Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-07
Resumo
As Residências Multiprofissionais em Saúde têm se estabelecido como uma ferramenta fundamental para a formação de profissionais na direção de uma atuação mais humanizada, buscando superar as limitações muitas vezes encontradas nos seus respectivos cursos e fortalecer a lógica de atuação que embasa o SUS. No entanto, as altas cargas horárias exigidas, muitas vezes em espaços que não são pensados desta forma, como as Unidades Básicas de Saúde, acabam sobrecarregando estes profissionais. Além disso, a sua relação trabalhista sui generis impede que os profissionais residentes acessem direitos básicos, como greve ou a utilização de atestados sem a necessidade de pagar a carga horária, o que é ainda mais preocupante quando consideramos que muitos deles atuam na linha de frente contra a COVID-19. Neste trabalho buscamos refletir sobre a experiência da Residência Multiprofissional de Saúde em Mossoró- RN, que em 2021 viu um aumento na demanda ao colocar os residentes das áreas de psicologia, assistência social, enfermagem, nutrição e fisioterapia atuando ao mesmo tempo em duas UBS. Para entender o impacto disto devemos levar em conta que a cidade de Mossoró, o segundo maior município do estado, tem mais de 300 mil habitantes e que algumas categorias, como psicologia e fisioterapia, não têm atuação de outros profissionais além daqueles das residências, deixando-os responsáveis por até 30 mil pessoas, uma população que supera 150 cidades do Rio Grande do Norte. A isso se soma a situação nacional de profissionais residentes em saúde, na qual eles são considerados uma forma de baratear a mão de obra, atuando acima dos tetos de suas categorias, além de demandas como as aulas, preceptorias e produção de textos acadêmicos para participação de eventos. Crises de ansiedade e burnout se tornaram comuns nos programas de residência por todo o país e Mossoró não é um elemento estranho a este cenário. Devemos então considerar de fato qual o objetivo das residências multiprofissionais em saúde, pois se na teoria elas buscam preparar profissionais para uma lógica humanizada, muitas vezes pautada na atenção básica, a sobrecarga de demanda e a própria legislação acabam limitando estas possibilidades, reduzindo os residentes à mão de obra barata e precarizada. Entendendo esta construção como um processo histórico de uma política construída pela Sociedade Civil, faz-se mister a necessidade de uma reflexão no âmbito da própria política que sustenta tais serviços, com atuação de residências, tutores e gestores na direção da concretização da proposta levantada pelas residências multiprofissionais em saúde.