Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O Uso do Modelo Biopsicossocial da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) em Pacientes com COVID Longa como Ferramenta Pedagógica na Formação de Estudantes de Fisioterapia: Ampliando o Olhar em uma Perspectiva de Cuidado
Vinícius Horn Vieira Mabilia, Adriana Torres de Lemos, Luís Henrique Telles da Rosa, Caren Luciane Bernardi, Gabriela Tomedi Leites, Felipe de Souza Stigger

Última alteração: 2022-02-08

Resumo


Apresentação: A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), publicada em 2001 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), reflete a necessidade de mudança de um paradigma baseado na doença e deficiências para um modelo que enfatize a funcionalidade como principal componente de saúde. Tal classificação permite observar o indivíduo a partir de um modelo biopsicossocial que considera as alterações em estruturas e funções corporais bem como o desempenho de suas atividades em ambiente individual e de participação social e a influência de fatores ambientais e pessoais. Em indivíduos com COVID longa, essa ferramenta permite entender não só as limitações e capacidades do indivíduo, como também as consequências adquiridas nas suas atividades diárias. A CIF fornece uma percepção ampla do processo de saúde/doença e colabora em uma melhor identificação de informações do sujeito, principalmente, no que se refere ao reconhecimento das atividades e participação destes em seu meio ocupacional ou de integração social, o que o que auxilia tanto nos procedimentos de avaliação, quanto na tomada de decisão clínica. Tradicionalmente a formação dos profissionais da saúde e sua práxis são pautadas no modelo biomédico, com foco na doença e nas funções orgânicas e pouco considera as implicações sociais. Apesar da CIF ser amplamente utilizada em pesquisas, a sua na formação na área da saúde ainda é um desafio, devido a sua complexidade. No entanto, dentro do contexto da Atenção Integralà Saúde tem sido considerada uma importante ferramenta pedagógica na formação centrada na pessoa e contextualizada com a realidade local, além de auxiliar na complexidade observada na avaliação e reabilitação de indivíduos com COVID longa. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo, cujaatividade foi realizada no período de março a novembro de 2021, no Centro de Reabilitação do IAPI, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Acadêmicos de quinto ano, devidamente matriculados, foram divididos em seis turmas de no máximo cinco alunos que fizeram rodízio (a cada seis semanas) ao longo das atividades do ano de 2021. Todos os acadêmicos ingressantes nas atividades de estágio em Fisioterapia Comunitária fizeram reconhecimento do espaço, além da familiarização e capacitação quanto a aplicação da CIFcomo classificação para a elaboração de um plano terapêutico abrangente, diante dos componentes de funcionalidade e incapacidade e dos contextos ambiental e pessoal. Os atendimentos foram realizados de segunda à quinta-feira, no período da tarde, entre 13h e 17h, recebendo usuários com COVID longa referenciados de Unidades de Saúde do município de Porto Alegre. Os atendimentos foram realizados pelo estagiário acompanhado de orientação direta pelo fisioterapeuta docente. Resultados: A vivência no estágio em Fisioterapia Comunitária permitiu que os alunos colocassem em prática os conhecimentos adquiridos ao longo da graduação, principalmente no que se refere à aplicaçãodo modelo biopsicossocial da CIF em pacientes com COVID longa.  A utilização do raciocínio clínico baseado na CIF possibilitou aos acadêmicos ampliar o olhar no cuidado centrado na pessoa, e não na doença ou nas sequelas, como proposto pelo modelo biomédico. Os acadêmicos identificaram que a CIF facilita o delineamento de objetivos comuns entre terapeutas e pacientes possibilitando o desenvolvimento de atendimentos com enfoque nas suas particularidades e com objetivos voltados para as demandas e contexto do usuário. Os atendimentos eram propostos com enfoque na participação, compreendendo os elementos da estrutura e função corporal que poderiam estar impactando a mesma. Além disso, foram considerados, no raciocínio clínico e na tomada de decisão, os fatores pessoais e fatores ambientais de cada paciente, pois se entende que esses fatores são fundamentais e que podem influenciar de maneira intrínseca e extrínseca a funcionalidade do indivíduo. Nesse contexto, os atendimentos desenvolvidos pelos alunos permitiram observar, na prática, que uma mesma condição de saúde desenvolveu quadros clínicos heterogênicos, ou seja, acometeram diferentes estruturas e funções corporais, como perda de memória, perda de força, perda de sensibilidade periférica, incontinência urinária, diminuição da capacidade cardiopulmonar. Em consideração aos elementos da participação, cada usuário apresentou restrição social específica; no entanto, no que se refere às limitações das atividades, um desejo em comum dos participantes era a limitação em atividades de vida diária (ex. mudar e manter a posição do corpo, auto transferências, transportar, mover e manusear objetos, andar e deslocar-se (principalmente distâncias longas), deslocar-se utilizando transporte, asituações de auto cuidados e vida doméstica). Os fatores ambientais apresentaram algumas particularidades em comum, como rede de apoio (apoio, relacionamentos e atitudes), sendo um fator facilitador semelhante; por outro lado, as barreiras semelhantes foram fatores socioeconômicos, como dificuldade de acesso aos serviços de saúde e deslocamento (serviços, sistemas e políticas). Já os fatores pessoais apresentaram como homogeneidade nas faixas etárias de 40 a 60 anos, diferentes níveis sociais e experiências da vida que, apesar de não serem classificados na CIF, auxiliam na aplicação da classificação. Considerações finais: A Fisioterapia tem um papel importante na reabilitação de pacientes com COVID longa, principalmente no contexto da Atenção Integral à Saúde. Nessa perspectivade atenção integral no Sistema Único de Saúde, formar profissionais capazes de ter um olhar atento não apenaspara a doença ou a disfunção, mas no indivíduo e seu contexto, é fundamental para atendimento humanizado e resolutivo, baseado no modelo biopsicossocial. A partir disso, a CIF é um instrumento importante no entendimento da funcionalidade, com uma proposta mais dinâmica e compatível com a complexidade do conceito de saúde atual e dentro do contexto decorrente da pandemia da COVID-19, servindo como ferramenta pedagógico para profissionais de saúdea fim dedesenvolver habilidades e competências para o atendimento centrado no indivíduo.