Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Luzes, câmeras e ação: discutindo as velhices pelas lentes do cinema
Marcia Queiroz de Carvalho Gomes, Valéria Leite Soares

Última alteração: 2022-02-15

Resumo


A pandemia da Covid 19 trouxe à tona o preconceito social contra os velhos e velhas, que ora eram apresentados como principais vítimas fatais da doença, minimizando assim seu impacto, deixando subentendido o pouco valor social atribuído à população idosa, ora eram vistos como crianças teimosas e birrentas que infligiam as normas e orientações de permanecerem em casa, tornando-se, neste caso, alvo de memes que os desqualificavam e desrespeitavam.  Este contexto pões em tela a necessidade de rever a tessitura das relações sociais, familiares e intergeracionais, recolocando o idoso no cenário social. (Re) Visitar narrativas e experiências cotidianas, reais e fictícias, de velhices, deslocando o aluno/espectador/leitor do seu lugar, apontando outros pontos de vista, promovendo reflexões críticas sobre as diferentes velhices e os enfrentamentos sociais diante de preconceitos e estereótipos gerados no contexto social, se tornou imperativo. Compartilho aqui a experiência de um curso livre oferecido aos estudantes da UFPB que teve por objetivo sensibiliza-los para as questões que envolvem o processo de envelhecimento, refletir acerca do cotidiano, as relações sociais, familiares e intergeracionais, o processo de adoecimento e seus desdobramentos, os estereótipos e preconceitos experimentados pelos idosos, as (im)possibilidades de vivência da sexualidade, as amizades e as redes de apoio, a morte e o luto.  O curso usou como ferramentas pedagógica filmes contemporâneos, disponíveis na plataforma do YouTube, que abordam as temáticas descritas acima, especialmente selecionados, assim como, textos relacionados, como apoio às discussões e produção de novos textos. A modalidade de aulas remotas possibilitou alternância entre encontros síncronos para discussão e trocas coletivas, aprofundando os temas, e momentos assíncronos para assistir os filmes, leituras e produção individual de narrativas. Participaram do curso estudantes da área de saúde e de humanas, ampliando assim as perspectivas e as trocas interprofissionais e interdisciplinares.  O filme como estratégia educativa possibilitou aos participantes do curso o contato com diferentes culturas, portanto, ideologias e valores sociais distintos, ampliando suas percepções sobre situações cotidianas enfrentada por pessoas idosas. Ao introduzir o espectador em uma realidade diferente da sua, os filmes, fomentaram discussões que, em geral, partiam das suas próprias realidades e experiências pessoais e intergeracionais, mobilizando sentimentos e permitindo a desconstrução e reconstrução dos conhecimentos acerca das velhices e seus lugares nas sociedades e nas famílias. Considerando que os nossos valores pessoais e sociais influenciam no modo como nos relacionamos com os outros, no caso do profissional de saúde, influencia no modo como ele acolhe e escuta, ou não, as demandas e necessidades do outro, se faz urgente promover o debate sobre estas temáticas. É essencial que a formação de profissionais de saúde busque alternativas para trazer as questões relacionadas ao envelhecimento para o centro das discussões, afastando estereótipos e preconceitos, de modo a tornar possível uma atenção ao idoso digna e humanizada. Os filmes se mostraram ferramentas potentes no combate à velhofobia, e na produção novos sentidos sobre a velhice e a experiência de envelhecimento.