Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A Saúde mental indígena a partir dos Baniwas em Manaus
Valéria Marques Batista, Kathleen Tereza da Cruz

Última alteração: 2022-02-17

Resumo


O trabalho aborda os percalços que a população indígena Baniwa enfrenta  ao difícil acesso aos cuidados à saúde na cidade de Manaus. Dados apontam que os indígenas sofrem com o aumento de problemas psicossociais, que são visíveis com altos índices das taxas de dependência química, violência, suicídio, Destaca-se que historicamente que os indígenas no Brasil e no Amazonas sempre enfrentam dificuldades em relação as Política de Atenção à saúde. Na pandemia COVID – 19 fica evidente, em que o Amazonas foi o primeiro estado a ter confirmação de indígenas contaminados e hoje  concentra  o maior número  de mortes entre indígenas (APIB,2020). A realidade causou uma espécie de desespero entre os povos indígenas na região amazônica, chegando a pensar que seria um extermínio desta vez, não somente mais uma epidemia em que resistiriam. A pandemia impactou na saúde física das pessoas, mas a repercussão na saúde mental  e o bem-estar serão questões relevantes  na vida da sociedade  e exigirá intervenções  diferenciadas  à medida que vivemos novas ondas de pandemia. De acordo com a Organização das Nações Unidas (2020) a saúde mental deve estar no centro das discussões quanto a recuperação necessária pós-pandemia. Os problemas decorrentes do alcoolismo e outras substâncias e o suicídio, já eram relevantes e impactavam a saúde psicossocial e espiritual  dos povos indígenas, o que foi intensificado pela pandemia Covid 19, instituindo em  muitas aldeias  e comunidades indígenas, novas formas de sofrimento psíquico, que foram agregados aos sofrimentos traumáticos causados pelo violento processo de  colonização a que foram submetidos. Criou-se conflitos internos pelo medo da perda de seus anciãos que são guardiões das tradições indígenas. Gerou-se angústia e ansiedade em muitas aldeias, pelos impasses éticos e interculturais  instaurados  pelas formas  de manejo da COVID-19 adotada pelos serviços  de saúde. Criaram-se situações devastadoras para alguns coletivos indígenas. Famílias e grupos de parentescos entraram sofreram frente ao imperativo do isolamento domiciliar e nas comunidades onde a partilha  de substâncias corporais e de alimentos é constitutivo das sociedades indígenas. O manejo do cadáver das pessoas que vieram a óbito pela COVID-19, comprometeu a realização dos ritos funerários tradicionais  fundamentais para  a elaboração  do luto  nas sociedades indígenas, também  gerou outras situações dramáticas. Em Manaus o clima de medo tomou, pelas comunicações desencontradas sobre acesso ao atendimento e o que se passava com suas famílias em local distante, pois para os órgãos de saúde do Amazonas os indígenas do contexto urbano assim denominados por eles, são cidadãos comuns por viverem na cidade, e a prioridade de atendimento é para os aldeados. E por não terem este reconhecimento e estarem na cidade, ficou difícil o acesso, mas até mesmo os indígenas aldeados receberam socorro tardio, dificultando as medidas oportunas, eficazes e culturalmente adaptadas necessárias à proteção da Saúde  dos seus coletivos. Pode-se averiguar que a desigualdade social e a dificuldade  de acesso  a  estes serviços fez com que a região amazônica  tenha sofrido com a falta de assistência e controle em relação a disseminação do vírus, tornando a situação muito grave. Portanto, as histórias de vivências do Povo Baniwa na cidade de Manaus, nesta pesquisa vai retratar também a luta de todos os povos indígenas do Amazonas, onde perpassa a luta pela sobrevivência, a ausência do estado nas comunidades indígenas e a força espiritual de enfrentamento a pandemia e uso das medicinas indígenas para o tratamento do Covid-19, utilizaram das práticas de auto atenção e estratégias comunitárias de proteção e cuidado ancestrais, El KADRI, (org) et al. (2020). O objetivo geral desta investigação é conhecer as práticas de cuidado  dos Povos Indígenas Baniwa durante a pandemia, a partir do contexto urbano na cidade de Manaus e a relação das mesmas com as ofertas dos serviços de saúde do SUS. