Tamanho da fonte: 

A medicina para além do consultório: ações das médicas e médicos populares no Sul da Bahia 






APRESENTAÇÃO: Trata-se de um relato da experiência vivenciado no atendimento às vítimas das enchentes decorrentes das chuvas ocorridas em dezembro de 2021 nos municípios de Itabuna e Ubaíra, no sul da Bahia. 
Trabalho com objetivo de relatar a experiência da atuação de médicas e médicos populares às vítimas de enchentes no Sul da Bahia. 
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Em 25 de janeiro de 2021, iniciaram as chuvas torrenciais que levaram ao rompimento de barragens (muitas irregulares) e a enchentes em municípios do sul da Bahia. Foram grandes as perdas materiais e humanas. Diante disto, a saúde tem um agravo importante, principalmente para grupos em vulnerabilidade social. 
Diante disto, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares em parceria com Movimentos Sociais , como o MST,  Governo do Estado da Bahia e Secretarias de Saúde dos Municípios afetados organizou  durante o período de Dezembro 2021/Janeiro 2022 missões com acadêmicos e profissionais da saúde voluntários para a brigada de solidariedade do SOS Bahia. Em parceria com a Programa de Residência Médica da Escola de Saúde Pública do Ceará, três médicos residentes em Medicina da Família e Comunidade foram atuar nos municípios e Itabuna e Ubaíra. 
Foram realizadas reuniões de planejamento juntamente com as gestões municipais, estudando-se os planos de contingência e territorialização, identificando-se as fragilidades e buscando as oportunidades. Foi utilizado o protocolo SWAT (ou FOFA, Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas, Adversidades) para isso. O objetivo seria a promoção de saúde, mitigação de agravos e prevenção como um todo. 
Foram identificados os seguintes problemas: perda de receitas e documentos por conta das enchentes, danos psicológicos pós traumáticos, precarização do acesso da zona rural, perda de insumos dos serviços de saúde. 
Realizou-se reconhecimento de território, entrevistas com munícipes vítimas dos alagamentos, atendimentos médicos, auriculoterapia, terapia comunitária e visita domiciliar.  
RESULTADOS: O trabalho de atenção à saúde de forma integral, levando-se em conta saúde física, mental, alimentar e ambiental, foge ao controle da rede de assistência municipal diante de desastres de magnitudes de difícil previsão. A atuação de brigadas de solidariedade se tornam uma ferramenta bastante interessante e eficaz pra alcançar populações vulneráveis, que muitas vezes são esquecidas nos planos municipais de contingência. 
O incentivo à participação do residente em MFC mostrou-se de grande potência para o desenvolvimento de competências por parte do médico residente, tais como competência cultural, gestão em saúde, políticas públicas em situação de desastre, saúde rural, epidemiologia, humanidades médicas, saúde integrativa, dentre inúmeros outros temas. 
A experiência foi importante para o entendimento de que a Medicina ganha uma potência e resultados eficazes na promoção da saúde quando feita além dos muros do consultório, sendo a educação popular e a vivência no território fundamental para um cuidado bem sucedido.  
Foi observado também o impacto da intervenção do homem sobre a natureza e a resposta desta, levando-se em conta que saúde contempla o físico, mental, nutricional e também o ambiental. Para se ter uma boa saúde integral, não há como dissociar da saúde ambiental. 
A organização em coletivos de saúde, em movimentos sociais, promove um empoderamento coletivo na militância em busca de saúde populacional, desencadeando uma rede de ações que fortalecem as ações e planejamento em saúde. Destaca-se ainda o efeito obtido com as parcerias entre os coletivos e os órgãos municipais e estaduais de gerenciamento em saúde.