Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Estação Com Vida Cidadã, um convite à ação: relato de experiência de um projeto intervenção em tempos de pandemia
Ana Marisa Skavinski, Giovana da Silveira Marques, Roberta Flores de Andrade, Marcia Fernanda de Mello Mendes, Ana Paula Gemelli, Eloisa Solyszko Gomes, Raquel Margarete Franzen de Avila, Crissia Roberta Pontes Cruz, Rose Mari Ferreira

Última alteração: 2022-02-23

Resumo


A crise sanitária mundial provocada pela Covid-19 explicitou limites nos processos de organizar a vida e a saúde das pessoas e coletividades em escala global. No Brasil, os desafios impostos pela pandemia se somam à crise política que o país vive atualmente, além de suas históricas desigualdades sociais e econômicas. Fatores de vulnerabilidade como raça, classe, escolaridade, gênero e origem geográfica acabam por influenciar perfil o epidemiológico da Covid-19 no Brasil. Comunidades sem saneamento básico, moradias insalubres, falta de acesso a condições básicas de vida, o alto índice de trabalho informal, dificultam a adesão às medidas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, como isolamento social e medidas básicas de higiene. Desta forma, enfrentar a pandemia no contexto brasileiro demanda pensar alternativas de cuidados de saúde que atentem para complexidade da vida nos territórios. Nesse sentido, foi criado no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) campus Alvorada o projeto de pesquisa intervenção, o Com Vida: Projeto Integrado de Estratégias Territoriais de Promoção e Educação em Saúde que tem como objetivo compreender e fomentar a participação social e as iniciativas de produção de saúde e de vida no território, sistematizando-as em uma perspectiva interseccional como educação permanente no enfrentamento à Covid-19, às iniquidades e às violências, intensificadas pela pandemia. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa que tem como característica principal o uso de metodologias participativas. Nesta perspectiva metodológica na impossibilidade de definir o passo a passo do que aconteceria, realizamos a apresentação de pistas que direcionariam os caminhos desse estudo, aqui denominadas de camadas. A primeira camada se propõe a conhecer o campo; a segunda a verificar as demandas da comunidade naquele território; a terceira a construir respostas; e a quarta a elaborar relatórios, manuscritos e divulgação dos resultados. Uma outra estratégia utilizada foi a construção do programa de extensão Estação Com Vida Cidadã, que tem o objetivo de oferecer formação para a cidadania de acordo com as demandas que surgissem no decorrer da execução do Projeto. Paralela a proposta de ações junto à comunidade é importante olhar para as expectativas, as propostas e as frustrações dos pesquisadores participantes do projeto diante das adversidades e entraves causados pela pandemia, pois foi necessário se readaptar diante das mudanças nas rotinas pessoais.

No IFRS campus Alvorada são mais de 18 meses sem aulas presenciais e somente em maio de 2021 o calendário oficial foi retomado e a partir de julho de 2021 estudantes de diferentes cursos passaram a integrar o projeto. Mesmo com um forte desejo de levar a pesquisa para além dos muros da instituição acadêmica, da pesquisa bibliográfica e das reuniões virtuais, os protocolos de distanciamento social adotados devido à pandemia da COVID-19 ainda exigem cautela e nos direcionam a buscar outras formas de aproximação com o território. E foi com esse intuito que começaram a mapear organizações atuantes nas comunidades, e buscaram parcerias com grupos da sociedade civil que já atuam no território para colaborar, de alguma forma, com as ações o que já vem acontecendo. Por conta da pandemia, os encontros para discussões do projeto têm acontecido de forma virtual e isso está fazendo com que as ações não cheguem as pessoas em situação de maior vulnerabilidade, aqueles moradores que estão em risco alimentar, que não tem acesso à internet e que muitas vezes não sabem onde fazer suas reivindicações visto que alguns órgãos públicos estavam atendendo de forma remota. Através dos contatos, o Programa Estação Com Vida Cidadã tem colaborado de forma ativa na organização de diferentes atividades que permitiram conhecer o território e fortalecer redes, pois, além de fomentar discussões propositivas, as ações servem como um ponto em comum entre diferentes entidades e incentiva a interação entre elas. É importante destacar três eventos em que o projeto atua como facilitador apoiando o coletivo proponente: o Rompendo a Bolha que são rodas de conversas virtuais sobre temas relevantes para a comunidade e que teve o primeiro encontro organizado pela ONG Embrião, abordando questões ambientais e de sustentabilidade. O segundo encontro contou com a participação ativa dos integrantes do Com Vida na organização com o tema da Rompendo a Bolha produzindo orgulho: Desafios na acessibilidade em Alvorada e neste encontro já foi possível perceber que juntamos em uma mesma sala (mesmo que virtual) várias entidades que, mesmo tendo necessidades e demandas muito similares, não se reuniam ou nem mesmo sabiam da existência uma das outras. E após a realização desses dois eventos, já iniciamos os preparativos para mais um encontro, desta vez para falar sobre saúde mental. Outra atividade do  Estação Com Vida Cidadã é o Vida adulta: o que não nos contaram porposto pelos estudantes do ensino médio do IFRS Alvorada no qual se promove rodas de conversa  sobre temáticas que causam dúvidas aos estudantes acerca das dificuldades que são encontradas ao iniciar a vida adulta, o primeiro encontro realizado em setembro abordando o ingresso na faculdade por meio de vestibular e do ENEM, o sistema de cotas e a elaboração de provas.  A terceira ação acontece em parceria com a Rede Unida, o Com Vida apoia a realização de uma formação em direitos humanos com cinco encontros que acontece aos sábados. chamada Emergências em Direitos Humanos: vozes que ecoam, populações que resiste. Até o momento foram realizados dois encontros da formação. O último encontro foi marcado pela presença de pessoas haviam participado do Rompendo a Bolha. O que contribuiu para que rede de contatos extrapolasse os limites do município e provocasse interações de uma realidade de distintos grupos, tínhamos um representando do coletivo surdo em uma discussão de decolonialidade. O Com Vida tem como foco as áreas da saúde e educação no território. Quando se fala em saúde, é preciso lembrar que não é ter um corpo livre de doenças; ter saúde é viver com dignidade e respeito, ter boas condições de trabalho, alimentação adequada, moradia e lazer entre outras coisas e a educação vai muito além do que se aprende nos bancos escolares. Para ter saúde é preciso compreender criticamente o lugar que ocupamos dentro da sociedade, é conhecer nossos direitos como cidadãos e saber como reivindicá-los. Conceber um projeto integrado e multidisciplinar de pesquisa que tem como prioridade ações territoriais em contato direto com a comunidade, onde os pesquisadores atuam como coadjuvantes que buscam potencializar que os moradores dos territórios identifiquem suas demandas busquem soluções, sendo ele os protagonistas de suas histórias durante a pandemia. Este foi um dos principais motivos que estudantes e bolsistas relatam como justificativa de fazer parte do projeto. O projeto Com Vida está em sua fase inicial e mesmo assim é possível ver alguns movimentos favoráveis e a expectativa de um aprofundamento de ações práticas dentro do território.