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de abordagem cartográfica, que constrói mapas vivos dos territórios existenciais/ territórios, que consiste em construir uma mapa vivo do território e apreensão do sentido das vivências dos povos indígenas e suas conexões, seja com suas comunidades originárias, seja no contextoda sociabilidadeurbana. Será feita uma abordagem sobre saúde mental indígena, que já sabemos apresenta enorme complexidade, de modo que os usuários transitam em equipes da saúde da família nos Centros de Atenção Psicossociais, Consultórios de Rua, Distrito Tarumã, entre outros serviços de saúde. Os caminhos da investigação empregadas passam pelo levantamento bibliográfico acerca do impacto da pandemia sobre os povos indígenas no enfrentamento de pandemias e também os estudos sobre saúde mental indígena. Realizaremos também uma pesquisa em fontes documentais que informem as orientações que estruturam o funcionamento dos programas, redes, e serviços das diversas áreas relacionadas aos cuidados oferecidos pelo serviços públicos aos povos indígenas. O trabalho de campo será em duas frentes um movimento realizado com famílias Baniwa, que vivem nas comunidades indígenas que vivem no contexto urbano da cidade de Manaus,  realizada através de entrevistas e rodas de conversas nas comunidades onde moram essas famílias, buscando compreender as dobras que perpassam as famílias Baniwas e os percursos deles na rede de saúde e nos seus modos de utilizar suas práticas de autoatenção e estratégias comunitárias de proteção e cuidado ancestrais. Outro movimento se propõe a compreender o modo como se dá a produção do cuidado para os Baniwa na relação com os serviços de saúde. Para tal, utilizaremos a ferramenta usuário-cidadão - guia desloca o olhar do investigador ao assumir a perspectiva do usuário indígena, suas experiências vividas na  rede de saúde, referência para os sentidos que devem ser dados às práticas de saúde, dando abertura às singularidades e multiplicidades existenciais do indígena, que atravessam o tempo todo o mundo do cuidado e a vida. As práticas indígenas para promover, proteger e recuperar a saúde são baseadas saberes sua medicina tradicional. O conjunto desses saberes e práticas não apenas cuidam da saúde, mas também formam identidades das pessoas, estruturam subjetividades. Através do reconhecimento dos saberes indígenas ancestrais medicinais e por parte da sociedade não indígena conseguiram a construção da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas – PNASP (2017) a instituída pelo Decreto nº 3.156 de 27/08/1999, que utiliza de condições de assistência à saúde dos povos indígenas para a adoção de um modelo complementar de atendimento diferenciado dos moldes da medicina eurocêntrica para um atendimento voltados para a promoção, valorização e recuperação da saúde do paciente indígena a ser tratado com seus costumes e especificidades através de tratamentos com ervas medicinais, benzimentos e a visita de curandeiros de acordo com o povo ao qual pertence. Há relatos registrados que muitos que utilizaram não vieram a óbito AURORA et al,2021. Nesse momento pandêmico houve um ensino dos novos modos de enfrentar uma pandemia no contexto comunitário, na perspectiva de suas interlocuções, tornam-se legítimos dessas experiências, seus saberes e suas práticas tradicionais para a produção de saúde, fundamentais para o bem viver dos mesmos, e compreender a interculturalidade por eles e pelos profissionais de serviços de saúde nos encontros entre os mesmos, concatenação os conhecimentos científicos e  esse saber tradicional originário na produção de planos terapêuticos.

 

 

Palavras chave

Saúde Mental de Populações Indígenas; Saber Tradicional; auto atenção; estratégias comunitárias de proteção e cuidado