiva decolonial em diálogo com contribuições da sociologia do trabalho, psicodinâmica do trabalho e ergologia para iluminar dimensões de análise. Nesses encontros buscamos rever como expressões de sofrimentos, sentimentos, opressões, anseios são experimentados, geridos, respondidos e transformados. Acreditamos na potência do aprofundamento reflexivo a partir de perguntas e também na “aparente” ausência de respostas. Vida como fruição que segue no tensionamento de campos. Essas práticas coletivas de escuta, cuidado e compartilhamento entre trabalhadores permitem apreender sete dimensões que atravessam os modos de ser trabalhador de saúde nesses tempos de agora.
Mobilizamos vivências e afetos que aprofundam saberes sobre essas dimensões: valores e sentidos do trabalho em saúde; políticas de gestão; condições de trabalho, saberes e práticas; experiências e memórias; saúde do trabalhador e cuidado de si, do outro do mundo. Tendo em vista a disseminação e a comunicação científica orientada para a comunidade, o projeto se baseia nas diretrizes da ciência aberta e colaborativa. Desde 2020, desenvolvemos ações que incluem um curso de atualização profissional para discutir experiências de trabalho durante a pandemia; eventos abertos ao público para discutir temas centrais do trabalho em saúde e explorar aspectos do trabalho diário; um website e redes sociais. Encontros que têm proporcionado um espaço de troca, análise e reconstrução de sentidos sobre o trabalho.
Um dos primeiros resultados do projeto é o fortalecimento da perspectiva de que os profissionais de saúde são portadores de conhecimentos sobre o trabalho nos serviços de saúde que são coerentes e complementares ao conhecimento científico. Entre os desafios encontrados, podemos citar a dificuldade de engajar trabalhadores cansados e sobrecarregados em atividades constantes e de formular textos e ações de caráter científico voltados aos trabalhadores da saúde.