Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Método Canguru e conhecimento tradicional e científico: experiências que se aproximam
Crissia Cruz

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


O método canguru – uma modalidade de assistência neonatal para recém-nascidos pré-termo e ou de baixo peso – tem seu início no final da década de 1970, em um hospital Materno Infantil na Colômbia, e começa a ser implementado nos hospitais do Brasil no início da década de 1990. Ao longo dos anos este método foi conquistando cada vez mais espaço e atualmente se configura como política pública em nosso país, como uma modalidade de excelência na humanização da assistência neonatal. Além da conhecida posição canguru – bebê no colo (geralmente materno), na posição supina, favorecendo o contato pele a pele – várias outras estratégias de cuidado compõem o chamado método canguru. Neste contexto, este trabalho se organiza como um relato de experiência do encontro entre a formação técnica no método canguru e o saber tradicional familiar, que utilizava estratégias que hoje compõem o método canguru no cuidado domiciliar, há mais de 50 anos, com bebê de baixo peso. Como psicóloga residente no Programa de Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde da Mulher e da Criança, o curso de capacitação e sensibilização ao Método Canguru era uma obrigatoriedade para atuar no hospital. Um curso com parte teórica e prática, certificado pelo Ministério da Saúde. Nesse curso aprendi a dar banho em bebê prematuro e/ou de baixo peso, a fazer o “charuto”, trocar fralda, além de todo o aparato teórico técnico que envolve o cuidado ao recém-nascido de baixo peso. Ao comentar com a família sobre o curso e os aprendizados nessa área, se resgata uma história familiar que eu conhecia, mas talvez não tivesse ouvido de fato: uma tia nasceu muito pequena, com aproximadamente 700g, em parto domiciliar; por ser muito pequena minha avó (dona Francisca) a levou ao médico (acesso difícil naquele período) que a alertou que dificilmente a bebê sobreviveria. Dona Francisca, analfabeta, sem nenhuma instrução educacional formal, decidiu ignorar as previsões médicas e passou a adotar estratégias de cuidado tentando atender às necessidades de um bebê tão pequeno. Colocava a bebê para dormir envolta em um lençol, de uma forma semelhante a preconizada no método canguru, chamada de “charuto”; o banho também se assemelhava as indicações do ministério da saúde, bem como outras condutas que muito se aproximam do indicado no método. Esta experiência evidencia como há muito mais aproximações entre o saber científico, erudita, e o senso comum, os conhecimentos tradicionais, do que a própria academia costuma supor. Nesse sentido defende-se uma assistência à saúde que sim busque o aperfeiçoamento de suas técnicas, mas que também reconheça os saberes da população atendida.