Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Sobrecarga e Precarização como Empecilhos para a Formação nas Residências Multiprofissionais em Saúde: O Caso de Mossoró
Felipe Bezerra de Andrade, Nara Fernandes Lúcio, Kaliana Cavalcante do Carmo Cabral, Loínne Carla de Aquino Domingos, Marianne Raquel de Oliveira Maia, Ana Beatriz Dantas Mendes, Andressa Sonja Pereira de Castro

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


As Residências Multiprofissionais em Saúde têm se estabelecido como uma ferramenta fundamental para a formação de profissionais na direção de uma atuação mais humanizada, buscando superar as limitações muitas vezes encontradas nos seus respectivos cursos e fortalecer a lógica de atuação que embasa o SUS. No entanto, as altas cargas horárias exigidas, muitas vezes em espaços que não são pensados desta forma, como as Unidades Básicas de Saúde, acabam sobrecarregando estes profissionais. Além disso, a sua relação trabalhista sui generis impede que os profissionais residentes acessem direitos básicos, como greve ou a utilização de atestados sem a necessidade de pagar a carga horária, o que é ainda mais preocupante quando consideramos que muitos deles atuam na linha de frente contra a COVID-19. Neste trabalho buscamos refletir sobre a experiência da Residência Multiprofissional de Saúde em Mossoró- RN, que em 2021 viu um aumento na demanda ao colocar os residentes das áreas de psicologia, assistência social, enfermagem, nutrição e fisioterapia atuando ao mesmo tempo em duas UBS. Para entender o impacto disto devemos levar em conta que a cidade de Mossoró, o segundo maior município do estado, tem mais de 300 mil habitantes e que algumas categorias, como psicologia e fisioterapia, não têm atuação de outros profissionais além daqueles das residências, deixando-os responsáveis por até 30 mil pessoas, uma população que supera 150 cidades do Rio Grande do Norte. A isso se soma a situação nacional de profissionais residentes em saúde, na qual eles são considerados uma forma de baratear a mão de obra, atuando acima dos tetos de suas categorias, além de demandas como as aulas, preceptorias e produção de textos acadêmicos para participação de eventos. Crises de ansiedade e burnout se tornaram comuns nos programas de residência por todo o país e Mossoró não é um elemento estranho a este cenário. Devemos então considerar de fato qual o objetivo das residências multiprofissionais em saúde, pois se na teoria elas buscam preparar profissionais para uma lógica humanizada, muitas vezes pautada na atenção básica, a sobrecarga de demanda e a própria legislação acabam limitando estas possibilidades, reduzindo os residentes à mão de obra barata e precarizada. Entendendo esta construção como um processo histórico de uma política construída pela Sociedade Civil, faz-se mister a necessidade de uma reflexão no âmbito da própria política que sustenta tais serviços, com atuação de residências, tutores e gestores na direção da concretização da proposta levantada pelas residências multiprofissionais em saúde.