Apresentação

A tuberculose (TB) é uma doença transmissível e uma das principais causas de morte em todo o mundo. Até a pandemia do coronavírus (COVID-19), a TB foi a principal  causa de morte por um único agente infeccioso, superando HIV/AIDS. Sabe-se ainda, que com o advento da pandemia, houve queda global no número de pessoas recém-diagnosticadas com tuberculose e aumento de óbito pela doença. O presente relato de experiência, oriundo de um recorte de pesquisa de iniciação científica, visa mostrar a percepção acerca do atendimento de TB em um dos ambulatórios de referência da cidade de Manaus.

Desenvolvimento do trabalho

Com a intenção de identificar possíveis interferências da pandemia na dinâmica do atendimento no ambulatório de tisiologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas, da cidade de Manaus - AM, foram comparados o quantitativo de consultas no referido período de setembro a outubro de 2020 com o número de consultas no ano de 2019, em período correspondente.

Resultados

Comparando o número de consultas entre períodos pré e pós pandêmicos, verificou -se que entre setembro e outubro de 2019 foram realizados 178 atendimentos; já no mesmo período em 2020, 134 atendimentos. Assim, constata-se uma redução de 24,71% nas consultas, o que implica em efeitos negativos no número de diagnóstico e cobertura medicamentosa. Destaca-se que embora o atendimento tenha sido restabelecido desde abril daquele ano, houve uma queda na procura.

Assim sendo, o cenário é alarmante, pois o estado do Amazonas é considerado região endêmica de TB e apresenta elevados índices de morbi-mortalidade para a doença. Ademais, infere-se que tal acontecimento concorre para gerar futuro aumento no número de internações e óbitos pela enfermidade.

Considerações finais

A pandemia de COVID-19 reverteu anos de progresso na prestação de serviços essenciais no combate e nas taxas de redução da TB. É sabido que este fenômeno também impactou diversos outros serviços, especialmente os que lidam com portadores de doenças crônicas, o que se justifica pela necessidade de isolamento social, medida de controle da disseminação de SARS-CoV-2.

Dessa forma, é de extrema relevância considerar o impacto da COVID-19 na atual epidemia negligenciada de tuberculose. Assim, desenha-se um cenário desafiador em Manaus, sobretudo no âmbito do SUS que demanda, imperativamente, políticas públicas que garantam atendimento e fornecimento de terapia contínuos, apesar do momento atípico em que se vive.

Portanto, ainda que a atenção da comunidade científica esteja voltada predominantemente ao combate do novo coronavírus, não se pode perder o foco em ameaças antigas e igualmente prevalentes como a tuberculose, que em período anterior à pandemia, estava voltando a crescer com números críticos em diversos países, incluindo o Brasil.